Grupo Corpo

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Edição feita às 16h46min de 24 de janeiro de 2012 por Marinamagalhaes (disc | contribs)
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Grupo Corpo


Tabela de conteúdo

Breve Histórico

O Grupo Corpo é uma companhia de dança contemporânea brasileira de renome internacional criada em 1975 em Belo Horizonte.

A companhia foi fundada por Paulo Pederneiras (diretor-geral), Rodrigo Pederneiras (inicialmente bailarino e depois coreógrafo), Pedro Pederneiras, Carmen Purri, Miriam Pederneiras e Cristina Castilho.

A inspiração para a montagem do grupo surgiu após Rodrigo Pederneiras ter participado de uma oficina realizada durante o Festival de Inverno da UFMG com o bailarino argentino Oscar Arraiz. O primeiro espetáculo do grupo, Maria Maria, foi coreografado por Oscar Arraiz, percorreu 14 países e permaneceu em atividade no Brasil de 1976 até 1982.

Em 1978, juntou-se ao grupo Emilio Kalil, que assume a co-direção junto com Paulo Pederneiras.

O Grupo Corpo foi companhia residente na Maison de La Danse em Lyon na França de 1995 a 1999.


Proposta investigativa

As investigações do movimento e as possibilidades infinitas das relações entre dança e música caracterizam a pesquisa do coreógrafo Rodrigo Pederneiras. O Grupo Corpo tem uma estrutura de funcionamento constituída por um núcleo de criadores que trabalham juntos há décadas, e, em geral, convidam músicos distintos para a composição das trilhas sonoras dos seus espetáculos.

"Olhando para trás, nesses 30 anos à frente das coreografias do Grupo Corpo, uma das coisas mais bacanas que 
conseguimos consolidar dentro da companhia foi a nossa estrutura de funcionamento. [...] Claro que sei, sem falta modéstia, 
que iniciei um tipo de linha coreográfica diferente. Uma forma de dançar que, até então, ninguém fazia. Quando comecei ou era
muito baseado no clássico ou no descritivo. Busquei outro tipo de veia. A dança, por mais que se tente descrever não dá: 
é um mundo abstrato." (REIS, 2008, p. 162) 

A Técnica clássica e o ensaio dos repertórios da companhia estão na base de treinamento do Grupo.


Nazareth


Fundadores

Carmen Purri
Cristina Castilho
Déa de Souza
Denise Stutz
Fernando de Castro
Hugo Travers
Izabel Costa
Miriam Pederneiras
Paulo Pederneiras
Pedro Pederneiras
Rodrigo Pederneiras

Trabalhos realizados

Sem Mim

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 2011

Sem Mim


A mais recente criação do coreógrafo Rodrigo Pederneiras prima pelo vigor corporal, com movimentos 
bruscos e rentes ao chão, e envolve o público nas ondulações do mar e na atmosfera da Idade Média.

A trilha sonora traz sete “canções de amigo” do compositor Martín Codax, datadas de meados do século XIII e XIV. Em 2008, o galego Carlos Nuñes apresentou a íntegra das composições de Codax ao brasileiro José Miguel Wisnik, e os dois se juntaram para compor a trilha. Como as 15 canções duram apenas 15 minutos, elas foram agregadas a versões de temas populares do cancioneiro galego, português e brasileiro. O espetáculo ainda conta com cantigas interpretadas por Milton Nascimento, Chico Buarque, Ná Ozzetti, entre outros artistas.
Além da coreografia baseada em movimentos mais soltos e ondulados, “Sem mim” apresenta um diálogo com outras obras do Grupo Corpo, como “Bach”, “Nazareth”, “Benguelê” e “21”. Para completar essa incursão à Era Medieval, a arquiteta Freusa Zechmeister, responsável pelo figurino, pesquisou ornamentos da época e chegou ao conceito da malha tatuada que cobre o corpo dos bailarinos[1].


Sem Mim

Textos Idança Sobre 'Sem mim', do Grupo Corpo

Reportagem: Coreógrafo do Grupo Corpo fala sobre novo balé, em cartaz em SP

Assista - Trecho em vídeo desse espetáculo


Ímã

Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2009
Música: Moreno Veloso, Domenico Lancelotti e Kassin


Ímã


Mais leve e romântico, “realmente mais pra cima, pra tirar os bailarinos do chão”, segundo Rodrigo Pederneiras.

