Leda Iuqui
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Apresentação
Leda Rivas, nome de batismo de Leda Iuqui, nasceu no dia 26 de outubro de 1922, na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul.
Seu pai, Donato Rivas Frances, é natural da província espanhola de Zaragoza e veio para a América do Sul fugido de casa, aos quatorze anos, quando entrou em um navio rumo à Argentina. Depois de algum tempo na Argentina, mudou-se para o Brasil, após conseguir emprego como consultor de uma empresa que fabricava máquinas de escrever, com sede no Rio Grande do Sul.
Donato conheceu Maria Carolina Lima, mãe de Leda, no Rio Grande do Sul. Casaram-se em abril de 1921, e tiveram sua primeira filha um ano depois.
Logo após o nascimento de Leda, mudaram-se, em virtude do trabalho de Donato, para a capital, Porto Alegre, onde viveram por quatro anos e tiveram seu segundo filho, José.
Em 1926 muram-se novamente, dessa vem para Campinas, no Estado de São Paulo, onde ficaram por três anos.
Em 1929, quando havia completado sete anos de idade, teve que se mudar para o Rio de Janeiro, pois seu pai havia sido novamente designado para uma nova unidade.
Donato mandou a esposa e os filhos irem na frente, para irem se adaptando a nova cidade enquanto ele preparava os últimos detalhes da mudança, porém ele nunca se mudou de fato deixando sua família sozinha no Rio de Janeiro, sumindo do mapa sem dar notícias e nenhuma explicação.
Maria Carolina esperou por notícias e procurou pelo marido, e a media que não obteve sucesso seguiu sua vida, assim como seus filhos. Leda, por muito tempo, manteve a janela de seu quarto aberta, na esperança de que seu pai visse visitá-la.
Maria Carolina casou-se novamente, com Rossani, um amigo que havia ajudada nas buscas pelo seu ex-marido. A família se mudou para Rua Sorocaba, no bairro de Botafogo.
Aos treze anos de idade, Leda ainda era muito franzina e com o corpo pouco desenvolvido. Preocupada com a situação de saúde de sua família, Maria Carolina levou-a ao médico, a fim de buscar algum conselho.
O doutor aconselhou que a menina fizesse algum esporte, como natação, que era muito bom para o desenvolvimento do corpo e da musculatura. Leda recusou na hora, e disse que não faria nenhum exercício que não fosse balé.
Maria Carolina sempre levava seus filhos para espetáculos de ópera, concertos e balé, fato que influenciou na escolha da menina pelo balé.
A decisão de Leda, pela prática do balé, não foi vista com bons olhos por alguns membros da família. Seu padrinho e tio, por exemplo, se pôs contrário, pois naquela época se achava que moças de boa família não deveriam frequentar o ambiente teatral.
Seu padrasto, Sr. Rossani, foi quem deu o maior apoio, levando a menina para fazer sua primeira entrevista, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro com a mestra e coreógrafa russa Maria Olenewa.
Assim, em 1937 Leda Iuqui começou seus estudos de balé, freqüentando aulas particulares com a mestra Olenewa, em uma das salas do Theatro Municipal.
Após sua entrada para as aulas, seu padrasto procurou Olenewa para uma conversa. Preocupado com o futuro da menina, Sr. Rossani pediu que após um tempo, a mestra avaliasse se a menina realmente tinha talento para a dança, pois caso não tivesse, tiraria ela das aulas e levaria para estudar outra coisa que ela fosse mais apta a fazer.
Poucos meses após ter começado, Leda já teve a difícil tarefa de executar um passo muito complexo, cujo qual ela não obteve sucesso.
Olenewa foi muito dura com ela após o fracasso, dizendo que se ela continuasse daquela maneira “iria acabar lavando o chão do palco”. Leda saiu da sala chorando, e foi para o vestiário, onde foi consolada por suas colegas.
Passado o momento de choque, Leda Iuqui levantou-se, enxugou suas lágrimas e disse que não deixaria com que Olenewa dissesse que ela não é capaz: “Ela não vai me impedir de fazer o que gosto” – Disse Leda Iuqui.
Chegando a casa, Leda dirigiu-se para a ampla varanda com balaustras que havia na frente da casa, onde praticou exaustivamente o passo, até acertar. Voltou no dia seguinte para a aula, para a surpresa de Maria Olenewa, que perguntou o que a menina fazia ali, e depois de vê-la executar o passo com perfeição disse: “Você dá para a coisa”.
