Grupo Corpo
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Edição atual tal como 20h31min de 24 de janeiro de 2012
Breve Histórico
O Lugar do Corpo
Texto Inês Bogéa
Fundado em Belo Horizonte, em 1975, o Grupo Corpo é uma companhia de dança contemporânea, eminentemente brasileira em suas criações. Sua carreira vem sendo marcada por sucessivas metamorfoses, mas sempre norteada por três preocupações: a definição de uma identidade, vinculada a uma idéia de cultura nacional (com toda a fluidez que isso implica); a continuidade do trabalho, pensado a longo prazo; e a integridade na sustentação de padrões autoimpostos de elaboração.
Seu primeiro espetáculo, Maria Maria, foi um recorde de produção local: percorreu 14 países e foi dançado no Brasil desde 1976 até 1982. Coreografado pelo argentino Oscar Arraiz, Maria Maria teve música de Milton Nascimento e roteiros de seu letrista Fernando Brant. O Último Trem, também de Arraiz, consolida a primeira fase do Grupo Corpo, acentuada por uma visão particular de dança brasileira.
A fundação do Grupo ocorreu por iniciativa de Paulo Pederneiras, que trouxe para a empreitada seus cinco irmãos e mais alguns amigos. Seus pais cederam a casa onde moravam para ser a sede do Corpo. Paulo Pederneiras, diretor geral, viria depois a assumir também a iluminação dos espetáculos; Rodrigo Pederneiras, que inicia como bailarino, será o coreógrafo de praticamente todos os trabalhos do Corpo a partir de 1981. Dos demais fundadores do Grupo vários permanecem até hoje: Pedro Pederneiras, Carmen Purri, Miriam Pederneiras e Cristina Castilho.
Rodrigo faz sua primeira coreografia para o Grupo Corpo, Cantares, entre Maria Maria e Último Trem. Cinco outras podem ser listadas num primeiro conjunto: Tríptico e Interânea (1981), Noturno e Reflexos (1982) e Sonata (1984). Cantares é de 1978, ano em que a nova sede do Corpo é inaugurada e Emilio Kalil junta-se ao Grupo, onde assumirá mais tarde, por alguns anos, a co-direção com Paulo.
Construção de uma linguagem
O primeiro grande sucesso de Rodrigo como coreógrafo seria Prelúdios, de 1985, com música de Chopin. Esse espetáculo deixa claro seu forte sentido musical: a partitura vai sendo traduzida por peças que se encadeiam, assim como pelas frases entretramadas; e os deslocamentos dos bailarinos vão desenhando o espaço de um modo novo, segundo princípios da música.
Tanto o palco como os figurinos, em Prelúdios, são de tons azulados. Sua função é muito mais do que acessória, ou decorativa. Desde então, em todos os trabalhos do Corpo, cada elemento – cenário, figurino, luz -- tem parte ativa, ajudando a compor espetáculos complexos, onde várias artes multiplicam suas virtudes umas pelas outras.
As coreografias seguintes – Bachiana e Carlos Gomes/Sonata (1986), Canções, Duo e Pas du Pont (1987), Schumann Ballet, Rapsódia e Uakti (1988) – acentuam a maneira característica de Rodrigo construir um desenho espacial. Sua produção de meados da década de 80 está fortemente ligada à técnica clássica, com elementos da dança contemporânea.
Nas coreografias que vão de Prelúdios até 21 (marco de uma outra fase), Rodrigo vai testando seu domínio de estruturas e deslocamentos. A técnica do balé clássico, que é a base de seus trabalhos, vai sendo quebrada por movimentos do folclore e das danças de rua. O Corpo começa a trazer para o palco certa maneira particular do brasileiro se mover.
Em 1988, em caráter extraordinário, a coreógrafa alemã Suzanne Linke foi convidada para montar um espetáculo para a companhia, Mulheres.
Desde 1989 até 1999, foi a Shell o principal patrocinador do Grupo.
Uma parceria que definiu não só uma considerável estabilidade financeira, mas permitiu que a companhia assumisse ambições mais plenas. A dimensão quase operística das produções do Corpo, no sentido de uma colaboração estreita entre as artes, só foi possível nessas condições. Um núcleo criativo trabalha em conjunto, desde então: Paulo Pederneiras, Fernando Velloso, Freusa Zechmeister e Rodrigo Pederneiras. A partir de 1992, compositores são convidados a escrever trilhas especialmente para cada balé. Música, cenário, figurino e coreografia vão sendo construídos simultaneamente. Cada espetáculo é o resultado dessa interação.
A parceria incentivou, também, o reconhecimento mundial do Corpo, que hoje faz temporadas anuais em países da Europa e das Américas. Vários outros parceiros, públicos e privados, patrocinariam o Grupo em alguma medida, ao longo dos anos.
Várias Artes
Missa do Orfanato (1989), com música de Mozart, é um trabalho especialmente marcante. Rodrigo molda os corpos, retorcendo, encurvando e ampliando os movimentos. Os gestos recompõem plasticamente as melodias e traduzem para o que tem peso e volume a liturgia mais abstrata da música. Figurinos com características individuais trazem para a cena indivíduos presos ao chão e envoltos num gigantesco painel terroso, onde a luz dá sustentação ao caráter solene e impactante da coreografia.