A trilha alegre, solar, alto astral composta pelo trio tem muitos metais, percussão, passando por diversos gêneros musicais. Acostumados a imprimir a característica individual de cada um aos seus trabalhos coletivos, os músicos propuseram um desafio para o coreógrafo ao criarem a trilha. Diz Rodrigo: “É impressionante a facilidade com que eles passam pelos gêneros e ritmos. Essa variedade me leva a procurar criar uma unidade para a diversidade proposta”[2].


Ímã


Reportagem: Grupo Corpo apresenta coreografia "Ímã"

Reportagem: Em entrevista a Giulianna Correia, o coreógrafo Rodrigo Pederneiras fala sobre o conceito por trás do novo espetáculo do famoso grupo de dança brasileiro

Assita - Trecho em vídeo desse espetáculo

Reportagem: Espetáculo "Ímã" aponta novos caminhos para Grupo Corpo


Breu

Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2007
Música: Lenine
Figurino: Freusa Zechmeister
Cenografia e Iluminação: Paulo Pederneiras


Breu


Tradução poética da violência e da barbárie dos dias que vivemos, Breu, balé que o Grupo Corpo estreou em 2007, é a mais demolidora partitura de movimentos escrita por Rodrigo Pederneiras em 30 anos de atividade como coreógrafo da companhia mineira de dança. Para expressar em movimentos a densa e lancinante trilha sonora criada por Lenine, coreógrafo e bailarinos precisaram deixar de lado a sensualidade, o lirismo, a alegria e a brejeirice que, desde 1992, caracterizam o trabalho do grupo e partir para formulação de novos códigos de movimento. Desta vez, a potência, a angulosidade e a rispidez dão o tom do balé. A brusquidez das quedas e uma penosa morosidade nas subidas parecem condenar os corpos a se reter por mais tempo ao rés chão e, desta forma, a mover-se com o auxílio da pélvis, dos pulsos, dos cotovelos, dos joelhos, dos tornozelos, dos calcanhares. Para se manter de pé ou ficar por cima, é preciso ignorar o outro e encará-lo como inimigo. O individualismo, o triunfo a qualquer preço e a disposição para o confronto como estratégia apriorística de sobrevivência parecem reger a movimentação dos bailarinos no decorrer dos quarenta minutos de espetáculo.

À música original Lenine combina uma vasta gama de timbres, samplers, efeitos, citações e estilos, na construção de uma instigante babel sonora, concebida como uma peça única, de oito movimentos, que vão do hard rock à tradição de gêneros populares brasileiros. Paulo Pederneiras emoldura o espaço cênico com grandes placas negras e brilhantes, dispostas lado a lado com precisão geométrica, remetendo à frieza própria das superfícies azulejadas. De malhas inteiriças e todo em preto e branco, os figurinos criados por Freusa Zechmeister dividem ao meio o corpo dos bailarinos: enquanto na região frontal têm preponderância as estampas geométricas variadas, as costas ganham, de alto a baixo, um negro intenso e brilhante. Sob a incidência da luz, o brilho das malhas ressalta as saliências e concavidades das formas, fazendo com que, aqui e ali e por frações de segundo, os bailarinos se misturem ao cenário, emprestando volume e sinuosidade à sua estética retilínea e bidimensional[3].


Breu


Crítica - Silvia Sotter - Corpo Aceso Breu: Novo espetáculo do Corpo é intenso, passando rápido como um raio

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Vídeo 2 desse espetáculo

Vídeo 3 desse espetáculo


Onqotô

Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2005
Música: Caetano Veloso e José Miguel Wisnik
Figurino: Freusa Zechmeister
Cenografia e Iluminação: Paulo Pederneiras


Onqotô


A perplexidade e a inexorável pequeneza do Homem diante da vastidão do Universo é o tema central de Onqotô, balé que, em 2005, marcou as comemorações dos 30 anos de atividade do Grupo Corpo. Assinada por Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, a trilha sonora tem como ponto de partida uma bem-humorada discussão sobre a "paternidade" do Universo. De um lado, estaria a teoria do Big-Bang, a grande explosão primordial, cuja expressão consagrada pela comunidade científica mundial parece atribuir à cultura anglo-saxônica dominante a criação do Universo; e, de outro, uma máxima espirituosa formulada pelo genial dramaturgo (e comentarista esportivo) Nelson Rodrigues sobre o clássico maior do futebol carioca, segundo a qual se poderia inferir que o Cosmos teria sido "concebido" sob o signo indelével da brasilidade: "O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada".

