William Forsythe

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William Forsythe


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Breve Biografia

William Forsythe nasceu em 1949 em Nova Iorque. Começou seus estudos em dança na Jacksonville University, na Flórida, seguido de um aprofundamento na técnica clássica como bolsista na Joffrey Ballet School e na School of American Ballet.


Em 1970, entrou para a companhia Joffrey Ballet II e, logo depois, para o Joffrey Ballet, antes de mudar-se para a Alemanha e ingressar no Stuttgart Ballet, em 1973. Em 1976, ele coreografou sua primeira obra intitulada “Ulricht”, seguida de “Traum des Galilei” em 1978, e “Orpheus”, “Love Songs” e “Time Cycle” em 1979.


Em 1980, Forsythe deixou o Stuttgart Ballet para dedicar-se a uma carreira independente. Suas primeiras obras independentes, coreografadas para o Nederlands Dans Theater, foram carregadas de crítica social: “Gänge”, de 1982, e “Say Bye-Bye”, de 1983, provocaram platéias e apresentaram um cunho também político do artista.


Em 1984, Forsythe tornou-se diretor artístico do Ballett Frankfurt. A partir de 1990, o Frankfurt Ballet passou a se apresentar em um projeto de residência de dois meses ao ano no Châtelet Theater, em Paris. Entre os anos de 1994 a 2004, coreografou peças como "Limb’s Theorem" (1991), "The loss of small Detail" (1991), "Alie/naction" (1992), "Eidos:Telos" (1995), "Endless House" (1999) e "Kammer/Kammer" (2000).


Sobre a obra Eidos:Telos, a crítica de dança Helena Katz escreveu no artigo “Dança usa a matemática para estrangular corações”, publicado em 1996:


“Forsythe pensa a dança por algoritmo (tradução matemática da informação) – por isso, ele é único. 
Não organiza movimentos em espaços, constrói o espaço com ou sem movimentos. Uma empreitada dura. 
Para ele, seus bailarinos e seu público. Todos precisamos aprender que Forsythe coreografa como quem programa 
bits e não como quem toma como modelo esses nossos corpos à base de carbono. [...] A cabeça de Forsythe 
lê o mundo por algoritmos. Ele pára, aponta uma árvore que o outono começa a desfolhar e comenta: 
‘veja como é claro, isso é puro algoritmo’. Para ele, o mundo que se mexe evolui porque são essas 
estruturas algorítmicas que se reproduzem evolutivamente. E, como quase tudo que tem mobilidade pode 
ser ‘algoritmável’, isto é, pode ser traduzido matematicamente, o mistério, para ele, está em desvendar 
esse modo de agir da matemática“.


Eidos: Telos

foto: Dominik Mentzos


Em 2004, por motivos políticos e institucionais, Forsythe deixa o Ballett Frankfurt e passa a dirigir sua própria companhia, a The Forsythe Company.

Além do trabalho com sua própria companhia, Forsythe continua a montar suas obras para outras companhias de dança de diversos países, entre elas: New York City Ballet, Royal Ballet, Nederlands Dans Theater, Joffrey Ballet, San Francisco Ballet e National Ballet of Canada.

Seu reconhecimento como coreógrafo é mundial e já recebeu dezenas de prêmios por sua atuação na dança.


O Ballet Contemporâneo de Forsythe

Um dos grandes diferenciais da trajetória artística de Forsythe foi seu deslocamento na criação de balé clássico por uma abordagem contemporânea. Como coreógrafo, se destacou na criação de coreografias que usam a gramática de movimento e técnica do “ballet”, mas rompe com estruturas de espaços coreográficos (deslocamento físico dos palcos para espaços públicos), musicalidade e inserção de tecnologia, mesclando suas coreografias.


Forsythe se envolve não apenas na composição coreográfica, como também na composição de luz e música de suas obras. Este envolvimento demonstra uma maneira peculiar de criação, mas também seu envolvimento com técnicas que não são apenas as de dança, introduzindo uma idéia de tecnologia em seu trabalho, que só viria a se desenvolver com o passar dos anos.