Terminada a aula, Maria Olenewa procurou o padrasto de Leda, para cumprir sua parte do combinado, dizendo que a menina não só tinha talento, mas também a fibra moral e a força de vontade indispensável para o sucesso na carreira.
O início da vida profissional
Leda Iuqui apresentou-se pela primeira vez no Theatro Municipal no dia 13 de junho de 1936, pouco mais de seis meses após ter iniciado seus estudos de dança.
Dançou Danúbio Azul, com coreografia de Maria Olenewa e música de Strauss, no espetáculo do corpo de baile que havia sido criado ainda naquele ano.
No dia 12 de novembro apresentou-se novamente, dançando outra vez Danúbio Azul.
Dançou também nos espetáculos Bolero, Grupo de Mantilhas, Petrouchka, Sylphides e no divertissements Dança Tiroleza, todos na temporada de 1937.
Participou também da temporada lírica, fato comum com as bailarinas de Olenewa, que aproveitam essa oportunidade para ganhar maior experiência de palco.
No ano seguinte apresentou-se em Petrópolis, cidade da Região Serrana do Rio de Janeiro, como solista da Companhia Lyrica Metropolina.
A carreira de Leda se firmava cada vez mais. Seu talento começou a ser percebido e descrito pela crítica especializada, e em 1939 decidiu adotar seu nome artístico. Ao contrário da tradição das aulas de Olenewa, onde a mestra era quem batizava as alunas, Leda foi rebatizada pelo seu padrasto, que sugeriu um nome que pudesse ser lido de trás pra frente sem perder o sentido, fato que, segundo ele, traria sorte.
Em 1939, Olenewa convidou o tcheco Vaslav Veltchek, famoso coreógrafo e maître-de-ballet- da Ópera Comique de Paris, para dividir com ela a preparação dos espetáculos daquele ano, fato que teve grande cobertura da imprensa.
Com coreografias de Maria Olenewa e Vaslav Veltchek, a temporada foi uma grande sucesso, entrando para a história do Theatro Municipal do Rio de Janeiro por ter sido o primeiro ano com uma temporada oficial de bailados do corpo de baile do Theatro.
Leda se destacou em suas apresentações na temporada, e apenas quatro anos após ter iniciado seus estudos de balé, passou no exame para solista do Theatro Municipal. Porém, foi apresentada como solista substituta em 1939, por ter gentilmente aberto mão de sua posição para uma bailarina que se encontrava no limite de idade para assumir tal posto.
No mesmo ano, Olenewa e suas alunas, tanto curso particular quanto da escola do Theatro Municipal, se apresentaram em um festival em benefício dos flagelados pela enchente do Rio Grande do Sul.
Agora a companhia deixou de ser tratada como promessa, para se tornar realidade, tomando espaço na mídia.
A carreira de Leda Iuqui deslanchava, mas em casa as coisas não iam tão bem.
Com o estouro da Segunda Guerra Mundial, seu padrasto, um diplomata de carreira, foi transferido para o Panamá. Sua mãe, Maria Carolina, optou por ficar no Rio de Janeiro junto de seus filhos. Sr. Rossani enviava dinheiro para sua família no Rio, porém, com as dificuldades impostas pela guerra, o dinheiro passou a não chegar, fazendo com que se iniciasse um período de grave crise financeira para Leda, seu irmão e sua mãe.
Apesar do grande sucesso dos anos anteriores, o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro não realizou temporada em 1940, porém, fizeram parte dos festejos realizados no mês de abril, em São Paulo, para inaugurar o Estádio do Pacaembu.
Foram duas apresentações, um no dia 27 no próprio Pacaembu, outra no dia 28, no Teatro Municipal de São Paulo.
Em 30 de maio do mesmo ano, o Ballet de Monte Carlo chegou ao Rio de Janeiro, ficando até o dia 18 de junho, realizando sua primeira excursão pela América do Sul.
A passagem do Ballet de Monte Carlo pelo Rio trouxe uma surpresa para Leda Iuqui. Leonid Massine, diretor artístico e coreógrafo da companhia, precisou de alguns elementos extras para completar seu quadro de bailarinos, escolhendo Leda para figurar ao lado de grandes nomes na montagem de Scheherazade.
