Balé Teatro Guaíra

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Naianasato

O Balé Teatro Guaíra (BTG) é, assim como Guaíra 2 (G2) Cia de Dança, Escola de Dança Teatro Guaíra e Orquestra Sinfônica do Paraná, um dos corpos estáveis do Centro Cultural Teatro Guaíra.

Este artigo foi extraído do texto BALÉ TEATRO GUAÍRA, de Cristiane Wosniak, cuja reprodução foi autorizada pela autora.

Tabela de conteúdo

Início: Ceme Jambay

A origem

O Corpo de Baile da Fundação Teatro Guaíra foi criado pelo Governo Paulo Pimentel, através da portaria nº 3517/68 do Secretário Cândido Manuel Martins de Oliveira, da Educação e Cultura, em 12 de maio de 1969, atendendo proposição formulada pelo Superintendente do Teatro Guaíra, Octavio Ferreira do Amaral Neto. Após rigorosos testes, no dia 2 de junho de 1969, foram selecionados dez bailarinos – dos 15 inscritos – radicados em Curitiba, para o integrarem. Segundo a ata do Teste de Seleção, redigida a 02 de junho de 1969, a banca examinadora era composta por Ismael Guiser, Eric Cavalcanti (Waldo), Eliana Caminada (todos do Rio de Janeiro) e Yara Barbosa de Cunto, diretora do Curso de Danças Clássicas da Fundação Teatro Guaíra, que aprovaram os seguintes bailarinos nesta primeira audição: ADELINA MORIS, ALINE JAMBAY BORBA, CECI CHAVES, GLEISY LAIS MARTY, JOÃO CARLOS CARAMÊS, JOÃO DIONÍSIO LEANDRO, LORACI SETRAGNI, MARIA HELENA GOMES, MIRIAM TRAPLE e RAQUEL CAETANO DOS SANTOS.


Yara Barbosa de Cunto, nesse período, contribui decisivamente para a criação do Corpo de Baile do Teatro Guaíra e convida o bailarino curitibano, Ceme Jambay, para assumir a direção, embora tenha continuado a ser sua assistente até 1971. A justificativa governamental para a criação do primeiro Corpo de Baile oficial do Estado indica a ‘valorização do potencial genuinamente paranaense nas artes’, conforme se nota na seguinte matéria jornalística:


"O Paraná é o terceiro Estado brasileiro a ter um corpo de baile oficial. Afora os corpos de bailes dos teatros municipais do Rio de Janeiro e 
São Paulo, em nenhum outro estado do Brasil existe um corpo de baile oficializado [grifo nosso]. Hoje e amanhã o Corpo de Baile do TG
estará fazendo suas primeiras apresentações ao público de Curitiba."
[1]


É claro que uma companhia recém contratada (a audição foi realizada em junho) deveria manter-se trabalhando com afinco para tentar construir uma unidade cênica, aperfeiçoar a técnica de seus integrantes e, então, partir para a criação e a posterior apresentação pública, de um repertório compatível com a realidade técnica e numérica – apenas 10 integrantes – no teatro disponível no momento: o Auditório Salvador de Ferrante ou Auditório Guairinha. Mas o grupo tinha ‘sede de palco’.


A "primeira apresentação do Corpo de Baile do Teatro Guaíra" aconteceu, portanto, no Auditório Guairinha, na temporada de 12, 13 e 14 de Setembro de 1969, com menos de quatro meses de preparação técnica e ensaios diários. Constam do repertório da primeira apresentação as coreografias Impacto, de Yara de Cunto, Pas de Trois, do coreógrafo convidado Ismael Guiser e Concerto Abstrato, de Ceme Jambay. Para a estréia, Ceme Jambay sugeriu à Superintendência do Teatro Guaíra, a contratação da bailarina Jacy França – sua esposa – então residente na Companhia Brasileira de Ballet, com sede no Rio de Janeiro. Juntos, tornam-se os "primeiros bailarinos" da jovem Companhia, dançando os pas de deux que exigiam maior domínio técnico. Contando com uma razoável acolhida do público e da crítica local, os integrantes do Corpo de Baile se preparam para a segunda temporada, levada a termo em 29 e 30 de novembro do mesmo ano, dois meses depois da primeira récita.