No ano seguinte, o Corpo estréia A Criação, baseada no oratório de Joseph Haydn. Essa peça adota (o que é raro) um roteiro pré-existente (que vem da Bíblia); e destaca-se pela introdução de ironia e humor. Três Concertos (1991), com música do compositor barroco Telemann, e Variações Enigma, inspirada na partitura sinfônica de Edward Elgar, darão continuidade a essa vertente.
Reduzindo as multiplicidades dessa dança a uma questão central, pode-se dizer que se trata, afinal, de inventar uma linguagem nova – uma linguagem que leve em conta a mobilidade concreta dos corpos e a construção de uma nova dimensão do espaço do palco.
O próximo espetáculo, 21 (1992), será consagrado como um marco não só para a carreira do Corpo no Brasil, mas também para a definição internacional de certo estilo “brasileiro” de conceber a dança. A música, composta por Marco Antônio Guimarães e interpretada pelo Uakti, articula-se ritmicamente em permutações e divisões do número 21.
Neste balé a luz, de Paulo, tem função fundamental. Na primeira parte, por exemplo, gestos simples se tornam espetaculares pela criação de cenas onde é a luz que desenha o espaço. Cada vez mais fica clara a associação dos criadores do Grupo.
Em Nazareth (1993), Rodrigo chega a um vocabulário próprio, com bases que vão desde a tradição clássica até a dança popular. A maior parte dos gestos nasce de um arqueamento dos passos clássicos, que ganham outras linhas e outro caráter, a partir de manobras variadas de amplificação e torção. “Alta” e “baixa” cultura mesclam-se na música de Ernesto Nazareth, na literatura de Machado de Assis, e refiguram-se mais uma vez na partitura de José Miguel Wisnik, que se transfigura em dança. Do cenário de Fernando Velloso ao figurino de Freusa, os gestos se multiplicam em movimentos circulares dos corpos dos bailarinos.
Em Sete ou Oito peças para um Ballet (1994), com música minimalista de Philip Glass (arranjada por Marco Antonio Guimarães), a dança de Rodrigo viaja para dentro da tela de um computador. Tudo verde: cenário, piso, até por vezes os figurinos. Bailarinos cruzam esse palco-tela, em linhas que se estendem retas de um lado a outro. De súbito, algo ou alguém dispara, rompendo a regularidade e animando a geometria plana com um movimento de muitas dimensões.
Celebrando os seus vinte anos de fundação em 1995, o Corpo apresentou uma retrospectiva, com Prelúdios, Missa do Orfanato, Variações Enigma, 21, Nazareth e Sete ou Oito Peças para um Ballet. Ocasião em que passa a ser companhia residente na Maison de La Danse, em Lyon, na França (até 1999).
1996-2000
Sua próxima criação, Bach (1996) estréia em Lyon. A música de Marco Antônio Guimarães é uma suíte de peças diversas de Bach, em arranjos mais ou menos livres. A coreografia de Rodrigo, aqui, dialoga como nunca com o espaço. O cenário, uma colaboração de Fernando Velloso e Paulo Pederneiras, assume um papel muito ativo no espetáculo. Por exemplo: no início os bailarinos caem em cena do alto, deslizando por tubos de alumínio; num outro momento, um painel negro vai descendo e escondendo gradualmente o corpo dos bailarinos.
A coreografia seguinte, Parabelo (1997), traz a marca do Nordeste. Mal se vê, a princípio, no lusco-fusco, os bailarinos. Os corpos se movem pesados, marcando tempo. Cinco enormes cabeças, no fundo preto do palco, sugerem mundos desconhecidos, sem serem desfamiliares -- regiões de religião fervorosa, lavoura difícil, estoicismo. As células musicais de Tom Zé e José Miguel Wisnik recriam a música do sertão baiano, universalizado neste Grande Sertão. O que vem da dança popular traz uma energia bruta para os movimentos. A dança se desafoga, junto com a música, e uma alegria incontida toma conta de tudo.
Benguelê é de 1998. Gestos e seqüências que vinham pontuando as últimas obras aparecem aqui mais diluídos, integrados a um patrimônio arcaico de gestos (da capoeira, por exemplo, ou de dança de festa de São João). Mas o esforço de Rodrigo é recriar sua dança dentro da outra. Assim como João Bosco acomoda na sua trilha, música árabe e Debussy. E o cenário, junto com a luz, cria um outro plano. Com a inclusão de uma passarela, os planos se multiplicam; e uma caminhada “infinita” dos corpos traduz a dança para um espaço que não é mais da cena – é da nossa imaginação.
A partir de 2000 a Petrobras passa a ser a principal financiadora do Grupo, dando continuidade ao trabalho na mesma escala. O início desse patrocínio marca o que deverá ser outro ciclo da companhia. Um novo balé, O Corpo, mostra-se bem distante dos arquétipos profundos do interior brasileiro. O “popular” agora é outro e o resultado não poderia ser mais diferente.