As poucas apresentações oficiais do corpo de baile do Theatro Municipal fizeram com que os bailarinos investissem seus esforços nos balés das óperas, que nunca haviam deixado de ser um ótimo meio para se apresentar ao público, além de se manterem em forma.
Naquele ano, Leda Iuqui e os outros bailarinos de Olenewa se apresentaram na temporada da ópera La Gioconda, de Ponchielle, que teve récitas programas para o mês de setembro. O fato curioso é que, o que mais chamou a atenção do público e da crítica não foram as cantoras, mas sim os bailados apresentados, todos coreografados por Olenewa.
O crítico Leo Lanner, do jornal A Noite, publicou uma nota sobre a apresentação, no dia 20 de setembro:
“O clímax do espetáculo foi a Dança das Horas (...) Cabe aqui uma referência especial a uma jovem estreante: Leda Iuqui, solista do grupo das horas matinais. Graça, leveza, elegância, nada lhe falta para ser uma futura estrela".
A carreira de Leda Iuqui estava deslanchando, e a reprovação inicial de alguns membros de sua família já haviam sido esquecidas. Leda agora era aspirante a estrela de balé. Seu nome era presença constante nos jornais, teve inclusive uma matéria inteiramente dedicada a ela em um jornal. Havia sido destacada como a dona da mais fina “sensibilidade brasileira”, pelo jornal O Radical, publicação do dia 21 de setembro de 1940.
Nesse ano não houve muitas apresentações do corpo de baile do Theatro Municipal, porém, no dia 25 de novembro houve uma festa dedicada à arte clássica, realizada no Teatro Carlos Gomes, como parte das comemorações do 45° aniversário do Clube de Regatas do Flamengo. A festa contou com participação de grandes nomes do meio artístico da época, inclusive com uma apresentação de Leda Iuqui, dançando Fantasia Espanhola.
Em 1941 aconteceu a comemoração do aniversário da cidade do Rio de Janeiro. Alguns bailarinos do Theatro se apresentaram na festa, realizada no Teatro João Caetano. Alguns bailarinos dançaram O Despertador da Primavera, criação de Yuco Lindberg, musica de Grieg, e leda dançou na Valsa Lenta e no Grande Final.
Em 31 de maio, os alunos de Olenewa voltaram a se apresentar no Municipal, num espetáculo a favor das vítimas das enchentes em Porto Alegre, patrocinado pela primeira-dama da época, Sra. Darcy Vargas.
O programa preparado era de longe duração, com trinta e seis números. Leda Iuqui se destacou ao solar Melodia Clássica, com música de Guinod, e também por sua participação na Rapsodia Húngara, música de Lista, ambas as coreografias de Olenewa.
Em 1941, a temporada do Corpo de Baile do Theatro Municipal teve somente uma apresentação, realizada no dia 23 de outubro. Foram apresentados bailados da ópera Thaís, de Massenet, e Les Sylphides, em que leda participou como solista.
O ano de 1942 veio junto com a quase realização de um sonho.
A companhia Original Ballet Russo, dirigida pelo Colonel de Basil, em tournée pela América do Sul passou pelo Rio de Janeiro, e Colonel de Basil, impressionado com o talento, graça e técnica de Leda Iuqui, convidou-o para fazer parte de sua companhia e excursionar pelo continente americano e europeu.
Porém, Leda recusou o convite. A situação financeira de sua família ainda era muito complicado, e Leda não podia deixá-los assim, sem nenhum tipo de apoio.
Leda Iuqui tinha decidido por se dedicar a dança, e não formar uma família além da que já possuía. O convite para integrar a companhia dirigida pelo Colonel de Basil foi uma prova irrefutável de seu sucesso e reconhecimento, e mesmo não aceitando fazer parte da mesma nas tournées, integrou o quadro de bailarinos por algum tempo, dançando com o Original Ballet Russe enquanto estavam se apresentando no Rio de Janeiro.
Poucos meses depois de ter tomado a decisão mais difícil de sua vida, e recusar o convite para integrar o Original Ballet Russe, outro sonho se realizou. Tornou-se primeira-bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Entre os meses de agosto e setembro de 1942, participou da temporada lírica do Theatro Municipal, dançando em Manon, de Massenet; em Tiradentes, de Eleazar de Carvalho, em que executou o solo da Turmalina; em La Traviata, de Verdi se consagrou como primeira-bailarina.