Nesse evento, há a preocupação de melhorias técnicas que dariam suporte ao espetáculo. Contrata-se o iluminador Pedro Michalsky e o figurinista J. Jay, com apoio e confecção do estilista local, Ney Souza. No título do programa consta: Espetáculo de Ballet – Corpo de Baile do Teatro Guaíra. Na apresentação observa-se um texto que previa a contratação futura de mais cinco componentes para o corpo de baile e a legitimação de uma companhia cuja "identidade era totalmente paranaense":


"Criado para aperfeiçoar os elementos paranaenses com melhores condições de talento e técnica, o Corpo de Baile do Teatro Guaíra, já é uma 
realidade que se torna cada vez mais importante e necessária. Para 1970, o número de seus componentes será ampliado para 15 (originalmente foi
composto por dez integrantes), e, sucessivamente, assim será até se alcançar o número desejado."
[2]


Nesse espetáculo os papéis principais continuam a ser dançados por Ceme Jambay e Jacy França, em pas de deux como ‘Don Quixote’ e ‘Le Cosaire’ , além da criação de obras inéditas como ‘Variações’ , ‘Jeu de Cartes’ e ‘Vivaldi, Opus 3’ , com autoria de Ceme Jambay. No período compreendido entre a primeira e a segunda apresentação, o Corpo de baile excursionou pelo interior do Estado do Paraná, numa iniciativa do projeto ‘É Tempo de Cultura’ – promoção do Governo do Estado – tendo se apresentado, com grande acolhida, o que se traduzia pelas platéias lotadas em Campo Mourão, Jacarezinho, Bela Vista do Paraíso e outras cidades do interior do Estado.


Em 31 de janeiro de 1970, nova audição é realizada para preenchimento de vagas no Corpo de Baile e o grande destaque é o aproveitamento (regional) dos alunos recém formados na Escola de Danças do Teatro Guaíra. Personalidades de destaque no cenário da dança brasileira são convocados pelo Superintendente da Fundação Teatro Guaíra, senhor Otavio Ferreira do Amaral Neto, para compor a banca: Arthur Ferreira dos Santos – [[maître de ballet]] do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Consuelo Rios, Márika Gidali e Ceme Jambay. O diretor artístico da Fundação Teatro Guaíra, Edílson Costa, também se faz presente na ocasião. Nem todos os bailarinos tomaram posse de seus cargos, após a audição e em 14 de março de 1970, um novo teste de seleção – 2ª chamada – acontece com a presença do diretor artístico Edílson Costa e com uma banca examinadora, composta pelos mestres: Arthur Ferreira dos Santos, Renée Wells, Carlos Moraes e Ceme Jambay. Nessa ocasião, segundo a ata do teste de seleção, foram aprovados os seguintes bailarinos: BEATRIZ BRINO, Catarina Rocha, CECI CHAVES, EDSON CANESSO GARCIA, ELIANA NOGOCEKE, Gleisi Lais Marty, glória de fátima gonçalves, iara regina da cruz, João Carlos Caramês, Loraci Setragni, MARIA HELENA REIS GOMES, maria jacira amaral, RITA DE CÁSSIA MONTE, Rosana de Vasconcelos Ferreira.


Em 1970, o programa tem o título: Espetáculo de Bailados com o Corpo de Baile do Teatro Guaíra e a estréia da temporada acontece nos dias 8 e 9 de agosto de 1970. O texto de apresentação já permite antever as origens da preparação técnica e do estilo a ser adotado na concepção coreográfica da companhia:


"O Corpo de Baile do Teatro Guaíra foi criado com a finalidade de divulgar o ballet clássico e moderno [grifo nosso], sendo a 
concretização de um sonho que pairou, por muitos anos, no coração de todos, no afã de vivificar e unir as artes em nossa terra [grifo nosso].
Com apenas um ano e meio de existência, apresentou-se com sucesso nesta capital e em diversas cidades do interior do Estado. É orientado pelo
professor Ceme Jambay que, juntamente com sua esposa, Jacy França, desempenham as funções de primeiros bailarinos do conjunto."[3]