O Corpo (2000) é um balé sem nostalgias, num presente um pouco à frente de nós. A coreografia traz uma nova expressão direta, nas violências dos gestos reagindo às concretudes da letra e da música de Arnaldo Antunes. Traz, também uma circulação de sentido entre os elementos que compõem o espetáculo: o cenário vira luz e o figurino vira cenário. O Corpo suscita várias inovações no vocabulário do coreógrafo. Em particular, o arqueamento dos corpos e um interesse pelo chão.
Santagustin (2002), com música de Tom Zé e Gilberto Assis, suscita novos ares para a dança do Corpo, com seus coros das "mulheres pragmáticas", "inconformadas" e "gozadoras", dos "homens-fêmeas", "sedutores egoístas" etc. Amor e humor, melodia e malícia, ardor e sensualidade. A paixão invade abertamente a cena, que une homens e mulheres em todas as combinações. O cenário de Paulo Pederneiras e Fernando Velloso – um gigantesco coração de pelúcia -- enche o palco com o que há de mais kitsch e ao mesmo tempo mais desabusado. Os figurinos de Ronaldo Fraga, verde e rosa, singularizam cada bailarino com os detalhes da roupa. Se antes os grupos riscavam o palco em desenhos geométricos (e deles se desprendia alguém, para depois voltar a integrar o conjunto), a tensão agora está nos duos: um corpo se une e se contrapõe a outro. Santagustin se volta para o mundo das pulsões, quer dizer, para o espaço mais íntimo e ao mesmo tempo mais conhecido de todos nós. São pequenas tragédias, com acentos de grande comédia.
Identidade e renovação
Vistos agora, de trás para frente, fica claro como um balé leva a outro, mas também como o outro reinventa o anterior. E o que este tipo de reinterpretação demonstra é que o Corpo já não é só o nome de uma companhia, mas de um repertório, quase uma tradição.
Manter viva essa tradição é a tarefa que a companhia se impõe. Sua identidade se renova exatamente ao ser capaz de mudar. O que garante a sua continuidade é a idéia do que pode ser uma dança brasileira - como representação e, ao mesmo tempo, um desafio para nossa idéia de nós mesmos.
Proposta investigativa
As investigações do movimento e as possibilidades infinitas das relações entre dança e música caracterizam a pesquisa do coreógrafo Rodrigo Pederneiras. O Grupo Corpo tem uma estrutura de funcionamento constituída por um núcleo de criadores que trabalham juntos há décadas, e, em geral, convidam músicos distintos para a composição das trilhas sonoras dos seus espetáculos.
"Olhando para trás, nesses 30 anos à frente das coreografias do Grupo Corpo, uma das coisas mais bacanas que conseguimos consolidar dentro da companhia foi a nossa estrutura de funcionamento. [...] Claro que sei, sem falta modéstia, que iniciei um tipo de linha coreográfica diferente. Uma forma de dançar que, até então, ninguém fazia. Quando comecei ou era muito baseado no clássico ou no descritivo. Busquei outro tipo de veia. A dança, por mais que se tente descrever não dá: é um mundo abstrato." (REIS, 2008, p. 162)
A Técnica clássica e o ensaio dos repertórios da companhia estão na base de treinamento do Grupo.
Fundadores
Carmen Purri
Cristina Castilho
Déa de Souza
Denise Stutz
Fernando de Castro
Hugo Travers
Izabel Costa
Miriam Pederneiras
Paulo Pederneiras
Pedro Pederneiras
Rodrigo Pederneiras
Trabalhos realizados
Sem Mim
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 2011
A mais recente criação do coreógrafo Rodrigo Pederneiras prima pelo vigor corporal, com movimentos bruscos e rentes ao chão, e envolve o público nas ondulações do mar e na atmosfera da Idade Média.
A trilha sonora traz sete “canções de amigo” do compositor Martín Codax, datadas de meados do século XIII e XIV. Em 2008, o galego Carlos Nuñes apresentou a íntegra das composições de Codax ao brasileiro José Miguel Wisnik, e os dois se juntaram para compor a trilha. Como as 15 canções duram apenas 15 minutos, elas foram agregadas a versões de temas populares do cancioneiro galego, português e brasileiro. O espetáculo ainda conta com cantigas interpretadas por Milton Nascimento, Chico Buarque, Ná Ozzetti, entre outros artistas.
Além da coreografia baseada em movimentos mais soltos e ondulados, “Sem mim” apresenta um diálogo com outras obras do Grupo Corpo, como “Bach”, “Nazareth”, “Benguelê” e “21”. Para completar essa incursão à Era Medieval, a arquiteta Freusa Zechmeister, responsável pelo figurino, pesquisou ornamentos da época e chegou ao conceito da malha tatuada que cobre o corpo dos bailarinos[1].
Textos Idança Sobre 'Sem mim', do Grupo Corpo
Reportagem: Coreógrafo do Grupo Corpo fala sobre novo balé, em cartaz em SP
Assista - Trecho em vídeo desse espetáculo
Ímã
Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2009
Música: Moreno Veloso, Domenico Lancelotti e Kassin
Mais leve e romântico, “realmente mais pra cima, pra tirar os bailarinos do chão”, segundo Rodrigo Pederneiras.
