Martha Graham

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Autor: Massuel dos Reis Bernardi


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“Martha Graham foi um dos grandes nomes da Dança moderna norte-americana. Bailarina, coreógrafa e professora, ela rompeu com as rígidas convenções do balé e desenvolveu uma técnica que compreendia uma profunda relação entre respiração e movimento – extensão e relaxamento [...], gestos amplos e contato com o chão, abandonando, desta forma, alguns dos princípios básicos da dança tradicional.” (GONÇALVES, 2009 p. 9)

Nascida em Allgheny, Pennsylvania, em 1894. Assistiu a seu primeiro espetáculo de dança em 1911. Passeando pelas ruas de Santa Bárbara (cidade em que morava desde 1908), ficou maravilhada com um cartaz anunciando o espetáculo de dança da companhia Denishawn, na qual Ruth Saint-Denis aparecia magnificamente vestida como uma deusa. Implorou a seu pai que a levasse para assistir ao espetáculo. Como frequentemente ia a Los Angeles, ele acabou levando-a. A partir daquele momento, ela sabia que seu destino havia sido traçado. Diz: "―Meu destino foi selado. Eu não podia esperar para aprender a dançar como a deusa fez." Sabia que iria se tornar uma bailarina como Ruth Saint-Denis. Infelizmente isso só foi possível após a morte de seu pai. Ela o adorava.

Graham não se opunha ao balé, mas à maneira com que impunham sua utilização a qual ela considerava superficial, principalmente em relação à intensidade, o drama e a paixão. Assim seu trabalho se edificou no “mundo interior” revelando, por meio da dança, desejos, sonhos e emoções universais como alegria, ciúmes ou dor.

Martha morreu em 1991 com 96 anos de idade, sendo a primeira bailarina a dançar na Casa Branca. “Não agüento mais dançar divindades hindus ou ritos astecas. Quero tratar dos problemas atuais." (BOURCIER, 1987, p. 274 apud GONÇALVES, 2009 p. 33).


Tabela de conteúdo

Panorama da Obra de Martha Graham

Em 1916 entra para essa escola fundada por Ruth St. Denis e seu marido Ted Shawn para ensinar técnicas de dança americana e mundial. Para St. Denis, a dança era um autêntico ato religioso. Durante oito anos, tanto como estudante quanto professora, Graham fez da Denishawn sua casa.

Em 1923, quando lhe ofereceram para dançar, como solista, no Greenwich Village Follies, um teatro popular que combinava música, dança e cenários que frequentemente satirizavam os valores contemporâneos. Se muda para Nova Iorque e lá foi capaz de conceber e coreografar suas próprias danças. Embora este trabalho lhe desse alguma independência econômica e artística, ela ainda procurava por alguma coisa maior Foi então que ela ocupou uma posição na Eastman School of Music, onde estava livre dos condicionalismos de apresentação pública. Na Eastman, a Graham foi-lhe dado o controle completo sobre suas aulas e sobre todo o programa dança. Ela viu isso como uma oportunidade de envolver os alunos na experiência da dança, que estava começando a criar. Após ter experimentado algumas danças solo, realizou seu primeiro trabalho em grupo, Heretic de 1929.

Ela retomará o tema do pioneirismo americano com seu primeiro balé célebre, Appalachian Spring (1944), cujo tema evoca, ao contrário de Frontier, os limites de seu povo. A coreografia, com suas explosões alegres, suas paradas repentinas, movimentos bruscos e intermitentes, permite denunciar o puritanismo e a escravidão industrial.

Começa com Letter to the world (baseada nos poemas de Emily Dickison) de 1940, Herodiade, Imagened Wind e Appalachian Spring de 1944, Cave of heart (sobre o mito de Medeia ou amor-loucura) de 1946, Errand into the maze (Teseu e o Minotauro ou o homem perdido no labirinto de seu inconsciente) e Nigth Journey (Viagem noturna, a partir do tema de Édipo e Jocasta) de 1947.

Night Journey é, a meu ver, o ponto culminante da obra de Martha Graham, exprimindo ao mesmo tempo a essência de sua feminilidade e o confronto com o destina. E continua na década de cinquenta com Eye of Anguish (história do Rei Lear) e Judith de 1950, The Triunph of Joan d´Arc (1951), Seraphic Dialogue (solo de Joana d´Arc retomado como conjunto em 1955) e Clytemnestra (1958).

Entre 1959 e 1969, última década que atuou, Graham criou dez novos papéis para si mesma e mais oito novas danças para sua companhia, das quais não participou. Bastava estar trabalhando para se sentir feliz. Dentre esses trabalhos podem-se citar Acrobats of God (uma espécie de mistério sobre os padres do deserto, chamados por ela de "os atletas de Deus") e Alcestis de 1960, Phaedra (princesa cretense que se apaixona tragicamente por seu jovem enteado – um retorno à mitologia grega) de 1962, Circe de 1963, The Witch of Endor (a profetisa que anunciou ao rei Saul sua derrota e morte) de 1965.