O diretor Ceme Jambay, devido à falta de bailarinos para integrar um número ideal num Corpo de Baile, propõe à Superintendência da Fundação, criar a função de ‘estagiário’ e com isto, após assistir a aulas na Escola de Danças convida, ainda em 1970, três jovens bailarinas: KÁTIA GUIRAUD, MIRIAN NOGOCEKE e RITA DE CÁSSIA MONTE. Estas alunas faziam aulas com o Corpo de Baile e apenas as avaliações (provas bimestrais) com a Escola, pois ainda não eram formadas. A temporada oficial de 1970 aconteceu nos dias 8 e 9 de agosto, mantendo como solistas, Ceme Jambay e sua esposa, Jacy França, e tendo na confecção de cenografia e adereços, Joge Eli Trauer. Faziam parte do programa, as remontagens de repertório de balé clássico Raymonda e Casse Noissete, além de coreografias inéditas de Jambay, tais como Trovadorescas, Estudo Nº 1, Homage e Carmina Burana.

1971 – 1975: Yurek Shabelewski

As direções artísticas

Em agosto de 1971, na gestão do Superintendente Hélio Puglieli, contrata-se o maître e coreógrafo, Yurek Shabelewsky para dirigir o Corpo de Baile. Nesse mesmo ano foi indicada a professora Loraci Setragni para ocupar o cargo de assistente de direção. Nascida em Curitiba, Loraci tem uma importância fundamental dentro do contexto dos primeiros anos de atividade do Corpo de Baile do Teatro Guaíra. Foi bailarina desde a criação da Companhia, tendo acumulado funções como ensaiadora, maître e assistente de direção, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo de Coordenadora do Departamento de Dança do Centro Cultural Teatro Guaíra. Dentre os primeiros trabalhos coreográficos de Shabelewski para o Corpo de Baile destacam-se: Griffon Triunfante com música de Rinaldo Rossi – para essa obra foi convidado o bailarino Jean Vardé para o papel-título – e Luz, bailado em cinco movimentos com música de Bach. Considerada sua obra-prima, Luz permanece vários anos no repertório da Companhia. Em setembro de 1971, numa audição para reclassificar e admitir novos integrantes, foram contratados os bailarinos ADELINA MORIS e JAIR MORAES.


Em 1972, por sugestão da Superintendência da Fundação, com dificuldades para manter o elenco, o número de componentes do Corpo de Baile foi drasticamente reduzido, passando a ser um Conjunto de Câmara não oficializado. Os bailarinos que compunham o "conjunto", após teste de seleção realizado nos dias 28, 29 e 30 de janeiro, eram: ADELINA MORIS, ANA MARIA FERREIRA SILVA, CATARINA ROCHA, ELIANA NOGOCEKE, JAIR DE MORAES, JOÃO CARLOS CARAMÊS, MARIA JACIRA AMARAL, MIRIAN NOGOCEKE, RAQUEL CAETANO DOS SANTOS, RENÁN CASTELLÓN, RITA CÁSSIA V. MONTE, ROSANE VASCONCELLOS FERREIRA, ROSELI PISSAIA, VERA CRISTINA MACIEL. Por ocasião dos festejos do Sesquicentenário da Independência do Brasil foram realizados vários espetáculos do CB. em União da Vitória e Porto União, promoção da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras; em Palmas, promoção da Sociedade Artística S.A.G e em Cornélio Procópio, promoção da Prefeitura Municipal. Os dois primeiros bailarinos ADELINA MORIS e JAIR MORAES deixam o Corpo de Baile para prestarem exames ao Corpo de Baile do Theatro Municipal de São Paulo, sendo ambos aprovados com distinção e contratados. Para a vaga masculina, contrata-se o bailarino e professor, RENÁN CASTELLÓN. Em 1972, a temporada conta ainda com a montagem da obra Paixões Rebeldes, para seis solistas, com coreografia de Yurek Shabelewski, a partir da música de J. S. Bach. Esta obra foi apresentada em várias cidades brasileiras, inclusive reinaugurando o Teatro Sabará, em Minas Gerais.


Em 1973, convida-se o bailarino Hugo Delavalle, que permaneceu durante o ano todo solando importantes bailados do repertório. E o projeto É Tempo de Cultura leva novamente o CB para uma excursão ao interior do estado: Antonina, Morretes, Lapa, Paranaguá, Paranavaí, Toledo, Cascavel, Palmas, Clevelândia, Rio Negro e São Bento do Sul-SC. No programa dessas apresentações constavam as novas obras de Shabelewsky: O Mandarim Maravilhoso, Danças Ciganas e Pastoral de Outono.