Instrumentais ou com letra, os nove temas que compõem os 42 minutos de trilha estabelecem uma sucessão de diálogos rítmicos, melódicos e poéticos em torno das "cenas de origem" eleitas por seus criadores e do sentimento de desamparo inerente à condição humana.

Na coreografia criada por Rodrigo Pederneiras, verticalidade e horizontalidade, caos e ordenação, brusquidez e brandura, volume e escassez se contrapõem e se superpõem, em consonância (e, eventualmente, em dissonância) com a trilha musical, desvelando significados, melodias e ritmos que subjazem ao estímulo sonoro.

Urdida com tiras de borracha cor de grafite, a cenografia de Paulo Pederneiras funda um espaço cênico côncavo que sugere tanto um recorte do globo terrestre com seus meridianos quanto um oco, um buraco negro, o nada ou a anterioridade de tudo. Com todos os refletores fixados na estrutura metálica que sustenta a fileira de tiras, a luz projetada por Paulo Pederneiras imprime na cena uma iluminação que remete à dos estádios de futebol.

A figurinista Freusa Zechmeister transforma os bailarinos em uma massa anônima que se funde (e se confunde) com o espaço cênico, permitindo deste modo que coreografia e cenário exerçam plenamente sua tridimensionalidade.


Onqotô

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Lecuona

Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2004
Música: Ernesto Lecuona
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Paulo Pederneiras
Iluminação: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso


Lecuona


Amores ardentes, vorazes volúpias, ciúmes nefastos, corações partidos, saudades brutais, desprezo, rancor, indiferença... Com letras que beiram o kitsch e as construções melódicas estonteantemente belas, o romantismo rasgado das canções de Ernesto Lecuona (1895-1963) havia capturado o coração bailarino do coreógrafo Rodrigo Pederneiras em meados dos anos 80. Duas décadas depois, em 2004, o Grupo Corpo rendia-se à genialidade do maior ícone da música cubana de todos os tempos e decidia abrir uma exceção à regra estabelecida em 1992 de só trabalhar com trilhas especialmente compostas para colocar em cena o balé que leva seu nome: Lecuona.

Uma vertiginosa sequência de 38 minutos de pas-de-deux e uma única formação de grupo, criadas por Rodrigo Pederneiras sobre doze doridas canções de amor e uma valsa do célebre autor de Siboney emprestam a Lecuona um caráter absolutamente singular e diferenciado das demais criações do grupo. Esbanjando sensualidade, a tradução visual e cênica das canções de Ernesto Lecuona ganha com cada casal de protagonistas a sua própria cor. O cenário de luz criado por Paulo Pederneiras em parceria com Fernando Velloso delimita o espaço cênico através de cubos luminosos monocromáticos, que se deslocam na "caixa-preta" conforme o vai e vem da dança do par romântico da vez. Dominadores, os rapazes entram em cena sobre sapatos sociais de verniz, envergando camisas, camisetas ou regatas e calças de cós, em diferentes matizes de preto. Em vestidos vaporosos, com fendas e decotes variados, as fogosas damas de Lecuona sobem em saltos de 4,5 a 9 cm e colorem-se, dos pés à cabeça, com uma única cor, de tom invariavelmente quente, que dialoga com a matiz de luz definida para acompanhar o casal. Nos pouco mais de dois minutos da valsa final, um gigantesco cubo de espelhos interpõe-se à cena, e, dentro dele, seis pares de bailarinos (elas, agora, portando longos e esvoaçantes vestidos brancos) multiplicam-se no jogo de espelhos, transformando o número de encerramento em um grande e luminoso baile de tempos que não voltam mais.


Lecuona


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Trilha Sonora desse espetáculo


Santagustin

Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2002
Música: Tom Zé e Gilberto Assis
Cenografia: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso
Figurino: Ronaldo Fraga
Iluminação: Paulo Pederneiras


Santagustin


A capitulação às tentações da luxúria versus o combate ferrenho e intransigente aos prazeres da carne. A tensão entre os dois extremos que marcaram a existência terrena do filósofo e religioso Aurélio Agostinho (¶ 354 - V 430), o Santo Agostinho do panteão católico, serviu como ponto de partida para o compositor Tom Zé criar a música original do balé do GRUPO CORPO – Santagustin, de 2002.