Ao final da década de sessenta, o público esperava que Martha não pudesse mais dançar, mas ela se recusa a desistir e surpreende mais uma vez criando um novo papel para si em Time of snow (em que aborda o romance de Abelardo e Heloise na França medieval) de 1968. Em 1969, porém, aos setenta e cinco anos, faz sua última performance em The Lady of the house of sleep e relutantemente anuncia sua aposentadoria em 1975 faz Lúcifer, para Margot Fonteyn e Rudolf Nureyev e muitos outros trabalhos dentre os quais: Acts of Light de 1981, The Ride of Spring de 1984, Celebration e Persephone de 1987 e o último de todos Maple leaf rag de 1990.

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Sistema de Movimentos

O sistema de movimento desenvolvido por Martha Graham é conhecido no mundo todo como um método de treinamento de um corpo expressivo, visceral e poético. O que a artista ambicionava era o desvelar da alma humana, comunicado por meio de uma linguagem artística que exigia absoluta disciplina e concentração.

Martha Graham foi um dos maiores nomes da Dança moderna americana e fundamentou uma das poucas técnicas de dança moderna utilizada até os dias de hoje. No entanto, seu maior objetivo não foi codificar uma técnica, mas sim expressar o interior do homem, revelar as emoções humanas.

Para desenvolver suas obras, Graham acabou estruturando uma técnica que permitisse a exploração de tal expressividade, mas como a maioria dos dançarinos modernos, chegou tarde à dança.

Assim, por meio de seu extenso repertório e técnica distinta, Martha Graham transformou profundamente o vocabulário da dança, criando códigos diferentes dos estabelecidos pelo balé, até então vigentes, e alterando o curso da história da dança no século XX. Desta forma abriu o caminho para o que hoje chamamos de dança contemporânea.


The Martha Graham Dance Company

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Desde a criação de sua pequena companhia em 1926 fundou, ainda, uma escola que ficou conhecida no mundo todo e chamada Martha Graham and Dance Group até sua grande companhia The Martha Graham Dance Company.

Coreografou mais de duzentas danças, dentre elas muitas obras primas, porém mais do que deixar obras primas, Martha é reconhecida por descobrir um novo caminho para os movimentos, se não belos, eram significantes e suas descobertas e inovações elevaram o discurso da dança, ampliando significativamente essa linguagem.

Um de seus trabalhos mais conhecidos foi Letter to the World (1943), com música de Hunter Johnson e dança baseada na vida da poetisa Emily Dickson, recitando na performance trechos de poemas. Entre seus trabalhos estão: Appalachian Spring(1944), Cave of the Heart (1946), Legend of Judith (1962), Acts of Light(1981). Parou de dançar em 1970, mas ainda remontou em 1984, A Sagração da Primavera de Igor Stravinski e escreveu uma autobiografia, Bloody Memory(1991), em que detalhou seu método.


Temas

Graham coreografava explorando os mais diversos temas, como a sensibilidade feminina, a mitologia grega, os antigos rituais, as questões sociais e o folclore norte-americano.

Após a segunda Guerra mundial, criou trabalhos baseados nas teorias freudianas e jungianas, centrando o tema na figura feminina. Incorporou um novo tipo de mulher, não em sua fragilidade ou graça, mas em sua força e disposição, revelando aspectos do caráter interno da alma. Dessa forma, os arquétipos de suas heroínas possuem uma personalidade feminina que luta não só contra um mundo dominado pelo poder masculino, mas principalmente com seus conflitos afetivos internos, numa mistura entre amor e ódio, felicidade e infelicidade e vida e morte.

A imutável crença de Graham no movimento que expressa emoções (boas ou ruins), provocou muitas vezes a incompreensão de seus gestos. ― ”Não quero que sejam entendidos, eu quero que sejam sentidos”, declarou ela certa vez em uma entrevista.


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Um marco na história da dança

A história da dança mostra que diversas técnicas e metodologias foram sendo incorporadas ao desenvolvimento da dança como reflexo de uma época. Algumas dessas técnicas atribuíram valores estéticos nos corpos. Valores que deveriam ser traduzidos e interpretados pelo público. No caso da Dança moderna, novos valores estéticos foram atribuídos, os quais não foram aceitos de imediato.

A Dança moderna reestrutura elementos de construções artísticas anteriores, como o balé, e busca, assim, uma nova maneira de se comunicar, a qual apresenta um corpo que questiona os valores sociais e estéticos em seu conteúdo coreográfico.

