Ivaldo Bertazzo
De Wikidanca
Autor: Massuel dos Reis Bernardi
Ivaldo Bertazzo é pesquisador, educador e um dos mais conhecidos coreógrafos brasileiros, além de bailarino, terapeuta corporal, diretor e empreendedor cultural.
Criador do Método Bertazzo de Reeducação do Movimento, desde os anos 70, trabalha na reeducação do movimento e na transformação do gesto como manifestação da própria individualidade.
Ivaldo nasceu em 08 de maio de 1949 na Mooca, bairro de São Paulo.
Teve aula com as dançarinas Tatiana Leskova, Paula Martins, Renée Gumiel, Rachou Klauss e Mrika Gidali. Bertazzo, além de um incansável aprendiz, absorveu técnicas de dança em vários países por onde viajou como Indonésia, Tailândia, Vietnã, Irã e Índia. Envolvido com a dança desde os 16 anos de idade, é conhecido por democratizar essa arte.
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Percurso do Trabalho
Ivaldo Bertazzo optou por trabalhar com pessoas comuns, de diferentes classes e profissões, por ele chamados de “cidadãos dançantes”, na década de 1970, que são os bailarinos não profissionais que, por meio da dança, reavaliam seu posicionamento no convívio social.
Neste contexto, o termo “cidadãos-dançantes” são bailarinos não profissionais, que por meio da dança investigam identidades e novas posições de vida; raciocínios do corpo que precipitam, por que não, em linguagem verbal.
O trabalho idealizado em plena juventude culminou, anos depois, com a criação da Companhia TeatroDança Ivaldo Bertazzo, na qual capacita jovens para atuarem na área e tornarem-se multiplicadores do conhecimento adquirido, por meio da arte e da educação.
Bertazzo se dedica também a experiências de levar a arte a comunidades carentes.
Na década de 1970 criou o Método Bertazzo de reeducação do movimento.
Bertazzo viajou o mundo incorporando movimentos e a cultura gestual de diversos lugares ao seu trabalho, até criar, em 1975, a Escola de Reeducação Movimento e o Método Bertazzo de Reeducação do Movimento.
Sempre com a intenção de democratizar a dança, tradicionalmente elitista no Brasil, uniu com facilidade o erudito e o popular, ao mesmo tempo em que explorava no corpo a linguagem das danças orientais, em especial a indiana. Com o bharata natyan, o kathak e o odissi, estilos que mais o influenciaram, assimilou uma geometria corporal, que inclui noções de lateralidade, profundidade e verticalidade, além do uso da bacia como centro do corpo. A isso, somou-se o aprendizado da musicalidade do gesto (ou seja, o canto do ritmo com sílabas fonéticas como ta, tei, tam), que na Índia antecede a execução dele próprio. Sem se ater ao simbolismo característico da dança daquele país. Bertazzo até hoje utiliza alguns de seus princípios como ferramenta para desenvolver conexões refinadas de psicomotricidade. Assim é, por exemplo, com o trabalho da musculatura da face, que auxilia a focar o olhar, além de indicar caminhos para uma maior expressividade.
A partir de 1982, Bertazzo entra em contato com o estudo desenvolvido pelas pesquisadoras Suzanne Piret e Marie-Madaleine Béziers, na França, e Godelieve Denys Struyf, na Bélgica, envolvendo conceitos de cadeias musculares e de movimento fundamental. Nesse período, solidifica um conhecimento acerca do funcionamento do corpo humano, bem como um método próprio, cuidadosamente adaptado à forma brasileira de se mover.
Foram mais de 20 espetáculos criados até 1992, em que o corpo humano ocuparia o eixo central, tanto com bailarinos profissionais e aparato cênico, quanto de “dança-cidadania”, com não-bailarinos e espírito de mutirão. A partir de 1996, com o espetáculo “Cidadão Corpo”, passou a trabalhar a “identidade brasileira do movimento”, cujo conceito já gerou diversos espetáculos e a formação da Cia TeatroDança.
Em contínua produção artística, com Cidadão Corpo, de 1996, inicia um período fértil de criações marcantes em que cidadania e “brasilidade da dança” não se dissociam das questões do corpo. Nesse contexto, apresenta, consecutivamente, Palco, Academia e Periferia (O Penhor Dessa Igualdade), Ciranda dos Homens...Carnaval dos Animais, e Além da Linha d’Água.
A partir de 2000, é a vez da comunidade. Movido pela preocupação de uma dança responsável, mergulha no trabalho social, tendo como ponto de partida o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Do projeto resultam três espetáculos: Mãe Gentil (2000), Folias Guanabaras (2001) e Dança das Marés (2002).
