Balé Folclórico da Bahia

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Balé Folclórico da Bahia: 20 anos de pesquisa cultural

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Foto: Balé Folclórico da Bahia / Foto divulgação.


Há 20 anos, um grupo de danças folclóricas saído de Salvador conquistava o público do Festival de Joinville ao dançar em homenagem aos 100 anos da abolição dos escravos. O sucesso da então apresentação única dentro da programação do festival rendeu uma pequena turnê por Santa Catarina, além do batismo do grupo que está oficialmente completando 20 anos em 2008: Balé Folclórico da Bahia (BFB).


Nota: Matéria "Balé Folclórico da Bahia: 20 anos de pesquisa cultural", de Isabella Motta para o portal Idanca.net. Publicada em 25/08/2008, gentilmente cedida pela redatora e pela coordenação do portal.


Histórico

As duas décadas de história do Balé começaram pelas mãos de Walson Botelho e Ninho Reis, os fundadores. Eles haviam sido colegas no grupo de danças folclóricas Viva Bahia, um dos mais famosos dentro e fora do país na década de 80. Em 1985, Walson – o Vavá – saiu da companhia para terminar a faculdade de Antropologia. Formado, recebeu muitos convites para voltar ao mundo da dança, mas a idéia do que mais tarde se tornaria o Balé Folclórico já começava a tomar conta da cabeça de Vavá. “Muitos amigos me chamaram para trabalhar, mas meu objetivo não era aquele. Eu sonhava com a profissionalização do trabalho de bailarino”, lembra o coreógrafo. A oportunidade apareceu em 1988, quando uma grande empresa o contratou para que realizasse um show com danças folclóricas. “A partir dali não paramos mais, foi um show atrás do outro. Fomos juntando o que tínhamos de melhor e, em algum tempo, já podíamos nos manter apenas com os cachês. E foi nesse contexto que surgiu o convite para ir a Joinville”, conta Vavá, orgulhoso. “Lá foi um teste para nós, se desse errado eu pararia por ali”. A empreitada deu certo e de lá pra cá o Balé Folclórico da Bahia recebeu inúmeros prêmios nacionais e internacionais.


Mas o caminho não foi sempre tão simples. Até 1994, o BFB teve dificuldades para encontrar espaços para se apresentar no circuito comercial justamente por basear seu trabalho na dança folclórica baiana. “Foi uma época em que o folclore estava desgastado em todo o mundo, o público já estava saturado, tudo o que existia era muito igual. Só conseguíamos participar de festas culturais. Até que o Guy Darmet (diretor da Bienal de Lyon) veio a Bahia, nos conheceu e nos convidou para participar do festival”, recorda Vavá. Novamente as portas se abriram para o Balé.


O Grupo

Hoje, o grupo conta com uma equipe de 40 pessoas – entre bailarinos, músicos e técnicos – e um currículo comparável ao de uma companhia clássica. “Nosso trabalho é diferente porque conseguimos aliar o que há de mais puro da cultura folclórica tradicional a uma linguagem contemporânea”, explica o coreógrafo e diretor do BFB. Essa mistura entre tradicional e contemporâneo a que Vavá se refere é visível no palco e resultado de muito trabalho de pesquisa aliado a aulas para melhorar a técnica. “Dou o maculelê como exemplo. É uma dança típica dos escravos que trabalhavam na cana-de-açúcar, com movimentação violenta e movimentos bem característicos. No Balé, nós fazemos esses movimentos característicos mas com incremento técnico, aliamos a técnica sem perder a dança tradicional. Não vejo essa evolução em outros grupos”, afirma ele.


Para alcançar essa técnica, os bailarinos se dividem entre ensaios e aulas oito horas por dia, de segunda-feira a sábado. Eles têm aulas de balé, dança contemporânea, dança moderna, dança afro-brasileira, capoeira e o que mais for necessário para a composição de um novo trabalho. “O bailarino que se forma aqui está apto a dançar em companhias de qualquer outro estilo”, orgulha-se Vavá.


Balé Jr

E como várias boas iniciativas pelo Brasil, o BFB também resolveu disseminar sua arte para fora das salas de ensaio e, há seis anos, criou o Balé Jr. Com crianças de quatro a 14 anos, a ‘escolinha’ começou de uma forma curiosa: incomodados com a algazarra que os meninos de rua faziam do lado de fora, os bailarinos resolveram convidá-los para entrar. Pronto. “O projeto ganhou corpo e resolvemos estendê-lo para toda a cidade. Hoje temos mais de 200 crianças de classe baixa, não apenas meninos e meninas de rua”, comemora Vavá.


Além das aulas, as crianças participam freqüentemente de mostras de trabalhos seus e dos bailarinos da companhia oficial como uma forma de incentivo para que eles continuem no projeto.


Balé que você não vê

De uma dessas mostras nasceu outro projeto do Balé Folclórico: o Balé que você não vê. Nele, o folclore dá lugar a remontagens de espetáculos clássicos, modernos e contemporâneos feitas pelos próprios bailarinos – que também podem experimentar áreas como figurino, iluminação e cenografia. O resultado desse ‘projeto paralelo’ que mostra uma outra cara da companhia é mostrado diariamente, de segunda-feira a sábado, no Teatro Miguel Santana, no Pelourinho, logo após a apresentação diária e oficial do Balé.


Orgulho de Vavá Botelho e um dos símbolos da carreira bem-sucedida do BFB, o Balé que você não vê acabou inspirando o espetáculo comemorativo pelos 20 anos da companhia, que foi apresentado sábado e domingo (23 e 24 de agosto), no Teatro Castro Alves, em Salvador. Especialmente para a data, a companhia criou Sagração, uma releitura de Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, que mostrará a vertente contemporânea do grupo. A coreografia é de José Carlos Aranbiba, o Zebrinha. A segunda parte, sim, mostrará o folclore que acompanha o grupo há 20 anos com trechos dos espetáculos Oxalá (98), Afixirê (90), Capoeira do Amor (94), Berimbau (2004), Dança de origem e Puxada de Rede (88).


“Trata-se de um espetáculo comemorativo. Não entrará no nosso repertório, nossa linguagem é folclórica.
Criar um espetáculo folclórico demanda tempo e dinheiro e como não tivemos patrocínio, não pudemos criar nada 
novo. Não se pode inventar o folclore, ele está baseado na cultura. É um trabalho de pesquisa muito grande, 
já que o folclore já está quase todo morto”, explica Vavá. “Optamos, assim, por explorar o Balé que você não 
vê para valorizar os nossos bailarinos pois é tão difícil fazer arte no Brasil.” 


Mas não se pode negar que ele está vendo realizado o sonho de profissionalização que, lá atrás, o impulsionou a criar o Balé Folclórico da Bahia.


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