Em 1974, o diretor Superintendente da Fundação, Sale Wolokita, e o diretor Artístico do Teatro Guaíra, Antonio Carlos Gerber, propiciam uma turnê do Corpo de Baile, pelo Estado de Minas Gerais, no mês de julho, por ocasião do 8º Festival Internacional de Dança, apresentando-se em Ouro Preto, Belo Horizonte (Teatro Francisco Nunes) e Sabará (Teatro Sabará) com as obras Luz e Paixões Rebeldes, ambas de Shabelewski. O elenco, que fora reduzido desde 1972, conta em 1974 com os seguintes bailarinos: ANA MARIA FERREIRA SILVA, ELEONORA GRECA, ELIANE NOGOCEKE, IZAMARA BAUER, J. C. CARAMÊS, LORACI SETRAGNI, MARIA JACIRA AMARAL, MIRIAN NOGOCEKE, RAQUEL CAETANO, RENÁN CASTELLÓN, RITA CÁSSIA DE MONTE, ROSELI PISSAIA e VERA CRISTINA MACIEL. Um dos grandes acontecimentos da temporada do Corpo de Baile foi a apresentação no Guairão – auditório Bento Munhoz da Rocha Netto – durante as comemorações de sua inauguração, após o incêndio de 1970. O Corpo de Baile abre o Encontro de Corpos de Baile do Brasil, com a estréia nacional de Mosaicos, do diretor e coreógrafo, Shabelewski, com música do compositor brasileiro, Marlos Nobre.


Para a realização da Temporada Oficial do 2º semestre de 1975, contratou-se a coreógrafa Emma Sintani para montar o II Ato de O Lago dos Cisnes e El Amor Brujo criada a partir da música do compositor Manuel de Falla. Em virtude desta obra, em 1976, na programação em homenagem ao centenário de nascimento de Manuel de Falla (1876-1976), o Corpo de Baile seria convidado a fazer três apresentações de El Amor Brujo no Theatro Municipal de São Paulo, com a Orquestra Sinfônica Municipal, sob regência do Maestro Henrique Morelenbaum. Yurek Shabelewsky coreógrafa uma nova obra Fantasia Brasileira a partir da música do compositor brasileiro Francisco Mignone. Emma Sintani remonta o II Ato do balé de repertório clássico O Lago dos Cisnes.

1976 – 1978: Hugo Delavalle

O reconhecimento nacional: balé Giselle

Em 1976, ainda na gestão de Maurício Távora Neto, como Diretor Superintendente da Fundação Teatro Guaíra, assume a direção do Corpo de Baile, o bailarino e coreógrafo argentino Hugo Delavalle e Loraci Setragni continua como assistente de direção. O Corpo de Baile, passando por diversas reformulações, atinge, em 1976, um total de 24 bailarinos, sendo 14 moças e 10 rapazes. Estes integrantes, vindos de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, foram aprovados em testes de seleção ocorridos em março e abril de 1976. Personalidades do mundo da dança, tais como Helba Nogueira – Assessora de Dança do Ministério da Educação e Cultura do Rio de Janeiro, Marilia Franco, Ceci Chaves e Erivaldo Cavalcanti foram convidados para compor as bancas examinadoras. Após a realização dos testes foram selecionados os seguintes bailarinos para compor o elenco do Corpo de Baile, em 1972: ANA MARIA FERREIRA SILVA, CARLA REINECKE (atual diretora do BTG), CARLOS LOWZADA, CYNTHIA VASCONCELLOS, DÉBORA ARZUA, EDUARDO NUNES, ELEONORA GRECA, FRANCISCO DUARTE, HÉLIO ABREU, HILTON RODARTE, J.C. CARAMÊS, JOCY FEIJÓ, JORGE DEFUNNE, LORACI SETRAGNI, MARIA JACIRA AMARAL, MIRIAN NOGOCEKE, RITA CÁSSIA M. CORRÊA, ROSAIRIS CORRÁ, ROSANE RUÓTULO, URSULA YONEN e VERA CRISTINA MACIEL.