Segundo artigo de Silvia Wolff, sobre a dessacralização do ballet na obra de Forsythe, o coreógrafo sofreu diversas influências que foram marcantes no desenvolvimento de seu estilo de criação. A autora cita o fato de seu pai ter sido publicitário, sua afeição pelo rock ’n roll e por filmes musicais de comédia. Em sua formação, se interessou pela dança moderna, especialmente pelos estudos de movimento de Rudolf van Laban. Outro coreógrafo associado à Forsythe por diversos pesquisadores de sua obra, como referência em sua criação, é o coreógrafo russo George Balanchine.


Em sua trajetória, Forsythe também foi influenciado pelo conhecimento de arquitetura, pautado no Desconstrutivismo, um movimento que propõe um olhar crítico sobre a arquitetura, expondo detalhes de construção que usualmente ficam escondidos, disfarçados. Em seu ballet, Forsythe revela movimento que normalmente é obscuro.


Forsythe Company

foto:Dominik Mentzos


Seu envolvimento com trabalhos específicos para espaços alternativos inclui arquitetura, multimídia, telecomunicação interativa e vídeo. Um dos primeiros projetos de uso de espaços públicos é chamado "Tight Roaring Circle", ainda nos anos noventa, segundo nos relata Wolff.


O uso de novos espaços, (além de levar a dança ao público não espontâneo), garante também uma outra interatividade entre artista e público. No balé clássico, o "corpo de baile" ou bailarino estão tradicionalmente distanciado da platéia pelo formato do Palco Italiano, mantendo a dança em uma espécie de moldura, algo não atingível, quase mágico. Essa relação é desconstruída no momento em que se modifica o espaço do "palco", o espaço da dança, criando uma relação entre o “performer” e o público mais próxima, menos distanciada tanto espacialmente, quanto simbolicamente. Isso também interfere na presença do artista, mais sensível, o que gera uma necessidade de trabalho de "presença", uma nova faceta do desenvolvimento do intérprete.


Por isso também o ballet de Forsythe pode ser chamado de um “balé contemporâneo”.


Dança e Tecnologia na Composição de Forsythe

William Forsythe também ficou famoso pelo cruzamento entre arte e tecnologia. Acompanhando o desenvolvimento das chamadas novas tecnologias, Forsythe compôs dança para formatos digitais e tinha como principal objetivo o ensino/disseminação de dança, além de facilitar o aprendizado técnico de dança.

Em 1999, lançou o CD-ROM Improvisation Technologies – A Tool for the Analytical Dance Eye, produzido pelo ZKM (Center for Art and Media Karlsruhe). Para a pesquisadora Maira Spanghero, este é “um exemplo onde memória e criação se confundem, na medida em que o CD registra facetas deste pensamento de dança e favorece o aprendizado do repertório e, para além disso, colabora com o entendimento de um modo operacional que pode se utilizado em futuras improvisações que geram novos trabalhos. O CD contém explicações e demonstrações em vídeo sobre alguns métodos de improvisação que Forsythe utiliza para compor, descrito por ele com suportes gráficos e animações, entre outros modos de visualização.” (SPANGHERO. O romance da dança com a matemática: primeiras notações. Idança, 2009)

Em 2000, criou a coreografia “One Flat Thing, reproduced”. A peça foi meticulosamente registrada, de forma que o espectador possa observar os bailarinos e bailarinas filmados com uma câmera situada acima deles. O resultado desse registro foi disponibilizado na internet, em forma de um programa interativo onde o usuário pode acompanhar os movimentos (vistos de cima) e acionar linhas coloridas aos movimentos. Dessa forma é possível traçar a trajetória dos movimentos, conhecendo seu ponto de partida e de chegada. É como uma partitura de dança. A tela do computador fica dividida horizontalmente em duas partes: na superior, vê-se a gravação em vídeo da peça de dança; embaixo, ao mesmo tempo, a partitura.