A trilha alegre, solar, alto astral composta pelo trio tem muitos metais, percussão, passando por diversos gêneros musicais. Acostumados a imprimir a característica individual de cada um aos seus trabalhos coletivos, os músicos propuseram um desafio para o coreógrafo ao criarem a trilha. Diz Rodrigo: “É impressionante a facilidade com que eles passam pelos gêneros e ritmos. Essa variedade me leva a procurar criar uma unidade para a diversidade proposta”[2].
Reportagem: Grupo Corpo apresenta coreografia "Ímã"
Assista - Trecho em vídeo desse espetáculo
Reportagem: Espetáculo "Ímã" aponta novos caminhos para Grupo Corpo
Breu
Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2007
Música: Lenine
Figurino: Freusa Zechmeister
Cenografia e Iluminação: Paulo Pederneiras
Tradução poética da violência e da barbárie dos dias que vivemos, Breu, balé que o Grupo Corpo estreou em 2007, é a mais demolidora partitura de movimentos escrita por Rodrigo Pederneiras em 30 anos de atividade como coreógrafo da companhia mineira de dança. Para expressar em movimentos a densa e lancinante trilha sonora criada por Lenine, coreógrafo e bailarinos precisaram deixar de lado a sensualidade, o lirismo, a alegria e a brejeirice que, desde 1992, caracterizam o trabalho do grupo e partir para formulação de novos códigos de movimento. Desta vez, a potência, a angulosidade e a rispidez dão o tom do balé. A brusquidez das quedas e uma penosa morosidade nas subidas parecem condenar os corpos a se reter por mais tempo ao rés chão e, desta forma, a mover-se com o auxílio da pélvis, dos pulsos, dos cotovelos, dos joelhos, dos tornozelos, dos calcanhares. Para se manter de pé ou ficar por cima, é preciso ignorar o outro e encará-lo como inimigo. O individualismo, o triunfo a qualquer preço e a disposição para o confronto como estratégia apriorística de sobrevivência parecem reger a movimentação dos bailarinos no decorrer dos quarenta minutos de espetáculo.
À música original Lenine combina uma vasta gama de timbres, samplers, efeitos, citações e estilos, na construção de uma instigante babel sonora, concebida como uma peça única, de oito movimentos, que vão do hard rock à tradição de gêneros populares brasileiros. Paulo Pederneiras emoldura o espaço cênico com grandes placas negras e brilhantes, dispostas lado a lado com precisão geométrica, remetendo à frieza própria das superfícies azulejadas. De malhas inteiriças e todo em preto e branco, os figurinos criados por Freusa Zechmeister dividem ao meio o corpo dos bailarinos: enquanto na região frontal têm preponderância as estampas geométricas variadas, as costas ganham, de alto a baixo, um negro intenso e brilhante. Sob a incidência da luz, o brilho das malhas ressalta as saliências e concavidades das formas, fazendo com que, aqui e ali e por frações de segundo, os bailarinos se misturem ao cenário, emprestando volume e sinuosidade à sua estética retilínea e bidimensional[3].
Assista - Trecho em vídeo desse espetáculo
Onqotô
Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2005
Música: Caetano Veloso e José Miguel Wisnik
Figurino: Freusa Zechmeister
Cenografia e Iluminação: Paulo Pederneiras
A perplexidade e a inexorável pequeneza do Homem diante da vastidão do Universo é o tema central de Onqotô, balé que, em 2005, marcou as comemorações dos 30 anos de atividade do Grupo Corpo. Assinada por Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, a trilha sonora tem como ponto de partida uma bem-humorada discussão sobre a "paternidade" do Universo. De um lado, estaria a teoria do Big-Bang, a grande explosão primordial, cuja expressão consagrada pela comunidade científica mundial parece atribuir à cultura anglo-saxônica dominante a criação do Universo; e, de outro, uma máxima espirituosa formulada pelo genial dramaturgo (e comentarista esportivo) Nelson Rodrigues sobre o clássico maior do futebol carioca, segundo a qual se poderia inferir que o Cosmos teria sido "concebido" sob o signo indelével da brasilidade: "O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada".
Instrumentais ou com letra, os nove temas que compõem os 42 minutos de trilha estabelecem uma sucessão de diálogos rítmicos, melódicos e poéticos em torno das "cenas de origem" eleitas por seus criadores e do sentimento de desamparo inerente à condição humana.
Na coreografia criada por Rodrigo Pederneiras, verticalidade e horizontalidade, caos e ordenação, brusquidez e brandura, volume e escassez se contrapõem e se superpõem, em consonância (e, eventualmente, em dissonância) com a trilha musical, desvelando significados, melodias e ritmos que subjazem ao estímulo sonoro.
Urdida com tiras de borracha cor de grafite, a cenografia de Paulo Pederneiras funda um espaço cênico côncavo que sugere tanto um recorte do globo terrestre com seus meridianos quanto um oco, um buraco negro, o nada ou a anterioridade de tudo. Com todos os refletores fixados na estrutura metálica que sustenta a fileira de tiras, a luz projetada por Paulo Pederneiras imprime na cena uma iluminação que remete à dos estádios de futebol.
A figurinista Freusa Zechmeister transforma os bailarinos em uma massa anônima que se funde (e se confunde) com o espaço cênico, permitindo deste modo que coreografia e cenário exerçam plenamente sua tridimensionalidade.