Contra muitos tabus sociais, além de grande bailarina, ela também foi uma grande coreógrafa, embora não quisesse coreografar. No entanto, o tipo de dança que queria fazer não existia, assim se viu forçada a inventá-la. Em uma passagem de seu livro “Memória de Sangue” (1993, p. 158), diz que enquanto está coreografando está trabalhando, e não coreografando.

Na história, toda nova fase se caracteriza por uma transgressão ou uma revolta. A arte moderna, de forma geral, também nascerá desse pensamento. Isadora Duncan nega o balé clássico; Ruth Saint-Denis, antes de sua dança litúrgica, recusa a concepção individualista do teatro. Martha Graham, como suas antecessoras, rejeita as convenções clássicas do balé e do teatro individualista, mas também se opõe às outras duas artistas.

Assim, a Dança moderna de Martha Graham, não configura, em si, um fato isolado. Pelo contrário, articula-se com o amplo e o complexo contexto social, que desde a segunda metade do século XIX abalava o cenário europeu das artes.

"A dança moderna não se omitiu em relação à posição da vida, repleta de aspirações sangrentas, dominação, guerra e explorações violentas, como fez a dança romântica ao evadir-se da sociedade industrial e nem mascarou o empobrecimento humano, pois não era mais possível uma dança etérea e ideal: era preciso descer das pontas e colocar os pés no chão. Era preciso encontrar formas comunitárias e solidárias e mostrar ao mundo a falta daquilo que torna a vida digna de ser vivida por meio do conteúdo do gesto estridente, lamentoso, satírico, construídos a partir do próprio corpo." (GONÇALVES, 2009 p. 25)

Assim, a Dança moderna contribuiu para devolver ao homem a sua identidade, ao devolver-lhe o sentimento do corpo, como fonte de potência, como portador do mundo real e como projeção de um mundo possível pela ação, despertando o desejo de expressar-se por inteiro, centrado em si mesmo e de desenvolver uma atividade capaz de representar a própria vida. Esta mais intensa, mais clara e mais significativa.

"O corpo é portador de signos. É suporte de identidades ao mesmo tempo em que é gerador de significados. Não há corpo neutro, pois é modelado por valores culturais e estéticos, tornando-se um tema rico para debates. Como espaço e reflexo de cultura e lugar de relações sociais, o corpo dá forma às inquietações humanas. Na dança, ele é expressão de si mesmo, é signo e intérprete e para isso, sofre transformações para se tornar um instrumento a serviço da arte. Um corpo artístico, além das transformações sofridas por meio da técnica, deve comunicar." (GONÇALVES, 2009 p. 11)

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Características e anseios da dança de Graham

“Para essa artista a dança era um ato vital. ―Acho que o motivo pelo qual a dança tem mantido uma magia tão perene para o mundo é que ela tem sido o símbolo da realização da vida. (GRAHAM, 1993, p. 11) Não só porque a arte é eterna, por revelar ―a alma do homem, mas principalmente porque o instrumento pelo qual a dança fala é o mesmo pelo qual a vida é vivida – o corpo humano. Graham (p.11) diz: ―É o instrumento com que todos os princípios fundamentais da vida se tornam manifestos. Ele mantém em sua memória todas as questões da vida, da morte e do amor. Graham inventou um modo revolucionário e original de movimentar o corpo e, por meio da dança, revelar a alegria, as paixões e os sofrimentos que são comuns a toda experiência humana. Ela tinha a capacidade de conectar o movimento a uma emoção. ―Movimento na dança moderna não é o produto da invenção, mas da descoberta – descoberta do que o corpo pode fazer, dizia Graham. Para ela (apud FREEDMAN, 1998, p. 56) a ―dança é outra maneira de apresentar as coisas. E continua: ―Se pudesse ser dita em palavras, seria; mas fora as palavras, fora a pintura, fora a escultura, dentro do corpo existe um cenário interior que é revelado em movimento.” (GONÇALVEZ: 2009, p. 17-18)

Quando finalmente começou a estudar dança profissionalmente, ela se considerava muito velha, pequena, pesada e feia para ser levada a sério como dançarina. ”Não escolhi. Fui escolhida para ser bailarina.” (GRAHAM, 1903, p.13)


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Links Relacionados

http://marthagraham.org/center/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Martha_Graham


Ver também

Dança moderna


Referências

GONÇALVES, Maria da Graça Giradi. Martha Graham: Dança, Corpo e Comunicação. Dissertação de Mestrado. Uniso. Sorocaba-SP: 2009.

GRAHAM, Martha. Memória de Sangue. São Paulo: Siciliano, 1903.

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