Nina Verchinina

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Apresentação


Nina Verchinina nasceu em Moscou, capital da Rússia, no dia 20 de janeiro. O ano é indefinido, algumas fontes dizem que foi em 1903, outras em 1912.
Passou sua infância em Xangai, na China, e na Manchúria, onde Alexandre Verchnin, seu pai, trabalhava com comério de chá.
Sempre se interessou pelo movimentação das coisas. Quando pequena observava atenta a movimentação das pessoas e da natureza, e quando completou seis anos decidiu que queria fazer balé, após ter assistido a apresentação de uma bailarina do circo. Sua mãe logo a matriculou, junto com sua irmã mais nova, Olga Morosova, na única escola de dança local.
A partir de 1971, em razão das mudanças políticas ocasionadas pela Revolução Russa, seu pai, que tinha ligação com o antigo regime, decidiu se mudar com a família. O destino inicial era o Canadá, mas Nina o convenceu de ir para a França, onde seria mais promissor para seus estudos de dança.
Quando Nina Verchinina e sua família estabelecenra-se em Paris, Verchinina encontrou uma cidade onde a produção artística e intelectual funcionava a todo vapor. No meio de toda essa atividade que ela e sua irmã entraram para dar continuidade aos estudos de balé clássico.
No início da década de 1920 começaram a estudar no estúdio de Olga Preobrajenska, antiga estrela do Teatro Maryinsky, que também havia se estabelecido na França, tornando-se uma das mais respeitadas professores de balé de Paris.
Nesse período vários movimentos artísticos se desenvolviam na Europa, como o futurismo, cubismo, dadaísmo, entre outros, criando novos horizontes e possibilidades para o desenvolvimento de diferentes maneiras de se expressar artísticamente.
Enquanto buscava por diferentes maneiras de se movimentar, Verchinina encontrou Isadora Duncan, bailarina que era uma forte referência por usar de maneiras diferentes na sua conduta para com a dança, e por propor uma dinâmica de movimentos baseada nos fenômenos naturais, e em movimentos do nosso cotidiano, como andar, pular, correr.
Depois de assisti-la no ano de 1927, em Paris, Nina deciciu se juntar a ela em seus estudos para aprender a se mover daquela forma. Porém, Duncan nunca chegou a formar uma técnica, muito menos uma escola de dança onde o estilo que inventara fosse ensinado, o que obrigou Nina Verchinina a continuar com suas aulas de balé clássico.
Isadora Duncan morreu nesse mesmo ano, deixando Verchinina muito abalada, por se tratar de alguém que revolucionaria a dança, e que não teve o tempo nem a oportunidade de propagar sua técnica para outros bailarinos.
Com a morte de Duncan Verchinina sentia que o seu amor pela dança havia morrido também, no entanto, em uma de suas aulas com Preobrajenska foi convidada por Nijinska para compor a companhia de dança de Isa Rubinstein, e em 1928 estreou como bailarina dessa companhia, experimentando novos movimentos de tronco, braços e procurando linhas mais retas que lhe dessem maior liberdade de expressão.
A oportunidade de estudar e trabalhar com Nijinska fez com que a paixão de Verchinina pela dança reacendesse.
Logo nas primeiras décadas de 1900 Verchinina entrou em contato com aqueles que, assim como ela, buscavam outras possibilidades para a dança.
A década de 1920 foi de suma importância para alargamento das fronteiras do balé. A aproximação com outras artes como a música e a literatura abriu novos horizontes, essa época foi também de formação de público, época em que as pessoas começaram a ter mais contato e aceitação a chamada dança moderna.
O termomodern dance tem como principais bailarinos e criadores Martha Graham, Doris Humphrey e Charles Wiedman. Esses acreditavam que a dança não devia servir apenas de divertimento, mas também de uma forma de atentar para situações, problemas e pessoas reais e contemporâneas, provocando e levando o público a refletir sobre suas atitudes cotidianas.
Graham foi o que exerceu maior influência no desenvolvimento do trabalho de Nina Verchinina, e com quem ela viria a tentar trabalhar anos mais tarde.