O atrito produzido pelo confronto entre forças contrárias interessou a Rodrigo Pederneiras, que adotou como tema central para sua construção coreográfica o Amor, com todas as contradições que ele encerra, sua sublimidade e seu ridículo. O resultado é uma obra carregada de humor e erotismo, que contrapõe atração e repulsa, fragilidade e fortaleza, prazer e comiseração, brusquidez e delicadeza, sinuosidade e angulosidade, consonância e dissonância, acústico e eletrônico, numa sucessão vertiginosa de pas-de-deux, solitários ou em grupo.

O balé marca o início da colaboração entre o grupo mineiro de dança e o estilista Ronaldo Fraga, que encontra na convivência entre o verde cítrico e o rosa-shocking uma síntese cromática para todo esse rosário de contrastes, enquanto Paulo Pederneiras coloca no centro da cena um gigantesco coração de pelúcia, de cinco metros de altura, tradução cenográfica da índole hiperbólica do mais cultivado dos sentimentos humanos.


Santagustin


Trilha Sonora desse espetáculo

Assista - Trecho em vídeo desse espetáculo


O Corpo

Criador(es): Rodrigo Pederneiras
Ano: 2000
Música: Arnaldo Antunes
Figurinos: Freusa Zechmeister e Fernando Velloso
Cenografia e Iluminação: Paulo Pederneiras


Tematizando o imaginário urbano, a coreografia de Rodrigo Pederneiras dialoga inovadoramente com a trilha eletrônica de Arnaldo Antunes. No ritmo acelerado dos movimentos, na violência dos gestos, nas quebras das linhas e no arqueamento dos corpos que buscam se mover rente ao chão, Rodrigo Pederneiras desenvolve novas características para essa dança, que vai da malemolência ao robótico.

"O corpo é suficientemente opaco / para que se possa vê-lo". Esse corpo dança banhado na luz-cenário de Paulo Pederneiras, um quadrado de spots vibrando com a música como um gigantesco analisador de espectro. O Corpo transforma o cenário em luz e os figurinos em cenários móveis: são esculturas pretas que dançam numa caixa vermelha. Os corpos ganham novos volumes pelo desenho das roupas de Freusa Zechmeister e Fernando Velloso. Formam uma gangue, ou tribo; mas suas individualidades são acentuadas pelo movimento e pelo inusitado dos figurinos. As frases de Arnaldo Antunes ganham corpo na dança; e a dança dá novo viés à trajetória do Grupo. Na soma de gestos, som e luz, O Corpo concentra, com novos acentos, a essência brasileira do Grupo Corpo.


Benguelê

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano:1998
Música: João Bosco
Cenografia: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras


Benguelê é uma exaltação ao passado africano e às suas marcantes e profundas raízes na cultura brasileira. Riscando do palco, sem nenhum pudor, qualquer vestígio da técnica clássica - que, no entanto, presente na formação dos bailarinos, dá suporte à complexa coreografia - o coreógrafo evoca, do início ao fim, ritmos afro-brasileiros como o maracatu, o candomblé e o congado. Anarquia e frenesi substituem a simetria e a ordem dos bailarinos em cena. Pas-de-deux e fouettés dão lugar a batidas de pé, remelexos de quadril, ombros e pélvis. A diversidade rítmica ganha vida ao som da música inspirada do compositor, cantor e violonista João Bosco. São onze temas - especialmente criados como a música-tema Benguelê, ou recriados como o chorinho 1x0 de Pixinguinha, ou Tarantá e Carreiro Bebe, do folclore. Ora festivos, ora ritualísticos, os movimentos sugerem danças tribais, onde a representação de figuras humanas, vergadas pelo tempo, ou animalizadas, pontuam o espetáculo.


Parabelo

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1997
Música: Tom Zé e Zé Miguel Wisnik
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Paulo Pederneiras e Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras


Escrever na língua nativa a palavra balé (assim, com um ele só e acento agudo) tem sido a busca consciente e obstinada de Rodrigo Pederneiras desde o antológico 21, de 1992. A inspiração sertaneja e a transpiração pra lá de contemporânea da trilha composta por Tom Zé e José Miguel Wisnik para Parabelo, de 1997, permitiram ao coreógrafo do Grupo Corpo dar vida àquela que ele mesmo define como a "a mais brasileira e regional" de suas criações.