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Lecuona
Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2004
Música: Ernesto Lecuona
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Paulo Pederneiras
Iluminação: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso
Amores ardentes, vorazes volúpias, ciúmes nefastos, corações partidos, saudades brutais, desprezo, rancor, indiferença... Com letras que beiram o kitsch e as construções melódicas estonteantemente belas, o romantismo rasgado das canções de Ernesto Lecuona (1895-1963) havia capturado o coração bailarino do coreógrafo Rodrigo Pederneiras em meados dos anos 80. Duas décadas depois, em 2004, o Grupo Corpo rendia-se à genialidade do maior ícone da música cubana de todos os tempos e decidia abrir uma exceção à regra estabelecida em 1992 de só trabalhar com trilhas especialmente compostas para colocar em cena o balé que leva seu nome: Lecuona.
Uma vertiginosa sequência de 38 minutos de pas-de-deux e uma única formação de grupo, criadas por Rodrigo Pederneiras sobre doze doridas canções de amor e uma valsa do célebre autor de Siboney emprestam a Lecuona um caráter absolutamente singular e diferenciado das demais criações do grupo. Esbanjando sensualidade, a tradução visual e cênica das canções de Ernesto Lecuona ganha com cada casal de protagonistas a sua própria cor. O cenário de luz criado por Paulo Pederneiras em parceria com Fernando Velloso delimita o espaço cênico através de cubos luminosos monocromáticos, que se deslocam na "caixa-preta" conforme o vai e vem da dança do par romântico da vez. Dominadores, os rapazes entram em cena sobre sapatos sociais de verniz, envergando camisas, camisetas ou regatas e calças de cós, em diferentes matizes de preto. Em vestidos vaporosos, com fendas e decotes variados, as fogosas damas de Lecuona sobem em saltos de 4,5 a 9 cm e colorem-se, dos pés à cabeça, com uma única cor, de tom invariavelmente quente, que dialoga com a matiz de luz definida para acompanhar o casal. Nos pouco mais de dois minutos da valsa final, um gigantesco cubo de espelhos interpõe-se à cena, e, dentro dele, seis pares de bailarinos (elas, agora, portando longos e esvoaçantes vestidos brancos) multiplicam-se no jogo de espelhos, transformando o número de encerramento em um grande e luminoso baile de tempos que não voltam mais.
Assista - Trecho em vídeo desse espetáculo
Trilha Sonora desse espetáculo
Santagustin
Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2002
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Cenografia: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso
Figurino: Ronaldo Fraga
Iluminação: Paulo Pederneiras
A capitulação às tentações da luxúria versus o combate ferrenho e intransigente aos prazeres da carne. A tensão entre os dois extremos que marcaram a existência terrena do filósofo e religioso Aurélio Agostinho (¶ 354 - V 430), o Santo Agostinho do panteão católico, serviu como ponto de partida para o compositor Tom Zé criar a música original do balé do GRUPO CORPO – Santagustin, de 2002.
O atrito produzido pelo confronto entre forças contrárias interessou a Rodrigo Pederneiras, que adotou como tema central para sua construção coreográfica o Amor, com todas as contradições que ele encerra, sua sublimidade e seu ridículo. O resultado é uma obra carregada de humor e erotismo, que contrapõe atração e repulsa, fragilidade e fortaleza, prazer e comiseração, brusquidez e delicadeza, sinuosidade e angulosidade, consonância e dissonância, acústico e eletrônico, numa sucessão vertiginosa de pas-de-deux, solitários ou em grupo.
O balé marca o início da colaboração entre o grupo mineiro de dança e o estilista Ronaldo Fraga, que encontra na convivência entre o verde cítrico e o rosa-shocking uma síntese cromática para todo esse rosário de contrastes, enquanto Paulo Pederneiras coloca no centro da cena um gigantesco coração de pelúcia, de cinco metros de altura, tradução cenográfica da índole hiperbólica do mais cultivado dos sentimentos humanos.
Trilha Sonora desse espetáculo
Assista - Trecho em vídeo desse espetáculo
O Corpo
Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2000
Música: Arnaldo Antunes
Figurinos: Freusa Zechmeister e Fernando Velloso
Cenografia e Iluminação: Paulo Pederneiras
Tematizando o imaginário urbano, a coreografia de Rodrigo Pederneiras dialoga inovadoramente com a trilha eletrônica de Arnaldo Antunes.
No ritmo acelerado dos movimentos, na violência dos gestos, nas quebras das linhas e no arqueamento dos corpos que buscam se mover rente ao chão, Rodrigo Pederneiras desenvolve novas características para essa dança, que vai da malemolência ao robótico.
"O corpo é suficientemente opaco / para que se possa vê-lo".
Esse corpo dança banhado na luz-cenário de Paulo Pederneiras, um quadrado de spots vibrando com a música como um gigantesco analisador de espectro.
O Corpo transforma o cenário em luz e os figurinos em cenários móveis: são esculturas pretas que dançam numa caixa vermelha. Os corpos ganham novos volumes pelo desenho das roupas de Freusa Zechmeister e Fernando Velloso. Formam uma gangue, ou tribo; mas suas individualidades são acentuadas pelo movimento e pelo inusitado dos figurinos. As frases de Arnaldo Antunes ganham corpo na dança; e a dança dá novo viés à trajetória do Grupo. Na soma de gestos, som e luz, O Corpo concentra, com novos acentos, a essência brasileira do Grupo Corpo.