Mais atualmente Forsythe foi além e desenvolveu um projeto de 3 anos para criação de uma base de dados do movimento, o ‘’’Motion Bank’’’. O projeto inclui a criação de um banco de dados de dança desenvolvido por softwares digitais, a ser acessado pela internet, e artisticamente desenvolvido em colaboração com artistas de nacionalidades diferentes, como o inglês Jonathan Burrows, a norte-americana Deborah Hay e o brasileiro Bruno Beltrão. O objetivo final é o início de uma biblioteca de movimentos online e a parceria com outros coreógrafos, de diferentes estilos, garante uma diversidade de movimentos.

Desde o início do projeto, especialistas do ‘’’Instituto Fraunhofer de Processamento Gráfico de Dados’’’ e da ‘’’Universidade de Ohio’’’ (mais precisamente do ‘’’Advanced Computing Center’’’) procuram encontrar novas possibilidades visuais de representação do movimento. Foi desenvolvido, por exemplo, um programa que mostra a densidade dos movimentos, ou seja, em quais partes do palco acontecem mais movimentos e em quais menos. Leigos em geral deverão poder interpretar a estrutura de uma coreografia com a ajuda do Motion Bank, e profissionais deverão poder fazer uso deste material em suas atividades como bailarinos, professores de dança ou coreográfos.

Como apresentado, desde seus primeiros trabalhos de intervenção entre arte e tecnologia, Forsythe procura desenvolver uma “bibliografia prática” da dança, linguagem que sempre ficou restrita ao aprendizado pela experiência empírica, uma vez que é um conhecimento que se dá principalmente pelo corpo. Há já uma tradição de pesquisa em dança se criando, e que nos últimos 10 anos tem se fortalecido. Um grande número de pesquisas e publicações na área estão sendo produzidos, garantindo que a dança não se perca na efemeridade das criações coreográficas. O registro audiovisual, (para alguns pesquisadores o primeiro passo da “videodança”) foi uma das formas de se registrar e replicar a técnica de dança (e suas criações) de forma mais ampla. William Forsythe, sem Duvidas, é um grande nome no que diz respeito à contribuição do processo de aprendizado, entendimento e disseminação de dança.


Forsythe no Brasil

Em 2003, Fosythe veio ao Brasil para desenvolver um projeto em parceria com o grupo carioca DeAnima, que foi dividido entre um projeto social e o trabalho coreográfico com artistas brasileiros. O espetáculo “Forsythe@DeAnima” começou com a peça “AllStars”, com 18 jovens de projeto social em cena, que passaram uma semana trabalhando com o coreógrafo. Depois foi apresentado os duos "Slingerland" e "Herman Schmerman", encenados por bailarinos brasileiros, entre eles, Paula Maracajá e Roberto de Oliveira.


Em 2012, a São Paulo Companhia de Dança – apresentou a peça “In the middle, somewhat elevated” (1987), uma encomenda de Rudolf Nureyev (1938-1993) para o ‘’’Ballet Ópera de Paris’’’. A peça, criada para a bailarina Sylvie Guillem e outras estrelas do balé da Ópera de Paris, carrega todos os traços reconhecidos como estilo de Forsythe: velocidade, precisão, força, impulso nos movimentos e musicalidade. Em matéria da “Revista de Dança”, a diretora da companhia, Inês Bogéa, diz que dançar Forsythe representa um momento especial do grupo e mostra o amadurecimento dos bailarinos.


"Depois de mais de quatro anos de existência, a companhia está pronta para dançar
a obra de um grande mestre da atualidade. É uma  honra para nós podermos encenar este balé", diz Bogéa.


Referências Bibliográficas

Revista Cena – edição 9, Dossiê Dança em Desdobramentos. ISSN 1519-275X.


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