De cantos de trabalho e devoção, da memória cadenciada do baião e de um exuberante e onipresente emaranhado de pontos e contrapontos rítmicos, emerge uma escritura coreográfica que esbanja jogo de cintura e marcação de pé, numa arrebatadora afirmação da maturidade e da força expressiva da gramática construída ao longo de anos pelo arquiteto de Missa do Orfanato e Sete ou Oito Peças para um Ballet.

A estética dos ex-votos de igrejas interioranas inspira Fernando Velloso e Paulo Pederneiras na composição dos dois painéis, de 15m x 8m, que dão sustentação cenográfica ao espetáculo.

Com a intensidade das cores velada por um tule negro e revelada somente no espaço exíguo e imperativo das sapatilhas, a figurinista Freusa Zechmeister cria o jogo de luz e sombra que veste os bailarinos na primeira parte de Parabelo, enquanto na reta final e explosiva do balé as malhas se libertam do véu, alardeando a temperatura jubilosa e alta de suas cores.


Bach

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Direção artística: Paulo Pederneiras
Ano: 1996
Música: Marco Antônio Guimarães (sobre a obra de J. S. Bach)
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras


Um Bach mais que barroco. Mineiro. De um azul intenso. E grafite. E dourado. Como as igrejas do ciclo do ouro, 
nas antigas Geraes - talhadas pelo gênio de Aleijadinho. Um Bach divinamente profanado. Que despenca de súbito dos 
céus para outra vez ascender às alturas. Um Bach que cantata, mas que também ciranda.

Vigésima sexta coreografia na cronologia da companhia mineira de dança, Bach estreou mundialmente em setembro de 1996 na tradicional Bienal da Dança de Lyon, arrancando dez minutos ininterruptos de aplausos.
Clássico, contemporâneo, universal, interiorano, divino, profano, solene, malemolente, Bach brota de uma criação livre e iluminada do músico Marco Antônio Guimarães, do Uakti, em torno da obra do maior compositor de todos os tempos. Bach, a primeira produção do Grupo Corpo como companhia residente da Maison de La Danse, de Lyon - condição que ocupou por três anos consecutivos[4].

Um jogo entre o que se ouve e o que se vê, onde o barroco de Bach e o barroco de Minas Gerais, no Brasil, se realizam como dança. A coreografia aspira ao que está acima, e a música, ao que está dentro das partituras de Bach e que Marco Antônio Guimarães, o compositor, nos ajuda a descobrir. Entre azuis, dourados e escuros, uma dança que celebra a arquitetura da vida: fluxo contínuo de onde emergem construções cinéticas surpreendentes.


Sete ou Oito Peças para um Ballet

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1994
Música: Philio Glass - Uakti
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras


A partir de oito temas surgidos da parceria inédita entre o instrumentista e compositor norte-americano Philip Glass e o grupo instrumental mineiro Uakti, o coreógrafo Rodrigo Pederneiras desvencilha-se, pela primeira vez, do rigor formal que marca suas criações para construir uma obra despojada, onde a partitura de movimentos emerge como uma série de esboços, apontamentos ou estudos para uma coreografia. Inacabados, na aparência. Mas irretocáveis, pela genialidade da forma. Como em uma pintura contemporânea, onde as correções podem ser incorporadas ao resultado final, os movimentos dos bailarinos do Grupo Corpo sucedem-se em variações que vão da estética "suja" própria dos ensaios a um primoroso acabamento formal. Nesse sentido, 7 ou 8 Peças para um Ballet, que teve sua estréia em 1994, propõe mais do que vaticina. O componente obsessivo, frio e exato dos temas especialmente criados para o balé pelo ícone maior da música minimalista norte-americana, leva Pederneiras a orquestrar repetições de movimentos que beiram o automatismo, executados, no mais das vezes, em solo, em contraposição a movimentos orgânicos de grupo, carregados da sensual latinidade intrínseca à sonoridade única produzida pelo Uakti. O cenário de Fernando Velloso e os figurinos de Freusa Zechmeister buscam nos primórdios da corrente minimalista da pintura americana a inspiração para as listras em verde, azul e tons de amarelo que dão identidade visual ao espetáculo, enquanto o branco reina absoluto na iluminação de Paulo Pederneiras.