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Trilha sonora desse espetáculo
Benguelê
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano:1998
Música: João Bosco
Cenografia: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras
Benguelê é uma exaltação ao passado africano e às suas marcantes e profundas raízes na cultura brasileira. Riscando do palco, sem nenhum pudor, qualquer vestígio da técnica clássica - que, no entanto, presente na formação dos bailarinos, dá suporte à complexa coreografia - o coreógrafo evoca, do início ao fim, ritmos afro-brasileiros como o maracatu, o candomblé e o congado. Anarquia e frenesi substituem a simetria e a ordem dos bailarinos em cena. Pas-de-deux e fouettés dão lugar a batidas de pé, remelexos de quadril, ombros e pélvis. A diversidade rítmica ganha vida ao som da música inspirada do compositor, cantor e violonista João Bosco. São onze temas - especialmente criados como a música-tema Benguelê, ou recriados como o chorinho 1x0 de Pixinguinha, ou Tarantá e Carreiro Bebe, do folclore. Ora festivos, ora ritualísticos, os movimentos sugerem danças tribais, onde a representação de figuras humanas, vergadas pelo tempo, ou animalizadas, pontuam o espetáculo.
Assista - Trecho em vídeo desse espetáculo
Trilha Sonora desse espetáculo
Parabelo
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1997
Música: Tom Zé e Zé Miguel Wisnik
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras
Escrever na língua nativa a palavra balé (assim, com um ele só e acento agudo) tem sido a busca consciente e obstinada de Rodrigo Pederneiras desde o antológico 21, de 1992. A inspiração sertaneja e a transpiração pra lá de contemporânea da trilha composta por Tom Zé e José Miguel Wisnik para Parabelo, de 1997, permitiram ao coreógrafo do Grupo Corpo dar vida àquela que ele mesmo define como a "a mais brasileira e regional" de suas criações.
De cantos de trabalho e devoção, da memória cadenciada do baião e de um exuberante e onipresente emaranhado de pontos e contrapontos rítmicos, emerge uma escritura coreográfica que esbanja jogo de cintura e marcação de pé, numa arrebatadora afirmação da maturidade e da força expressiva da gramática construída ao longo de anos pelo arquiteto de Missa do Orfanato e Sete ou Oito Peças para um Ballet.
A estética dos ex-votos de igrejas interioranas inspira Fernando Velloso e Paulo Pederneiras na composição dos dois painéis, de 15m x 8m, que dão sustentação cenográfica ao espetáculo.
Com a intensidade das cores velada por um tule negro e revelada somente no espaço exíguo e imperativo das sapatilhas, a figurinista Freusa Zechmeister cria o jogo de luz e sombra que veste os bailarinos na primeira parte de Parabelo, enquanto na reta final e explosiva do balé as malhas se libertam do véu, alardeando a temperatura jubilosa e alta de suas cores.
Assista - Trecho em vídeo desse espetáculo
Trilha sonora desse espetáculo
Bach
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Direção artística: Paulo Pederneiras
Ano: 1996
Música: Marco Antônio Guimarães (sobre a obra de J. S. Bach)
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras
Um Bach mais que barroco. Mineiro. De um azul intenso. E grafite. E dourado. Como as igrejas do ciclo do ouro, nas antigas Geraes - talhadas pelo gênio de Aleijadinho. Um Bach divinamente profanado. Que despenca de súbito dos céus para outra vez ascender às alturas. Um Bach que cantata, mas que também ciranda.
Vigésima sexta coreografia na cronologia da companhia mineira de dança, Bach estreou mundialmente em setembro de 1996 na tradicional Bienal da Dança de Lyon, arrancando dez minutos ininterruptos de aplausos.
Clássico, contemporâneo, universal, interiorano, divino, profano, solene, malemolente, Bach brota de uma criação livre e iluminada do músico Marco Antônio Guimarães, do Uakti, em torno da obra do maior compositor de todos os tempos. Bach, a primeira produção do Grupo Corpo como companhia residente da Maison de La Danse, de Lyon - condição que ocupou por três anos consecutivos[4].
Um jogo entre o que se ouve e o que se vê, onde o barroco de Bach e o barroco de Minas Gerais, no Brasil, se realizam como dança. A coreografia aspira ao que está acima, e a música, ao que está dentro das partituras de Bach e que Marco Antônio Guimarães, o compositor, nos ajuda a descobrir.
Entre azuis, dourados e escuros, uma dança que celebra a arquitetura da vida: fluxo contínuo de onde emergem construções cinéticas surpreendentes.