Em 19 de setembro de 1942, o crítico Hilton Rocha publicou uma matéria na revista Carioca, falando da felicidade que era assistir a Leda Iuqui enquanto dançava.
Na temporada oficial do Corpo de Baile do Municipal, desse mesmo ano, Leda participou dos espetáculos: Les Sylphides; Danúbio Azul e As Garças, com coreografia de Olenewa e música de José Siqueira; bailados das óperas Carmen, Thaís e de Batuque, coreografia de Yuco Lindberg e música de Nepomuceno.
Publicação do jornal A Manhã, do dia 18 de outubro:
“Figurando como solista nos bailados Carmen, Thaís e As Garças, a jovem e graciosa Leda Iuqui, obteve merecido sucesso, sendo calorosamente aplaudida pela segurança, vivacidade e pela harmoniosa graça que soube imprimir a todos os números que animou com seu belo azul talento amanhecente. No bailado do maestro José Siqueira ela foi a graça azul e tudo na sua dança se impregnava de poesia e ritmo, tudo sugeriu pureza e sonho. O corpo da jovem bailarina lembrava um poema sinfônico...”.
Leda Iuqui no Golden Room
Em 1942, Caribé Rocha, representante do Copacabana Palace, estava à procura de bailarinas clássicas para atuarem em um show que ele estava montando, com apresentações no Golden Room, salão do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro.
Leda Iuqui foi uma das bailarinas convidadas por ele. De início não demonstrou muito interesse, mas devido ao excelente salário que era oferecido, e a dificuldade financeira que estava passando com sua família, viu nesse trabalho uma proposta de melhora para sua situação financeira, aceitando-o.
Em dezembro, Leda fazia sua estreia no Golden Room, dançando ao lado de Nini Thelaide. Em fevereiro de 1943, Leda Iuqui foi extremamente elogiada após sua interpretação da musa sevilhana, no show Um Sonho de Silvio Caldas.
Em maio houve a estreia do show A vida carioca em 1900, também com Silvio Caldas. O show foi novamente sucesso, as coreografias de Vaslav Veltchek e Nini Thelaide, assim como as danças de Leda Iuqui e os figurinos de Alceu Penna, foram elogiados por toda a imprensa.
Para o jornal A Manhã, o novo espetáculo era “uma verdadeira joia da concepção”.
Leda Iuqui continuou se apresentando no Golden Room com espetáculos que cada vez mais se tornavam sucesso de público.
As apresentações no Golden Room marcaram e mudaram a vida de Leda Iuqui, que viveu através da li uma nova fase artística e uma mudança de postura em relação a sua vida pessoal.
Pouco a pouco a ideia de se dedicar exclusivamente a carreira foi deixando de existir, abrindo espaço para que ela conhecesse pessoas. Foi então que começou a namorar com Caribé Rocha, médico que atendia em clínicas durante o dia e jornalista que se dedicava aos eventos do Golden Room durante a noite.
Casaram-se no dia de 3 de outubro de 1995, depois de uma longa luta para convencer a Sra. Maria Carolina a aceitar Caribé Rocha como marido de sua filha.
Na temporada de 1943 do Theatro Municipal, Veltchek assumira como diretor e coreógrafo do Municipal, uma vez que Olenewa havia se afastado.
Destacam-se, naquele ano, as seguintes coreografias:
• A Morte do Cisne (Dilú Melo e Ovídio Chaves);
• O Espectro Rosa (Dilú Melo e Ovídio Chaves);
• Uirapuru (Dilú Melo e Ovídio Chaves);
• Festa na Roça (Dilú Melo e Ovídio Chaves);
• Meia Canha (Dilú Melo e Ovídio Chaves); e
• A Felicidade (Yuco Lindberg).
Leda brilhou nas 16 récitas apresentadas. Sua elasticidade e segurança nas pontas ao executar os passos mais elaborados provaram, mais uma vez, sua qualidade como bailarina.
O jornal O Globo, publicou em 16 de junho uma matéria sobre a temporada dos bailarinos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, destacando o trabalho de braços executados por Leda Iuqui, bem como sua interpretação na peça de Yuco Lindberg.