Narazeth

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1993
Música: Miguel Wisnik (sobre a obra de Ernesto Nazareth)
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras


Homenagem, em música e movimento, ao mais erudito dos compositores populares brasileiros, Ernesto Naza­reth (1863-1934), o balé Nazareth, de 1993, transporta para o palco, com insuspeitado requinte, a sensua­lidade e a brejeirice da dança brasileira de salão. Com base na obra do genial criador do "tango brasileiro", o compositor e escritor paulista José Miguel Wisnik recorre ao conceito de espelhamento melódico para operar movimentos retrógrados que, induzidos por computador, desvendam surpreendentes e cristalinas construções musicais, numa recriação absolutamente autoral, original e contemporânea da obra de Nazareth. São comentários, citações, variações, que, bebendo sempre da mesma fonte, terminam por desaguar em outros braços de mar. O erudito e o popular se encon­tram e se confundem também na transcriação cinética e visual do gênio de Ernesto Naza­reth (1863-1934) pela equipe de criadores do Grupo Corpo. Em consonância a música original, Rodrigo Pederneiras engendra uma coreografia espelhada, repleta de imagens dúbias e cenas que vão e voltam, conferindo a Nazareth um tratamento espacial que se apropria da "caixa-preta" do teatro para deslizar com irresistível leveza e fluidez pelo chão de polcas, chorinhos e maxixes estendido por Wisnik e seu inspirador. Em tons de cinza, preto e branco, os figurinos de Freusa Zeichmeister têm linhas arrojadas que beiram o futurismo, e adereços que remetem à elegância do começo do século passado. O cenário de Fernando Velloso dispõe quatorze rosas tridimensionais de 1,70m de diâmetro, moldadas em tela de metal que, penduradas por fios de aço, flutuam no fundo da cena. Em tons de âmbar e pêssego, a luz de Paulo Pederneiras termina de compor a ambiência deste Nazareth pós-moderno. Que já nasceu clássico.


21

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1992
Música: Marco Antônio Guimarães - Uakti
Figurinos: Freusa Zechmeister
Cenografia: Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras


Criado em 1992, 21 é um divisor de águas na história do Grupo Corpo. Depois atuar por uma década com temas musicais pré-existentes, com este balé a companhia mineira de dança não apenas volta a trabalhar com trilhas especialmente compostas - como acontecera em seus primórdios nos bem-sucedidos Maria, Maria e Último Trem, ambos com música original de Milton Nascimento e Fernando Brant - como passa a adotar como regra este critério. A decisão proporciona a Rodrigo Pederneiras a oportunidade de dar início à construção do extenso vocabulário coreográfico, de inflexões notadamente brasilianas, que se tornaria marca registrada das criações do grupo. Da teia de combinações rítmicas e tim­brísticas em torno do número 21, contida nas partituras geometrizadas criadas por Marco Antônio Guima­rães - diretor artístico do Uakti Oficina Instrumental e idealizador dos inusitados instrumentos que lhe conferem uma singularíssima sonoridade -, Rodrigo Pederneiras cria uma escritura coreográfica cujo pulso, ou impulso, é de transpira­ção matemática. Dividido em três movimen­tos, o mais vigoroso e instigante dos balés apresentados até aquele início dos anos 90 pelo Corpo reproduz, através de múltiplas repe­tições de movimento, a escala decrescente do 21 até o 1; desenha oito pequenos hai-kais coreográficos; e explode no final, numa dança colorida e contagiante que remete aos folguedos populares e às festas do interior. A força contida na tensão entre as cores vermelha, da luz chapada de fundo, e amarela, das malhas utilizadas pelos bailarinos, dá o tom da primeira parte do balé, enquanto uma gigantesca colcha de retalhos, exibindo estampas de colorido vibrante, deixa antever a explosão do momento final do balé, quando os figurinos, sempre colantes, fazem alusão ao patchwork do cenário.


21


Variações Enigma

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Música: Edward Elgar
Ano: 1991


Três Concertos

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
:Música: Telemann
Ano: 1991


A Criação

Coreografia: Rodrigo Pederneiras, baseada no oratório de Joseph Haydn
Ano: 1990


Missa do Orfanato

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1989
Música: Wolfgang Amadeus Mozart
Figurino: Freusa Zechmeister
Cenografia: Fernando Velloso
Iluminação: Paulo Pederneiras