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Trilha Sonora desse espetáculo
Sete ou Oito Peças para um Ballet
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1994
Música: Philio Glass - Uakti
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras
A partir de oito temas surgidos da parceria inédita entre o instrumentista e compositor norte-americano Philip Glass e o grupo instrumental mineiro Uakti, o coreógrafo Rodrigo Pederneiras desvencilha-se, pela primeira vez, do rigor formal que marca suas criações para construir uma obra despojada, onde a partitura de movimentos emerge como uma série de esboços, apontamentos ou estudos para uma coreografia. Inacabados, na aparência. Mas irretocáveis, pela genialidade da forma. Como em uma pintura contemporânea, onde as correções podem ser incorporadas ao resultado final, os movimentos dos bailarinos do Grupo Corpo sucedem-se em variações que vão da estética "suja" própria dos ensaios a um primoroso acabamento formal. Nesse sentido, 7 ou 8 Peças para um Ballet, que teve sua estréia em 1994, propõe mais do que vaticina. O componente obsessivo, frio e exato dos temas especialmente criados para o balé pelo ícone maior da música minimalista norte-americana, leva Pederneiras a orquestrar repetições de movimentos que beiram o automatismo, executados, no mais das vezes, em solo, em contraposição a movimentos orgânicos de grupo, carregados da sensual latinidade intrínseca à sonoridade única produzida pelo Uakti. O cenário de Fernando Velloso e os figurinos de Freusa Zechmeister buscam nos primórdios da corrente minimalista da pintura americana a inspiração para as listras em verde, azul e tons de amarelo que dão identidade visual ao espetáculo, enquanto o branco reina absoluto na iluminação de Paulo Pederneiras.
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Trilha sonora desse espetáculo
Narazeth
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1993
Música: Miguel Wisnik (sobre a obra de Ernesto Nazareth)
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras
Homenagem, em música e movimento, ao mais erudito dos compositores populares brasileiros, Ernesto Nazareth (1863-1934), o balé Nazareth, de 1993, transporta para o palco, com insuspeitado requinte, a sensualidade e a brejeirice da dança brasileira de salão. Com base na obra do genial criador do "tango brasileiro", o compositor e escritor paulista José Miguel Wisnik recorre ao conceito de espelhamento melódico para operar movimentos retrógrados que, induzidos por computador, desvendam surpreendentes e cristalinas construções musicais, numa recriação absolutamente autoral, original e contemporânea da obra de Nazareth. São comentários, citações, variações, que, bebendo sempre da mesma fonte, terminam por desaguar em outros braços de mar. O erudito e o popular se encontram e se confundem também na transcriação cinética e visual do gênio de Ernesto Nazareth (1863-1934) pela equipe de criadores do Grupo Corpo. Em consonância a música original, Rodrigo Pederneiras engendra uma coreografia espelhada, repleta de imagens dúbias e cenas que vão e voltam, conferindo a Nazareth um tratamento espacial que se apropria da "caixa-preta" do teatro para deslizar com irresistível leveza e fluidez pelo chão de polcas, chorinhos e maxixes estendido por Wisnik e seu inspirador. Em tons de cinza, preto e branco, os figurinos de Freusa Zeichmeister têm linhas arrojadas que beiram o futurismo, e adereços que remetem à elegância do começo do século passado. O cenário de Fernando Velloso dispõe quatorze rosas tridimensionais de 1,70m de diâmetro, moldadas em tela de metal que, penduradas por fios de aço, flutuam no fundo da cena. Em tons de âmbar e pêssego, a luz de Paulo Pederneiras termina de compor a ambiência deste Nazareth pós-moderno. Que já nasceu clássico.
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Trilha sonora desse espetáculo
21
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1992
Música: Marco Antônio Guimarães - Uakti
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras
Criado em 1992, 21 é um divisor de águas na história do Grupo Corpo. Depois atuar por uma década com temas musicais pré-existentes, com este balé a companhia mineira de dança não apenas volta a trabalhar com trilhas especialmente compostas - como acontecera em seus primórdios nos bem-sucedidos Maria, Maria e Último Trem, ambos com música original de Milton Nascimento e Fernando Brant - como passa a adotar como regra este critério. A decisão proporciona a Rodrigo Pederneiras a oportunidade de dar início à construção do extenso vocabulário coreográfico, de inflexões notadamente brasilianas, que se tornaria marca registrada das criações do grupo. Da teia de combinações rítmicas e timbrísticas em torno do número 21, contida nas partituras geometrizadas criadas por Marco Antônio Guimarães - diretor artístico do Uakti Oficina Instrumental e idealizador dos inusitados instrumentos que lhe conferem uma singularíssima sonoridade -, Rodrigo Pederneiras cria uma escritura coreográfica cujo pulso, ou impulso, é de transpiração matemática. Dividido em três movimentos, o mais vigoroso e instigante dos balés apresentados até aquele início dos anos 90 pelo Corpo reproduz, através de múltiplas repetições de movimento, a escala decrescente do 21 até o 1; desenha oito pequenos hai-kais coreográficos; e explode no final, numa dança colorida e contagiante que remete aos folguedos populares e às festas do interior. A força contida na tensão entre as cores vermelha, da luz chapada de fundo, e amarela, das malhas utilizadas pelos bailarinos, dá o tom da primeira parte do balé, enquanto uma gigantesca colcha de retalhos, exibindo estampas de colorido vibrante, deixa antever a explosão do momento final do balé, quando os figurinos, sempre colantes, fazem alusão ao patchwork do cenário.