A longa caminhada de Nina Verchinina


Após a morte de Diaghilev foram feitas várias tentativas para recriar o repertório doBallets Russes, porém todas elas foram mal sucedidas, pois faltava o brilhantismo que somente Diaghilev era capas de impor, até que em 1932 surge um novo grupo que mudaria esse cenário de criações frustradas: o Les Ballets Russes de Monte Carlo, sob direção do Colonel Wassily de Basil e René Blum.
Nina Verchinina, jutamente com sua irmã que mais tarde se casaria com o Colonel De Basil, integraram a companhia desde seu ínicio.
Foi nesse grupo que Verchinina começou a traçar, de forma definitiva, os caminhos que a tornariam uma das grandes criadoras da dança moderna, a companhia lhe rendeu ótimas experiências, e através dela pôde conhecer e trabalhar com alguns renomados coreógrafos, como Fokine, Balanchine e Massine, com esse último formou uma parceria de sucesso.
Fokine convidou Nina Verchinina para dançar seu primeiro balé sinfônico, após vê-la em um pequeno solo fazendo papel de uma das quatro amazonas. Essa apresentação rendeu o posto de primeira-bailarina da companhia para Verchinina.
Após de se destacar por dançar três balé sinfônicos de Massine, Nina Verchinina foi chamada de “Bailarina Sinfônica”.
Os anos de trabalho com Massine tornaram Nina Verchinina não somente uma exímia bailarina, mas também rendera a ela conhecimento que usaria mais tarde como coreógrafa.
Em 1938 Verchinina decide passar um ano nos Estados Unidos para estudar com Martha Graham, um dos grandes nomes da dança moderna. Porém, Graham não a aceitou em sua academia, por achar que Verchinina possuía uma estilo bastante definido e com muita personalidade, acreditava que ela deveria seguir o próprio caminho. Contudo, Nina Verchinina não foi embora, e passou a apenas acompanhar as aulas de Graham e a trocar experiências com ela.
Verchinina passou a observar a maneira como as pessoas se movimentavam na rua e a visitar museus, tentando identificar os movimentos através do estudo de figuras em cerâmicas egípcias, além de se dedicar a literatura e a história da arte.
Nesse mesmo ano também teve uma rápida passagem pelo Balé de São Francisco.
Em junho de 1939, durante a temporada do Convent Gardem e Londres, Nina retornou à companhia, que agora chamava-se Convent Garden Russian Ballet.
A Segunda Guerra Mundial complicou o andamento dos planos da companhia, fazendo com que uma temporada prevista para Berlim fosse susprensa. A companhia viveu com tensão. Poucas apresentações faziam com que as coisas se complicasse financeiramente, até que,no dia 18 de novembro de 1939, fizeram uma viagem para se apresentar na Austrália, apesar do risco de ser abatido por navios inimigos ou por esbarrar em alguma mina marítima.
Após quase nove meses na Austrália, a companhia rumou para os Estados Unidos, onde fez temporada de grande sucesso em Nova York, e uma vez que a Europa estava em guerra, Nova York se tornou a capital mundial do balé.
Passaram também por alguns outros países da América, como Canadá, Cuba e México. Em Cuba tiveram enormes dificuldades, que culminaram em greve e desligamento de alguns bailarinos, Verchinina e sua irmã foram umas das poucas que permanceram no grupo, ao lado de De Basil.
Por conta da terrível condição financeira ficaram impossibilitados de voltar para os Estados Unidos, permanecendo em Havana por cinco meses, de março à agosto de 1941, tendo que fazer pequenas apresentações para sobreviver.
Em agosto De Basil conseguiu negociar a volta da companhia, porém Nina Verchinina decidiu permanecer em Cuba para mais uma temporada de estudos. Nesse período dançou no Balé da Ópera de Havana, onde permaneceu por três anos, não fazendo parte da primeira temporada da companhia no Brasil. A companhia Original Ballet Russe permaneceu viajando e se apresentando pelos países da América do Sul e Central de 1942 à 1946.
De Cuba Verchinina voltou para os Estados Unidos, dando continuidade em seus estudos para desenvolver o trabalho de sua vida: o desenvolvimento de uma técnica que desse conta das necessidades coreográficas que surgiam.
Voltou a reintegrar o Original Ballet Russo em 1946, no último ano de excursão pelas Américas, e durante a terceira temporada pelo Brasil, quando conheceu seu futuro marido, Conde jean Beausacq.
Fez apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro, e devido ao grande sucesso da temporada e o destaque de Nina Verchinina, foi convidada por Antonio Vieira de Melo, diretor do departamento de Difusão Cultural da prefeitura, para ficar no Brasil como coreógrafa e maître-de-ballet do corpo de baile e da Escola de Dança do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Por isso, quando a companhia partiu para os Estados Unidos em setembro, Verchinina ficou no Brasil.
Assinou contrato de dois anos, para as temporadas de 1947 e 1948. As expectativas e animação era grandes de ambos os lados, porém o resultado não foi como o esperado.
Nina Verchinina diz que o Theatro Municipal do Rio de Janeiro e seus gestores não estavam preparados para o novo, assim como os bailarinos. Ainda faltava muito amadurecimento até que fossem implementadas com sucesso as técnicas modernas de Nina Verchinina. Tal falta de amadurecimento juntou-se com a dificuldade financiera do Theatro, e fez com que ela deixasse a direção do Theatro em 1948.
Apeasar de todas as dificuldades Nina Verchinina conseguiu organizar uma apresentação fechada para crítica especializada.
Ainda em 1948, Verchinina partiu para se reunir novamente com o grupo do Colonel De Basil, que fazia uma excursão pela Espanha e Portugal.