Missa do Orfanato


Criada partir da missa solene composta e regida por ocasião da consagração da Igreja do Orfanato, na Viena de 1768, por um Mozart que não contava ainda os treze anos completos, a Missa do Orfanato, de 1989, inscreve-se entre as obras máximas do Grupo Corpo. Estabelecendo já os primeiros códigos de uma escritura coreográfica que iria atingir sua maturidade três anos depois com 21, um divisor de águas na trajetória da companhia, Rodrigo Pederneiras transforma seu corpo de baile em uma massa de desvalidos que, na contramão do que prega o Ordinário da missa católica, retrata antes a tragédia e a miséria da condição humana que o anseio de glorificação do Divino. Em estado de contrição permanente, os corpos dos bailarinos ritualizam o desamparo, o temor, o afligimento e a solidão inerentes à natureza inapelavelmente terrena e transitória da espécie humana. Na busca incessante de verticalidade, seus gestos convulsos soam como brados de misericórdia. Em tons terrosos e cinzas, o cenário de Fernando Velloso remete à face externa de uma catedral degradada pelo tempo, mas cuja imponência persiste em reduzir à sua mundana e diminuta dimensão a procissão de desesperados que perambula pelo palco seu clamor por redenção. Freusa Zechmeister lança mão de roupas cotidianas em seda e linho crus, envelhecidas e tingidas em paletas de cinza e terra, para vestir os bailarinos como um aglomerado imemorial de peregrinos. Com múltiplas gradações de amarelo e branco e fumaça cenográfica, Paulo Pederneiras envolve a cena em uma veladura que recria a luminosidade e a atmosfera típicas dos ofícios religiosos. E, se na Missa do Corpo é o calvário do Homem que se presentifica, a comunhão com o Divino, a redenção - tanto para quem está no palco quanto para os que se encontram na platéia - se dá através da Arte: a praticada pelo grupo mineiro e a que emana da impressionante partitura sacra de um Mozart menino.

Missa do Orfanato


Mulher

Coreógrafo: Suzanne Linke
Ano: 1989


Uakti

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1988


Rapsódia

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1988


Schumann Ballet

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1988


Pas du Pont

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1987


Canções

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1987


Duo

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1987


Bachiana

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1986


Carlos Gomes/Sonata

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1986


Prelúdios

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1985


Sonata

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1984


Noturno e Reflexos

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1982


Interânea

Música: Marlos Nobre
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1981


Tríptico

Música: Wagner Tiso
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1981


Último Trem

Música: Milton Nascimento / Fernando Brant
Coreografia: Oscar Araiz
Ano: 1980


Cantares

Música: Marco Antônio Araújo
Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Ano: 1978


Maria Maria

Música: Milton Nascimento / Fernando Brant
Coreografia: Oscar Araiz
Ano: 1976


Prêmios

Categoria: Grande Prêmio da crítica
Título do trabalho: 30 anos do Grupo Corpo
Ano: 2005

Categoria: Elenco
Título do trabalho: O Corpo
Ano: 2000

Ficha Técnica

Diretor Artístico: Paulo Pederneiras

Coreógrafo: Rodrigo Pederneiras

Diretora de Ensaios: Carmen Purri

Diretor Técnico: Pedro Pederneiras

Bailarinos:
Ana Paula Cançado
Ana Paula Oliveira
Beto Venceslau
Cassilene Abranches
Danielle Pavam
Danielle Ramalho
Edson Beserra
Edson Hayzer
Everson Botelho
Filipe Bruschi
Flávia Couret
Gabriela Junqueira
Helbert Pimenta
Ivelise Tricta
Janaina Castro
João Vicente
Juliana Meziat
Mariana do Rosário
Peter Lavratti
Silvia Gaspar
Victor Vargas

Assistentes de Coreografia:
Carmen Purri
Miriam Pederneiras

Maître de Ballet:
Bettina Bellomo

Pianistas:
Anna Maria Ferreira
Lícia Horta

Contra-regra:
Alexandre Vasconcelos

Chefe de Palco:
Virgilio Dangelo

Técnicos de Palco:
Eustáquio Bento
Gabriel Pederneiras
Lucas Araújo
Stefan Böttcher

Administradores:
Marcelo Cláudio Teixeira
Verônica Bonome

Secretária:
Kênia Marques

Documentação:
Cândida Braz

Comunicação:
Cristina Castilho

Produtora Executiva:
Cláudia Ribeiro

Coordenador de Programação: Fernando Velloso


Referências

Site oficial do Grupo Corpo. Disponível em: <http://www.grupocorpo.com.br/site>

REIS, Sérgio Rodrigo. Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo: dança universal. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008.  Site da APCA. Disponível em: <http://www.apca.org.br/premiados.asp?acao=filtrar&categoria=Dança&ano=&votaram=&premiados=&palavra=&pag=0>


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