Em 2003 , de volta a cidade de São Paulo, Bertazzo dá continuidade aos trabalhos sociais em parceira com Danilo Santos Miranda, diretor regional do Sesc SP, através do projeto Dança Comunidade, onde Bertazzo formula e documenta seu trabalho como Método de Reeducação do Movimento brasileiro. Cria também a sua Cia de Dança profissional composta pelos jovens das diversas periferias de São Paulo. São apresentados os espetáculos Samwaad- Rua do Encontro (2004), Milagrimas (2006), Mar de Gente, Kashimir Bouquet, Noé Noé - deu a louca no convés e Corpo Vivo (2010)
Atualmente, Ivaldo trabalha diretamente com profissionais das áreas da saúde, educação, arte e também do esporte com o objetivo de formar profissionais capacitados na aplicação do Método Bertazzo em suas atividades cotidianas. Para isso ministra cursos, oficinas e workshops por todo o Brasil.
Ao todo, Bertazzo criou mais de 30 espetáculos de dança, com o “cidadão dançante” além de 6 espetáculos com a Cia TeatroDança Ivaldo Bertazzo onde trabalhou diretamente com jovens da periferia, transformando suas vidas através do programa Dança Comunidade / Sesc.
A Escola de Reeducação do Movimento
Tudo começou em roda. Ou melhor, em Danças e Roda I, no ano de 1976. Naquela época, Ivaldo Bertazzo apresentava sua primeira coreografia, sugerindo já os pilares que hoje fundamentam seu trabalho: consciência, autonomia e estrutura corporal. Com 35 pessoas no palco do Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, o coreógrafo e reeducador do corpo, um dos mais renomados atualmente, fazia refletir sobre diversidade e individualidade no contexto da cultura brasileira. Assim, com elencos móveis e sempre numerosos, apontava para a relação com o outro posicionado ao lado e à frente no movimento em roda; espaço possível de reconhecimento do corpo como protagonista de uma dança coletiva.
Tendo como pano de fundo a Escola de Reeducação do Movimento, criada por ele em 1975, ensaiava o domínio dos gestos que depois seriam vistos no palco. Num momento histórico de forte repressão política e cultural, seguido do período de redemocratização, Ivaldo levaria a liberdade do movimento e a organização coletiva, respectivamente, para dentro da cena.
O Método Bertazzo
Com o objetivo de ampliar a consciência, a autonomia e a estrutura do movimento, Ivaldo criou o Método Bertazzo de Reeducação do Movimento e, assim, encontrou uma forma mais eficaz de trabalhar o corpo e toda sua movimentação. Com criatividade, o Método Bertazzo transforma, continuamente, materiais simples do nosso dia a dia em instrumentos terapêuticos. Garrafas pet se transformam em pesos; elásticos graduam a força muscular; tubos de PVC e bastões são utilizados para o posicionamento do corpo e a exploração do espaço; caixas d´água procuram resgatar a progressão e as etapas do desenvolvimento motor, entre outras práticas. Essa abordagem lúdica, associada ao uso do ritmo, amplia o repertório motor do aluno e o conhecimento do próprio corpo.
Ivaldo diz:
"Nós, seres-humanos, possuímos a mesma geometria e uma estrutura corporal organizada nos mesmos padrões de movimento. E, mesmo assim, nos expressamos gestualmente das maneiras mais variadas possíveis. Perceba. Um lutador shao lin e um aborígene australiano se movimentam de um jeito bem diferente um do outro. Os gestos de um dançarino de frevo, em Pernambuco, são distintos de um havaiano dançando a hula. Os movimentos de um índio do Xingu durante seus rituais não lembram muito, por exemplo, um espanhol fazendo sapateado. Por quê?"
Ivaldo Bertazzo mergulhou fundo nesses questionamentos, dedicando anos de estudos, pesquisas e observações sobre as diferenças gestuais e de movimentação na espécie humana.
"Apesar de todos os humanos possuírem características muito semelhantes, como o alinhamento vertical do quadril com o tronco e a cabeça, o número de dedos e a constituição da face, as expressões gestuais e os movimentos podem ser muito diferentes na vida de cada indivíduo. O homem é capaz de atitudes que outras espécies não estão preparadas para realizar. Sentar e levantar com facilidade é uma delas. Um homem também pode se manter em pé por horas a fio, em movimento ou, simplesmente, parado, sem descansar. "
O homem consegue manipular objetos como colheres, ferramentas, barro, ferro, fogo. Nenhuma outra espécie conseguiria realizar esses movimentos, mesmo que tivesse a oportunidade. Mas o que intriga Bertazzo são, justamente, as diferenças de movimentação e articulação de que nosso corpo é capaz.
"Esses componentes são habilidades importantes de nossa espécie.” (...) "Hábitos culturais aliados a fatores climáticos e geográficos influenciam, e muito, a maneira do corpo se movimentar.” (...) “O modo como um lutador pensa é diferente de como o aborígene racionaliza e lida com o mundo.”
Mas a análise de Bertazzo sobre as manifestações corporais humanas vai além das influências culturais a que estamos submetidos.
"Apesar de sermos todos regidos pela mesma constituição mecânica, nos movimentamos de um modo muito particular. O homem tem essa capacidade de individualizar e personalizar seus padrões de movimento, tornando-se um ser único. Cada indivíduo forma, assim, um universo à parte, com seu próprio desenho corporal e sua história. Nosso corpo, independente de estar vinculado a fatores culturais e étnicos, tem a sua trajetória e sua carga histórica. E essas características devem ser respeitadas. Pois o modo como nos postamos e organizamos nosso corpo para o movimento é o exercício da nossa individualização, direito conquistado por nós."