A Década de 1950 e a Volta para o Brasi


Em 1950 Nina Verchinina recebeu um convite para oganizar e dirigir o grupo de dança moderna no Instituto Coreográfico da Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza, na Argentina.
Foram quatro anos de muito trabalho, mas todo esse trabalho foi extremamente recompensador. Verchinina teve a oportunidade de colocar todo seu conhecimento em prática. Após um ano e meio de ensaios e estudos, o grupo se apresentou com grande sucesso na Semana da Dança, no ano de 1952. No ano seguinte fez temporada no Teatro Alvear de Buenos Aires, foi um sucesso maior ainda.
Em 1954 o grupo foi convidado para se apresentar no 4°Centenário de Santiago del Estero. Na platéia a presença do ilustre presidente Perón, que depois os convidou para passar uma tarde em sua casa de campo.
Além da direção do grupo em Mendoza, foi contratada também para trabalhar no Teatro Argentino em La Plata.
Em 1954, com a morte de seu reitor, o Balé da Universidade Mendoza chegou ao fim, pois os que assumiram a reitoria da universidade não consideravam a dança como matéria importante para os alunos.
Ainda em 1954 foi convidada para retornar ao Brasil para montar o espetáculo Fantasias e Fantasias, no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Logo depois foi convidada por Tatiana Leskova, que foi sua companheira no Original Ballet Russe, para montar alguns de seus trabalhos, como Narciso e Rhapsody in Blue, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Em 1995 abriu sua própria academia, no bairo do Flamengo, no Rio de Janeiro. Ensinava balé e sua técnica de dança moderna à suas alunas.
Nesse mesmo ano foi contrada como coreógrafa convidada do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, apresentando Matrizes, com cenários e figurinos de Fernando Pamplona e uma remontagem de Rhapsody in Blue.
Dois anos depois montou seu próprio grupo, apresentando três espetáculos na temporada desse mesmo ano no Theatro Municipal do Rio.
Viajou por vários países com seu grupo, fazendo muito sucesso com o alto nível e beleza de suas apresentações, porém, curiosamente a parte financeira não foi tão bem, e por isso o grupo passou por dificuldades e não conseguiu dinheiro pra voltar para o Rio de Janeiro, tendo que permanecer além do esperando fora.
Por conta dessas dificuldades, em 1959 no grupo se disfez, e logo em seguida Verchinina reabriu sua academia, dessa vez em Copacabana, outro bairro do Rio de Janeiro.
Se a anos atrás, o Rio de Janeiro ainda não era preparado para receber os conceitos estudados por Nina Verchinina, dessa vez as coisas eram diferentes.
O cenário da dança nacional, assim como o mundial, se mostrava cada vez mais receptivo a nossas concepções,e a partir da década de 1950, um grupo de coreógrafos começou a se questionar sobre a natureza da dança e sua relação com a música.
Nina Verchinina via a dança como uma maneira de expressar sentimentos humanos, colocando-os em movimento. Sua técnica era pra buscar a essência do movimento, como um meio de tornar o sentimento interior visível externamente. Todo movimento feito em suas coreografias faziam um sentido, tinham o intuito de passar alguma coisa para o público espectador.
Dona Nina, como era conhecida no Brasil, escreveu seu nome na história da dança e foi responsável pela formação de toda uma geração de bailarinos, coreógrafos e pensadores da dança. Seus estudos e sua concepção a respeito dos movimentos criaram novas possibilidades que, até então, eram pouco exploradas.
Nina Verchinina viajou o mundo, primeiro como bailarina, depois como coreógrafa, e por último como professora. Deu seminários e workshops em diversos países. Sua última viagem foi para a Escócia, em junho de 1995. Após isso continuou dando aulas diárias em sua academia, até falecer no dia 16 de dezembro de 1995.

Fonte

Cerbino, Beatriz

Nina Verchinina: um pensamento em movimento / Beatriz Cerbino

Rio de Janeiro: Funarte: Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro, 2001.

64p.: il - (Série Memória do Theatro Municipal do Rio de Janeiro; 8)

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