Graça Martins

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Maria das Graças Martins, 52. Graça. Gracinha. Ou simplesmente Grou. Nascida em Barbalha, região do Cariri, cresceu brincante na cultura popular, correndo e pulando em terra batida, riso frouxo e dança solta, e compartilhou sua alegria com o Grupo de Tradições Cearenses, anos a fio. Encontrou o Flamenco, castanholas em punho e salto nos pés, criou o Grupo Tablado. Dança contemporânea, de pouquinho tempo pra cá é que lhe ganhou atenção. Queria respirar novos ares, e entender um pouco dessa língua tão estranha, tão cheia de seriedade e gravidade, às vezes. Graça Martins é brincante na cultura popular, em Barbalha, integrou o Grupo de Tradições Cearenses. Encantada pelo Flamenco, criou o Grupo Tablado. Atualmente transita entre a dança popular e a dança contemporânea.
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'''Maria das Graças Martins''', 52. Graça. Gracinha. Ou simplesmente Grou. Nascida em Barbalha, região do Cariri, cresceu brincante na cultura popular, correndo e pulando em terra batida, riso frouxo e dança solta, e compartilhou sua alegria com o Grupo de Tradições Cearenses, anos a fio. Encontrou o Flamenco, castanholas em punho e salto nos pés, criou o Grupo Tablado. Dança contemporânea, de pouquinho tempo pra cá é que lhe ganhou atenção. Queria respirar novos ares, e entender um pouco dessa língua tão estranha, tão cheia de seriedade e gravidade, às vezes. Graça Martins é brincante na cultura popular, em Barbalha, integrou o Grupo de Tradições Cearenses. Encantada pelo Flamenco, criou o Grupo Tablado. Atualmente transita entre a dança popular e a dança contemporânea.
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Poucas pessoas são tão queridas na dança cearense quanto Graça Martins. Graça Martins é, sobretudo, uma artista popular. Ela é tão popular que não chama suas montagens de espetáculo, mas, sim, de show. Graça gosta de gente, gosta de festa, gosta de ritmo, gosta de movimento, gosta de palmas, gosta de brilho e gosta de cor. Nascida em Barbalha, aos 19 anos veio morar em Fortaleza e o amor a levou ao Grupo de Tradições Cearenses. Do folclore tido como nosso, sua cabeça inquieta foi parar na Espanha e, desde 1993, ela comanda o Grupo Tablado, especializado em dança flamenca.
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Ali, parece ter encontrado sua felicidade e sua vocação. Nesses últimos 18 anos, embora continue ainda dedicada às tradições populares do Ceará e do Nordeste, Graça Martins se assumiu e se exibiu como uma artista do flamenco. Isso é evidente. É algo dado. Não há como negar. No entanto, é justamente isso que não vê – ou demora demais a ver – a coreógrafa Andrea Bardawil, responsável por Graça/Evidência - Um de Percurso, produção desenvolvida como parte da última edição do projeto Rumos Dança, do Itaú Cultural, e um dos trabalhos mais comentados do ano nos palcos locais.
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Na ânsia por querer experimentar o diálogo entre códigos e ideias da dança contemporânea com a dança popular, Andrea Bardawil se apressa e se equivoca no entendimento que demonstra em cena ter das tradições populares. Ela cai na tentação recorrente de procurar distinguir algo que é autêntico, natural, de algo que é aprendido, incorporado. Andrea vê uma naturalidade na dança “popular” de Graça Martins que definitivamente não existe. Graça dança xote, coco e baião, sabe cantigas de roda e outras brincadeiras populares, não porque nasceu numa cidade do interior. Ela domina esses códigos porque se esforçou para isso, tanto quanto ou mais se esforçou para dançar e inventar o seu flamenco.
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Absolutamente documental, bem ao estilo do trabalho do coreógrafo francês Jérôme Bel, nome recorrente em boa parte dos principais festivais de dança do País, Graça/Evidência - Um de Percurso explora a história pessoal de Graça Martins, mas não consegue dar conta da complexidade de sua personagem-central. Representando o universo da chamada dança contemporânea, Andrea Bardawil exige de Graça uma série de experiências que, em cena, se tornam arrogantes e pretensiosas. Num trecho, Graça repete um fragmento de uma dança popular e diz que demorou muito tempo para entender que aquilo era uma partitura de movimento. Noutro momento, é cobrada pela coreógrafa a conquistar autonomia criativa.
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Entender, codificar e decodificar sua arte, seu movimento, está longe de ser uma preocupação pertinente para uma artista como Graça Martins. O melhor de tudo é que ela, Graça, sabe bem disso. “Eu já completei 25 anos duas vezes, estou com 55, e sei bem o que quero. Foi muito importante me aproximar do pensamento contemporâneo, vejo o corpo hoje com outros limites, mas não quero a dança do conceito. Ela não me diz nada. A dança contemporânea tem a pretensão de saber de tudo e isso coloca a gente no limiar da amargura. Não quero isso para mim, não quero essa prisão”, resumiu assim essa mais recente experiência de montagem.
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Longe de ser um espetáculo fraco do ponto de vista estético, Graça/Evidência - Um de Percurso é frágil naquilo que lhe fundamenta. Aplaudi, ao final, com a sensação de que vi mais Andrea Bardawil em cena, que propriamente Graça Martins. Não que isso seja ruim, mas faltou o equilíbrio que imaginei ter fomentado o processo criativo. Felizmente, a montagem se despede do público com uma Graça bem mais à vontade com ela mesma. De castanholas às mãos, de cara pintada e sapateando, com o vigor e o carisma que lhe são tão característicos. Intensa, Graça se despede na corda-bamba, como uma boa equilibrista, mas absolutamente consciente dos seus limites e do que precisa fazer para dominar a iminência da queda.