Bertazzo mergulha no processo de formação da individualidade, na excelência da psicomotricidade para a construção do pensamento e da personalidade humana.
"A estruturação e o desenvolvimento de nossa psicomotricidade acontecem por meio de inúmeros componentes que transitam entre a genética, o desenvolvimento da fala, da escuta, da escrita. A isso somam-se também os elos familiares, a vivência escolar, o universo afetivo/emocional, os acidentes e doenças. As relações entre esses componentes são muito estreitas. Nossa identidade e nosso universo psíquico estão desenhados nas impressões psicomotoras que adquiridas no inicio de nossas vidas. Assim chegamos a um imenso leque de possibilidades, que revela a importância da passagem dos bens conquistados pela nossa espécie, de pais para filhos. E o movimento é uma dessas possibilidades."
Produção Teórica
Desde 2010, Bertazzo e sua equipe iniciaram a organização teórica e prática do Método Bertazzo em 3 livros:
• Corpo Vivo: Reeducação Do Movimento
• Cérebro Ativo
• Escuta Da Pele.
O livro "Corpo Vivo" contém uma síntese do Método Bertazzo, testado e consolidado nestas mais de três décadas, e ensinará como estruturar o corpo nos âmbitos profissional, escolar e da saúde em geral, abordando temas como: centros de energia, recursos neurológicos para estimulação motora, movimento, apoios, planos e torções. Redigido de forma leve e bem-humorada, explicitado por numerosas fotografias e ilustrações, a obra conta com a colaboração das fisioterapeutas Ana Marta Nunes, Geni Castro, Juliana Storto e Liza Ostermayer.
Em 2012 uma seleção de exercícios do Método Bertazzo que dá continuidade ao livro “Corpo Vivo: Reeducação do Movimento”, publicado em 2010. A obra é explicitada por fotografias e ilustrações, com uma linguagem bem humorada e acessível tanto aos leigos quanto aos profissionais da área, mas especialmente voltada aos primeiros. São apresentados exercícios que trabalham o alinhamento da postura ao manter-se em pé, movimentos relacionados à força da gravidade, coordenação motora fina, tórax e coluna vertebral, e estabilidade combinada à flexibilidade, extremamente úteis para idosos como preparação para um envelhecimento saudável do ponto de vista motor.
“As bases teóricas empregadas por ele estão apoiadas, em grande medida, nas ideias das décadas de 50 e 60, quando muitos pensadores se voltaram para o movimento do corpo e sua relação com o entorno. Tais teorias se valeram de métodos surgidos no pós-guerra, como o de Françoise Méziéres, que propôs a reeducação postural como forma de compreender o ser humano em sua globalidade” (BOGÉA: 2008)
O que já disseram sobre ele
“Como ele dá aula para a nata da sociedade, os contatos ajudam na hora de brigar por patrocínio”
Raul Barreto, ator do Parlapatões, na revista Veja (2000)
“O Ivaldo sempre aproveitou o carisma para comercializar bem seu trabalho”
Suzana Braga, crítica de dança, na revista Veja (2000) http://veja.abril.com.br/111000/p_166.html
“As bases teóricas empregadas por ele estão apoiadas, em grande medida, nas ideias das décadas de 50 e 60, quando muitos pensadores se voltaram para o movimento do corpo e sua relação com o entorno. Tais teorias se valeram de métodos surgidos no pós-guerra, como o de Françoise Méziéres, que propôs a reeducação postural como forma de compreender o ser humano em sua globalidade” (BOGÉA: 2008)
Últimos Prêmios
• 2004 - Príncipe Claus do governo holandês, por Samwaad - Rua do Encontro. Foi agraciado pelo excelência e efeito positivo de seu trabalho na área social e cultural, ao reunir 54 jovens de ONGs paulistanas no elenco. O espetáculo é parte do projeto Dança Comunidade do SESC São Paulo.
• 2004 - O Globo Prêmio Faz Diferença
• 2007 - Aprendiz de Educação Inovadora
• 2007 - Trip Transformadores
• 2009 - Ordem do Mérito Cultural, é uma ordem honorífica dada a personalidades brasileiras e estrangeiras como forma de reconhecer suas contribuições à cultura do Brasil.
Links Relacionados
Ver Também
Referências
http://www.e-biografias.net/ivaldo_bertazzo/julho/2013
http://www.metodobertazzo.com/ julho/2013
http://en.wikipedia.org/wiki/Ivaldo_Bertazzo julho/2013
http://www.producaocultural.org.br/slider/ivaldo-bertazzo/ julho/2013
https://www.facebook.com/metodoivaldobertazzo/info julho/2013
Inês Vieira Bogéa, diretora da São Paulo Companhia de Dança, no jornal Unicamp Hoje (2008) http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2008/ju393pag04.html