Também em 1943, a partir de uma iniciativa da União Nacional dos Estudantes, capitaneada por Sansão Castelo Branco futuro idealizador do Ballet da Juventude, para oferecer cursos de arte para os estudantes na sede da U.N.E., que Leda Iuqui descobriu uma nova paixão: a de dar aulas de dança.
O ensino de dança foi escolhido como um dos primeiros para entrar em funcionamento. Os professores convidados para fazer parte do projeto foram Leda Iuqui e Carlos Leite, porém, o curso nuca vingou.
No ano seguinte foi realizado, no dia 17 de dezembro, o Festival de Danças no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Participaram Leda Iuqui, Tamara Grigorieva, Tatiana Leskova, Lida Kuprina, Ana Volkova, Wilson Morelli e James Upshaw.
Supervisionado por Vaslak Veltchek, o programa de Leda tinha Les Sylphies, Chorinho, música de Ernesto Nazareth e Dança Russa, música de Tchaikovsky. Leda também solou Valsa, de Francisco Mignone.
Em 1994 a temporada de bailados do Municipal limitou-se a dois espetáculos, que foram realizados no mês de outubro, com direção e coreografias de Yuco Lindberg, então diretor do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Leda fez parte de Inspiração, com música de Chopin, Rondó, Caprichoso, com música de Saint-Saens, e Batuque, de Nepomuceno, em que dançou o papel principal ao lado do coreógrafo.
Mais uma vez, a crítica publicou artigos elogiando sua performance.
“Rondó, Caprichoso e Batuque foram especialmente vividos pelo talento e pela arte, já muito apreciável da jovem bailarina brasileira Leda Iuqui, brilhantemente secundada pelo seu esforço parciário, o coreógrafo Yuco Lindberg”.
Oscar D’Alva –Revista Fon-Fon.
Os espetáculos no Golden Room também seguiram com sucesso naquele ano, mas ainda sim, apesar do sucesso e do bom salário, Leda Iuqui não abria mão de participar das temporadas líricas do Municipal.
Também em 1994, Leda recusou um segundo convite para fazer parte do Original Ballet Russe, que em sua segunda temporada carioca tentara contratar a brasileira. Dessa vez o motivo da recusa foi seu relacionamento com Caribé Rocha, além do não interesse em deixar o país.
Em 1945, para a nova temporada do Corpo de Baile do Theatro Municipal, que estava há um ano sem se apresentar, foi chamado o bailarino e coreógrafo russo [[Igor Schwezoff], porém, esse ano não foi dos melhores para Leda. Desentendimentos com Schwezoff, enquanto se recuperava de um acidente ocorrido em uma das aulas no Theatro, fizeram com que Leda solicitasse seu afastamento, fato que se deu em maio de 1945.
Como não tinha direito a licença, por trabalhar em outro lugar, fez seu pedido de demissão do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Apesar da saída do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a carreira de Leda Iuqui continuava deslanchando, mas agora somente nos shows no Cassino Copacabana.
Com coreografias de Veltchek, leda tinha como parceira Lida Kuprina, e depois passou a solar os grandes números ao lado do bailarino argentino Alberto Siccardi.
A dupla Iuqui-Siccardi, lançada por Max Von Stukart, diretor artístico do Cassino, fez tanto sucesso que foi repetira nos shows do ano seguinte.
Em 1994 Leda Iuqui se tornou também estrela de cinema, ao participar do filme Tristezas não pagam dívidas, e depois, participou de um documentário em 1945, intitulado Rainhas do Bailado, e filmado por Milton Rodrigues. O documentário mostrava momentos das principais bailarinas que atuavam no país na época, como Leda Iuqui, Madeleine Rosay, Juliana Yanakieva e Eros Volusia. Ainda em 1945, dançou ao lado de Yuco Lindberg, no filma]e Não adianta chorar, produzido pela Atlantida e dirigido por Watson Macedo.
Com a saída de Schwezoff do Municipal, que foi substituído por Yuco Lindberg, Leda retornou ao Theatro, apresentando-se na nova temporada como figura principal em Uirapuru, ao lado do bailarino norte-americano Nat Soudenmire.