A tradição clássica vinha se mantendo por meio da circulação de obras de repertório tradicional, mas isso não impedia o diretor-coreógrafo de experimentar novas tendências de movimento, traduzidos pela dança moderna em algumas de suas montagens coreográficas. Em 1976, faz um convite à bailarina e coreógrafa Rita Pavão e, juntos, levam à cena, no ano seguinte, a obra vanguardista C. B. On The Rock, com direção musical (montagem) de Wassyl Stuparik. Após a audição, em março de 1976 e a pedido do diretor artístico que não pretendia acumular funções como seus antecessores, contrata-se o maître de ballet, também argentino, Antón Garces.


Para a temporada de 6 a 14 de novembro de 1976, o primeiro programa incluía a apresentação do famoso bailado romântico, GISELLE. Maurício Távora Neto via no balé uma excelente alternativa para a formação de novas platéias, meta preconizada pelo ministro da Educação e Cultura Ney Braga, para o desenvolvimento cultural. Tal meta – a Formação de Platéias – era um projeto criado e coordenado por Loraci Setragni, seguindo às injunções políticas e culturais do Governo, direcionado aos alunos de 1º e 2º graus (atual ensino fundamental e médio) da rede municipal e estadual. O bailado ‘Giselle’ era visto – e justificado – por Távora, no sentido de oportunizar grandes obras (didáticas) de repertório ao público jovem, o que seria, em sua concepção, uma das tarefas de uma companhia estatal e de utilidade pública. O espetáculo só teve crítica positiva, inclusive de publicações internacionais. Entretanto, além do próprio Hugo Delavalle, que assumiria o papel de Albrecht, seria necessário – no entendimento do diretor artístico – convidar uma bailarina ‘internacional’ para o papel-título da coreografia.


A Fundação Teatro Guaíra convida a bailarina argentina Mônica Panader, para interpretar, apenas na estréia, o papel da heroína romântica. Também é convidado o maître de origem belga George Houbiers – casado com Panader – para trabalhar durante três meses com o Corpo de Baile, aperfeiçoando os bailarinos, técnica e artisticamente. Entre 1976/77, o Corpo de Baile da Fundação Teatro Guaíra fez mais de 30 apresentações do balé Giselle, merecendo não apenas os aplausos do público local, mas obtendo ótima aceitação em apresentações feitas no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, entre outras capitais. Pode-se afirmar que esta remontagem foi o ‘primeiro grande sucesso do Corpo de Baile’, nacionalmente, incluindo o binômio: público e crítica especializada. Alguns fatores serão decisivos para este fato: um número maior de integrantes para a montagem de um grande bailado e o carisma de uma jovem estrela convidada e ainda desconhecida do público brasileiro: a bailarina carioca, Ana Botafogo.


Em 1977, o número de bailarinos aumentou consideravelmente. O Corpo de Baile tornava-se um organismo estável com 30 bailarinos (11 rapazes e 19 moças) atuando como profissionais contratados, e como tal, trabalhando em média oito horas por dia, divididos em aulas, ensaios e remontagens, dentro da mais moderna técnica. Na época, o Corpo de Baile contava com o maître Antón Garcez e com os seguintes bailarinos: ANA BOTAFOGO, ANA MARIA SILVA, CARLA REINECKE, CARLOS LOWZADA, CYNTHIA VASCONCELLOS, EDUARDO NUNES, EDUARDO FREIRE, ELEONORA GRECA, FLÁVIO SAMPAIO, FRANCISCO DUARTE, HÉLIO ABREU, HILTON RODARTE, JOÃO CARLOS CARAMÊS, JOCY FEIJÓ, JORGE RODRIGUES, JORGE DEFFUNE, LORACI SETRAGNI, LUIS NASCIMENTO, MARIA JACIRA AMARAL, RITA CÁSSIA M. CORRÊA, ROSAIRIS CORRÁ, ROSANE RUÓTULO, TÂNIA LUPY e VERA CRISTINA MACIEL.


A lista de bailarinas estagiários, provenientes da Escola de Danças do Teatro Guaíra era composta por: BETTINA DALCANALLE, DANIELA DE ROSSI, DEISE WOR, ELAINE SOBRINHO, LIA COMANDULLI, MARIA LUIZA DE PAULA SOARES, MARTHA NEJN, REGINA KOTAKA, SUZANA DE PAULA SOARES, SYLVIA ANDRZEJEWSKI, VANIA KESIKOWSKI e VIRGÍNIA DE PAULA SOARES.