Edição de 14h02min de 15 de fevereiro de 2012

Maria das Graças Martins, 52. Graça. Gracinha. Ou simplesmente Grou. Nascida em Barbalha, região do Cariri, cresceu brincante na cultura popular, correndo e pulando em terra batida, riso frouxo e dança solta, e compartilhou sua alegria com o Grupo de Tradições Cearenses, anos a fio. Encontrou o Flamenco, castanholas em punho e salto nos pés, criou o Grupo Tablado. Dança contemporânea, de pouquinho tempo pra cá é que lhe ganhou atenção. Queria respirar novos ares, e entender um pouco dessa língua tão estranha, tão cheia de seriedade e gravidade, às vezes. Graça Martins é brincante na cultura popular, em Barbalha, integrou o Grupo de Tradições Cearenses. Encantada pelo Flamenco, criou o Grupo Tablado. Atualmente transita entre a dança popular e a dança contemporânea. Poucas pessoas são tão queridas na dança cearense quanto Graça Martins. Graça Martins é, sobretudo, uma artista popular. Ela é tão popular que não chama suas montagens de espetáculo, mas, sim, de show. Graça gosta de gente, gosta de festa, gosta de ritmo, gosta de movimento, gosta de palmas, gosta de brilho e gosta de cor. Nascida em Barbalha, aos 19 anos veio morar em Fortaleza e o amor a levou ao Grupo de Tradições Cearenses. Do folclore tido como nosso, sua cabeça inquieta foi parar na Espanha e, desde 1993, ela comanda o Grupo Tablado, especializado em dança flamenca.


Ali, parece ter encontrado sua felicidade e sua vocação. Nesses últimos 18 anos, embora continue ainda dedicada às tradições populares do Ceará e do Nordeste, Graça Martins se assumiu e se exibiu como uma artista do flamenco. Isso é evidente. É algo dado. Não há como negar. No entanto, é justamente isso que não vê – ou demora demais a ver – a coreógrafa Andrea Bardawil, responsável por Graça/Evidência - Um de Percurso, produção desenvolvida como parte da última edição do projeto Rumos Dança, do Itaú Cultural, e um dos trabalhos mais comentados do ano nos palcos locais.


Na ânsia por querer experimentar o diálogo entre códigos e ideias da dança contemporânea com a dança popular, Andrea Bardawil se apressa e se equivoca no entendimento que demonstra em cena ter das tradições populares. Ela cai na tentação recorrente de procurar distinguir algo que é autêntico, natural, de algo que é aprendido, incorporado. Andrea vê uma naturalidade na dança “popular” de Graça Martins que definitivamente não existe. Graça dança xote, coco e baião, sabe cantigas de roda e outras brincadeiras populares, não porque nasceu numa cidade do interior. Ela domina esses códigos porque se esforçou para isso, tanto quanto ou mais se esforçou para dançar e inventar o seu flamenco.


Absolutamente documental, bem ao estilo do trabalho do coreógrafo francês Jérôme Bel, nome recorrente em boa parte dos principais festivais de dança do País, Graça/Evidência - Um de Percurso explora a história pessoal de Graça Martins, mas não consegue dar conta da complexidade de sua personagem-central. Representando o universo da chamada dança contemporânea, Andrea Bardawil exige de Graça uma série de experiências que, em cena, se tornam arrogantes e pretensiosas. Num trecho, Graça repete um fragmento de uma dança popular e diz que demorou muito tempo para entender que aquilo era uma partitura de movimento. Noutro momento, é cobrada pela coreógrafa a conquistar autonomia criativa.


Entender, codificar e decodificar sua arte, seu movimento, está longe de ser uma preocupação pertinente para uma artista como Graça Martins. O melhor de tudo é que ela, Graça, sabe bem disso. “Eu já completei 25 anos duas vezes, estou com 55, e sei bem o que quero. Foi muito importante me aproximar do pensamento contemporâneo, vejo o corpo hoje com outros limites, mas não quero a dança do conceito. Ela não me diz nada. A dança contemporânea tem a pretensão de saber de tudo e isso coloca a gente no limiar da amargura. Não quero isso para mim, não quero essa prisão”, resumiu assim essa mais recente experiência de montagem.


Longe de ser um espetáculo fraco do ponto de vista estético, Graça/Evidência - Um de Percurso é frágil naquilo que lhe fundamenta. Aplaudi, ao final, com a sensação de que vi mais Andrea Bardawil em cena, que propriamente Graça Martins. Não que isso seja ruim, mas faltou o equilíbrio que imaginei ter fomentado o processo criativo. Felizmente, a montagem se despede do público com uma Graça bem mais à vontade com ela mesma. De castanholas às mãos, de cara pintada e sapateando, com o vigor e o carisma que lhe são tão característicos. Intensa, Graça se despede na corda-bamba, como uma boa equilibrista, mas absolutamente consciente dos seus limites e do que precisa fazer para dominar a iminência da queda.

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