Nesse mesmo ano a bailarina Nina Verchinina, que fazia parte do Original Ballet Russe, que estava em sua terceira e última temporada no Brasil, foi contratada para assumir como diretora e maîtresse de ballet do Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. No dia 19 de dezembro Verchinina fez sua estréia á frente do Municipal, realizando espetáculo para comemorar o centenário de Castro Alves, e aproveitando para se apresentar para a crítica artística da cidade.
O ano de 1947 foi de grande expectativa para Leda, a crítica especializada e o público que frequentava o Municipal.
Esperava-se que, agora com Nina Verchinina à frente do Theatro Municipal do Rio, Leda Iuqui fosse ter papéis de destaque, o que nunca aconteceu de fato.
Fortes reações contrárias aos métodos usados por Verchinina, assim como problemas administrativos, fizeram com que ela se afastasse da direção da casa, voltando à Europa no ano seguinte.
Após isso, Leda Iuqui também se afastou de Theatro Municipal. A pedido do marido, passou a dedicar-se apenas aos shows no Cassino Copacabana.
No dia 16 de julho de 1948, Leda estreou ao lado de Arthur Ferreira, o espetáculo Yen Chientsai (Conflitos D’Alma), um romance chinês que foi um tremendo sucesso.
Em 1951, com o fechamento dos cassinos e os compromissos familiares com seu marido e sua recém nascida filha, fizeram com Leda Iuqui se afastasse dos palcos por um longo tempo.
Em 1952, ainda longe dos palcos, Leda recebeu a homenagem do escultor Matheus Fernandes, que esculpiu suas pernas em gesso, mostrando a perfeição de sua quinta posição na ponta. Alguns anos depois a escultura se tornou objeto de ornamentação da biblioteca de sua escola, em Copacabana.
Leda Iuqui voltou a se apresentar no Golden Room em 1954, no show Fantasia e Fantasias, e foi recebida com entusiasmo por toda a imprensa.
Após tomar aulas por alguns meses com Nina Verchinina, que havia voltado ao Brasil a convite de Caribé para montar o espetáculo do Copacabana Palace, Leda retomou sua antiga forma, dançando o papel de serpente na parte clássica do show. Essa foi sua última apresentação como bailarina. Agora Leda Iuqui se tornara professora, uma das mais respeitas de todo o país.
Leda Iuqui sempre foi muito disciplinada com sua profissão, sempre justa com as pessoas, além de ser de uma personalidade calma, serena. Tal comportamento permaneceu, e a mesma dedicação que ela tinha com sua carreira, agora ela tem com sua filha e com seus alunos.
Compartilhando o saber
Em 1947, Leda Iuqui deixou o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, retornando somente em 1953, mas dessa vez, para ministrar aulas na Escola de Danças do Theatro.
O amor pela dança e o prazer que sentia em formar novos bailarinos fez com Leda abrisse seu próprio estúdio.
Em 1954, surgiu então, na Rua Rodolfo Dantas, em Copacabana, o Curso de Bailados Clássicos Leda Iuqui. Em pouco tempo o estúdio de Leda se transformou em referência de qualidade na formação de dança no Rio de Janeiro.
As aulas ministradas no estúdio de Leda ensinavam, além da técnica da dança, a disciplina e postura necessárias para se tornar uma bailarina de sucesso. Leda Iuqui, Edith de Souza e Julia de Quiroz eram as professoras do estúdio, que ofereciam aulas rigorosas, em que os alunos deveriam seguir à rigor as regras de conduta. No início, eram dez alunas, pouco depois cinquenta que transformaram-se rapidamente em duzentos.
Leda Iuqui foi a primeira a oferecer aulas de balé também para crianças pequenas, abrindo em seu estúdio a “turma especial”, para crianças maiores de 3 anos.
Depois de dois anos de funcionamento, o estúdio tinha um número de alunos tão alto que Leda teve que mudar para um espaço maior.
Comprou então, junto com seu marido, Caribé Rocha, oito conjuntos de salas no Centro Comercial de Copacabana, que estava sendo construído na esquina da Rua Siqueira Campos com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana.
Em janeiro de 1958, Leda e Caribé viajaram para a Europa. A fim de fazer pesquisas para seu novo curso de dança, visitaram os melhores teatros e algumas escolas, para fazer uma análise que servisse de base para sua nova escola.
Além desse novo conhecimento técnico, proveniente das visitas que fizeram, trouxeram consigo um vasto e valoroso material didático. Livros, catálogos, programas e músicas que seria disponibilizados para os alunos na biblioteca da escola.