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Trilha sonora desse espetáculo
Variações Enigma
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Música: Edward Elgar
Ano: 1991
Três Concertos
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
:Música: Telemann
Ano: 1991
A Criação
Coreografia: Rodrigo Pederneiras, baseada no oratório de Joseph Haydn
Ano: 1990
Missa do Orfanato
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1989
Música: Wolfgang Amadeus Mozart
Figurino: Freusa Zechmeister
Cenografia: Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras
Criada partir da missa solene composta e regida por ocasião da consagração da Igreja do Orfanato, na Viena de 1768, por um Mozart que não contava ainda os treze anos completos, a Missa do Orfanato, de 1989, inscreve-se entre as obras máximas do Grupo Corpo. Estabelecendo já os primeiros códigos de uma escritura coreográfica que iria atingir sua maturidade três anos depois com 21, um divisor de águas na trajetória da companhia, Rodrigo Pederneiras transforma seu corpo de baile em uma massa de desvalidos que, na contramão do que prega o Ordinário da missa católica, retrata antes a tragédia e a miséria da condição humana que o anseio de glorificação do Divino. Em estado de contrição permanente, os corpos dos bailarinos ritualizam o desamparo, o temor, o afligimento e a solidão inerentes à natureza inapelavelmente terrena e transitória da espécie humana. Na busca incessante de verticalidade, seus gestos convulsos soam como brados de misericórdia.
Em tons terrosos e cinzas, o cenário de Fernando Velloso remete à face externa de uma catedral degradada pelo tempo, mas cuja imponência persiste em reduzir à sua mundana e diminuta dimensão a procissão de desesperados que perambula pelo palco seu clamor por redenção. Freusa Zechmeister lança mão de roupas cotidianas em seda e linho crus, envelhecidas e tingidas em paletas de cinza e terra, para vestir os bailarinos como um aglomerado imemorial de peregrinos. Com múltiplas gradações de amarelo e branco e fumaça cenográfica, Paulo Pederneiras envolve a cena em uma veladura que recria a luminosidade e a atmosfera típicas dos ofícios religiosos.
E, se na Missa do Corpo é o calvário do Homem que se presentifica, a comunhão com o Divino, a redenção - tanto para quem está no palco quanto para os que se encontram na platéia - se dá através da Arte: a praticada pelo grupo mineiro e a que emana da impressionante partitura sacra de um Mozart menino.
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Trilha sonora desse espetáculo
Mulher
Coreógrafo: Suzanne Linke
Ano: 1989
Uakti
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1988
Rapsódia
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1988
Schumann Ballet
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1988
Pas du Pont
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1987
Canções
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1987
Duo
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1987
Bachiana
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1986
Carlos Gomes/Sonata
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1986
Prelúdios
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1985
Sonata
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1984
Noturno e Reflexos
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1982
Interânea
Música: Marlos Nobre
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1981
Tríptico
Música: Wagner Tiso
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1981
Último Trem
Música: Milton Nascimento / Fernando Brant
Coreografia: Oscar Araiz
Ano: 1980
Cantares
Música: Marco Antônio Araújo
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1978
Maria Maria
Música: Milton Nascimento / Fernando Brant
Coreografia: Oscar Araiz
Ano: 1976
Prêmios
- APCA
Categoria: Grande Prêmio da crítica
Título do trabalho: 30 anos do Grupo Corpo
Ano: 2005
- APCA
Categoria: Elenco
Título do trabalho: O Corpo
Ano: 2000
Ficha Técnica
Diretor Artístico: Paulo Pederneiras
Coreógrafo: Rodrigo Pederneiras
Diretora de Ensaios: Carmen Purri
Diretor Técnico: Pedro Pederneiras
Bailarinos:
Ana Paula Cançado
Ana Paula Oliveira
Beto Venceslau
Cassilene Abranches
Danielle Pavam
Danielle Ramalho
Edson Beserra
Edson Hayzer
Everson Botelho
Filipe Bruschi
Flávia Couret
Gabriela Junqueira
Helbert Pimenta
Ivelise Tricta
Janaina Castro
João Vicente
Juliana Meziat
Mariana do Rosário
Peter Lavratti
Silvia Gaspar
Victor Vargas
Assistentes de Coreografia:
Carmen Purri
Miriam Pederneiras
Maître de Ballet:
Bettina Bellomo
Pianistas:
Anna Maria Ferreira
Lícia Horta
Contra-regra:
Alexandre Vasconcelos
Chefe de Palco:
Virgilio Dangelo
Técnicos de Palco:
Eustáquio Bento
Gabriel Pederneiras
Lucas Araújo
Stefan Böttcher
Administradores:
Marcelo Cláudio Teixeira
Verônica Bonome
Secretária:
Kênia Marques
Documentação:
Cândida Braz
Comunicação:
Cristina Castilho
Produtora Executiva:
Cláudia Ribeiro
Coordenador de Programação: Fernando Velloso
Contatos
Avenida Bandeirantes, 866. Mangabeiras - Belo Horizonte MG
(31) 3221-7701
(31) 3227-5958 (fax)
grupocorpo@grupocorpo.com.br
Referências Externas
Referências Bibliográficas
REIS, Sérgio Rodrigo. "Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo: Dança Universal". Coleção Aplauso/Serie Dança. Imprensa Oficial - SP (IMESP): 2008.
BOGEA, Ines. "Oito ou nove ensaios sobre o Grupo Corpo". Cosac Naify: 2007.