Foi então inaugurada, no dia 12 de julho de 1958, a Leda Iuqui Academia de Ballet. Ocupando o 9° andar do Centro Comercial Copacabana, a escola tinha uma infra estrutura jamais vista em escolas do Brasil. Recepção com ar-condicionado, que era artigo de luxo por seu elevado preço na época, secretaria, sala de direção, duas amplas salas de dança preparadas com o melhor dos materiais, uma sala para aulas teóricas, auditório com capacidade para 130 pessoas, vestiários com três banheiros cada, salas e vestiários exclusivos para professores, bar, biblioteca e, por fim, uma discoteca.
A Leda Iuqui Academia de Ballet, logo ganhou o merecido título de “O Palácio da Dança”.
Leda, em homenagem aos seus grandes mestres e amigos, nomeou as salas de dança de Vaslav Veltchek e Yuco Lindberg, que já havia falecido; o auditório recebeu o nome de Maria Olenewa. Veltchek e Olenewa foram para o Rio, junto da irmã de Yuco, especialmente para a inauguração da escola, que chegou a ter três mil alunos inscritos.
O método de ensino adotado pela escola, assim como sua magnífica estrutura, foram saudados por toda a imprensa.
Os alunos deveriam seguir rígidas normas de conduta, respeitando fielmente os horários, a vestimenta e sempre carregando consigo o cartão de presença, método adotados pela escola para monitorias a frequência dos alunos.
Os exames finais continham provas escritas e orais, sendo que a segunda era surpresa, sorteada na hora para ver se os alunos estavam realmente se dedicando ao processo de aprendizagem.
As provas práticas eram realizadas na presença de três examinadores de fora da escola, que formavam uma banca de avaliação.
Passaram pela banca de avaliação, bailarinos e professores consagrados da dança no cenário carioca, entre eles:
• Tamara Capeller;
• Arthur Ferreira;
• Emílio Martins;
• Armando Nesi;
• Consuela Rios;
• Bertha Rosanova;
• Claral Simelis;
• Claral Vidal; e
• Gertrudes Wolf.
Os pais também podiam acompanhar o desenvolvimento de seus filhos na escola. A cada dois meses acontecia uma “aula auditório”, para expor o trabalho de Leda, dos bailarinos e da escola para o público.
Na viagem que fez com seu marido a Europa, em janeiro de 1958, aproveitou para visitar sua família que vivia na província de Zaragoza. Lá encontrou Tia Francisca, irmã gêmea de seu pai. Tia Francisca disse a ela que seu pai havia vivido durante alguns anos no Chile, e que a pouco tempo ela havia recebido uma carta comunicando o falecimento de seu irmão desaparecido. Segundo a carta, Francisco – que era seu verdadeiro nome. Donato era o nome do irmão mais velho, cujos documentos roubara quando fugiu de casa, aos 14 anos – havia formado uma família no Chile, deixando seis filhos.
Apesar de tudo, Leda ficou muito feliz ao receber a noticia de que tinha seis irmãos. Tratou de estabelecer contato e programar uma visita, logo todos se tornaram amigos.
Em sua escola, Leda sempre buscava o melhor para seus alunos, e por isso, em abril de 1959, convidou Vaslav Veltchek para ministrar uma semana de aulas, finalizando com uma grande palestra sobre dança teatral. Também preocupada com a vivência da dança de seus alunos, que só é adquirida através de espetáculos, Leda decidiu criar o corpo de baile da escola.
Fazia questão que, apesar do alto nível técnico de seu alunos, o corpo de baile fosse tratado como amador, e por isso apresentavam-se somente em espetáculos beneficentes.
Com apresentações anuais nas renomadas casas de espetáculo cariocas, como o Golden Room, o Teatro da República e o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o corpo de baile logo se tornou sucesso, sendo aclamado pela critica como o melhor da cidade.
A escola de Leda também participava de vários eventos de dança. Em setembro de 1962, Leda Iuqui foi, na companhia de doze bailarinas, para a cidade de Curitiba, onde acontecia o Primeiro Encontro de Escolas de Dança.
Estiveram presentes no encontro cerca de 300 estudantes de dança, representando vinte e cinco escolas de diversos estados do país.
O encontro tinha como intuito não somente apresentar as coreografias de cada escola, mas também fazer com que houvesse uma aproximação e troca de experiências entre elas. Nesse encontro foi distribuído um pequeno livro, preparado por Leda, com o nome “Anotações de uma Professora de Balé”. No livro eram dadas orientações sobre balé, para aqueles que ainda eram iniciantes na dança.
No ano seguinte, ocorreu o Segundo Encontro de Escolas de Dança, em setembro na capital nacional, Brasília. Esse não teve tanto sucesso quanto o primeiro, atingindo um número de participantes abaixo do esperado, porém, Leda e seus alunos estavam presentes mais uma vez.
O terceiro encontro jamais aconteceu, porém o Professor Paschoal Carlos, idealizador do projeto, propôs, em janeiro de 1964, a criação da Caravana de Arte e Cultural, que levaria arte e informação para todo o Brasil.
A escola de Leda juntou-se a causa, apresentando-se em diversas cidades do Brasil.
Em 1968, Dalal Achar convidou Leda Iuqui para dirigir, junto com ela, o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Muito emocionada, por ter a oportunidade de voltar ao lugar onde tudo começou, aceitou o convite.
Em um ano, tempo em que ficaram juntas à frente do Corpo de Baile do Municipal, montaram o balé Cinderella, com Sonia Villela e Armando Nesi nos papéis principais, e Eleonora Oliosi e Ruth Lima como as irmãs. Ainda entrou na programação, O Romanceiro da Inconfidência, criação de Johnny Franklin.
Nesse ano Leda teve que se desdobrar, por estar a frente do Theatro Municipal e de sua escola.
Em 1967, o espetáculo apresentado por sua escola, que era considerada o celeiro dos grandes talentos da dança, formando nomes como Ana Botafogo, foi considerado o melhor do ano, porém, no início da década de 1970, após 15 anos de funcionamento da Leda Iuqui Academia de Ballet, a escola foi vendida, para Maria Augusta Morgenroth. Leda ficou ainda na direção por dois anos, a pedido de Maria Augusta, passando a escola para ela somente em 1972.
Leda vendeu sua escola para poder dedicar-se mais a sua família. As viagens que fazia com seu marido junto com o delicado estado de saúde de sua filha foram os agentes motivadores de sua decisão. Porem, não conseguiu ficar muito tempo longe das salas de aulas. Apenas seis anos depois de ter vendido sua escola, abriu junto de Carla, sua filha, uma nova escola.
O Centro Educacional de Ballet Leda Iuqui (CEB), fundado em agosto de 1978 por Leda Iuqui e sua filha Carla, na Rua Mascarenhas de Moraes, em Copacana.
Com uma estrutura invejável, o CEB logo se tornou refereência. Nomes internacionais da dança, como Fernando Bujones, Carla Fracci, Alicia Alonso, Galina Ulanova e Mikahil Barishnikov maravilharam-se com a estrutura e a atmosfera, repleta de amor e muita dedicação, que havia na escola.
O CEB encerrou suas atividades em dezembro de 1983, após 5 anos de sua fundação.
Leda estudava pedagogia da dança, e ao passar dos anos seus estudos se intensificavam.
Leda e Carla promoveram, com o intuito de informar e trocar experiências, dois congressos sobre dança. O primeiro congresso, batizado de Congresso Nacional sobre Ensino de Dança, aconteceu em setembro de 1981, e o segundo em julho de 1982.
Leda lançou também um livro, nesse mesmo ano. Intitulado de Ballet – Termos, passos e sua execução, apresentava os termos técnicos, descrevendo-os de forma clara e precisa, na tentativa de contribuir para um melhor entendimento do balé.
Leda Iuqui sempre foi muito dedicada, e tanta dedicação fizeram dela bailarina de sucesso, e mais tarde professora de sucesso. Importava-se com os outros, e compartilhava todo o conhecimento que podia, esperando contribuir na formação de seus alunos. Movida a enorme paixão pela dança, Leda formou grande nomes da dança, e deixou um precioso legado para a dança e a cultura brasileira.
Fonte
Cerbino, Beatriz
Leda Iuqui: o bailar da mestra / Beatriz Cerbino.- Rio de Janeiro: FAPERJ, 2002.
64p. - 25cm. - (Série Memória do Theatro Municipal do Rio de Janeiro; 33)