A imprensa, sobretudo local, não se cansa de frisar o destaque atingido pela Companhia paranaense em solo brasileiro: “o Corpo de Baile do Teatro Guaíra começa a se destacar como um dos melhores do cenário nacional, consolidando-se, neste ano, como um dos principais grupos de dança do sul do país [grifo nosso]”. [4] Foi nesta época que uma jovem bailarina paranaense do Corpo de Baile começa a despontar como futura solista, substituindo Ana Botafogo em algumas récitas, e em breve viria a assumir o título de primeira bailarina da Companhia: Eleonora Greca. Numa matéria jornalística de 1977 pode-se observar que já fazia um “grande sucesso, sendo aplaudida várias vezes em cena aberta, por sua excelente interpretação do papel-título de Giselle.” [5]


Ainda para a temporada de 1977, motivados após o sucesso de Giselle, mas com a rescisão de contrato da bailarina Ana Botafogo que vai para o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o Corpo de Baile se apresentava com um novo programa, composto por quatro bailados, destacando-se: O Poema do Êxtase de Antón Garcez com música de Scriabin e Festival de Flores em Genzano com música de Helsted. O término do ano de 1977 trazia o mérito da ‘consagração regional e nacional’, almejados. Entretanto, mais um ciclo era encerrado na direção e concepção artística do grupo. Hugo Delavalle foi convidado pelo diretor Carlos Leite e aceitou coreografar a mais nova companhia estatal de balé no Brasil: a Companhia do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

1978 – 1979: Eric Waldo

Uma direção artística com ‘sotaque carioca’

Em agosto de 1978, a nova gestão contrata Eric Waldo, como diretor e maître do Corpo de Baile, sua esposa, a bailarina Eliana Caminada, e o bailarino Aldo Lotufo tendo, os três, desenvolvido suas carreiras profissionais no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Loraci Setragni continua atuando como assistente de direção. Apostando na direção de Eric Waldo, a bailarina Ana Botafogo retorna a Curitiba para reintegrar-se ao elenco do Corpo de Baile. Esse ‘sotaque carioca’ dado à Companhia paranaense é destacado em diversas matérias locais:


"Com duas das melhores bailarinas brasileiras – Ana Botafogo e Eliana Caminada – pertencentes ao grupo, e tendo como bailarino convidado, 
Aldo Lotufo, do Rio de Janeiro, o Corpo de Baile da Fundação Teatro Guaíra estréia dia 23 (novembro) a sua temporada oficial de 1978 [...]. Sob
a direção do maître Eric Waldo, o Corpo de Baile apresentará um programa inédito, composto por montagens próprias do grupo, dividido em três
partes. Na primeira parte, o bailado ‘Homenagem a Pattápio’, com música do compositor brasileiro Pattápio Silva, focalizando o Brasil na época de
1900. A coreografia é de Eric Waldo, a cenografia e figurinos, do famoso artista carioca Nilson Penna, várias vezes premiado. Neste bailados os
solos serão alternados pelas duplas: Ana Botafogo/Aldo Lotufo, Eliana Caminada/Othon Rocha e Eleonora Greca/J.C. Caramês. A segunda
parte do programa será um ‘Divertissement’, do qual farão parte: “Valse”, ‘Águas Primaveris’, ‘Choro Cromático’ e ‘Romeu e Julieta’ – a cena do
balcão. A terceira parte do programa será um grande bailado, apresentando os solistas e todo o Corpo de Baile: ‘Étude’ com música de Czerny e
coreografia de Eric Waldo. A execução de figurinos é de Maria Rocha – gentilmente cedida pelo Ballet Dalal Achcar, do Rio de Janeiro."
[6]


Além das estrelas cariocas e dos bailarinos solistas, compunham o elenco à disposição do diretor Eric Waldo, após a realização de três audições realizadas em 1978, os seguintes bailarinos: ALBÉCIO TAVARES, ALBERTO ROMEIRO, ANA MARIA SILVA, BETTINA DALCANALLE, CARLA REINECKE, CARLOS LOWZADA, CEZAR MELLO, CRISTINA KAMMÜLER, CYNTHIA VASCONCELLOS, DEISE WOR, EDUARDO NUNES, EDUARDO FREIRE, ELAINE SOBRINHO, HILTON RODARTE, HUGO ARA, JOCY B. SANTOS, LIA COMANDULLI, MÁRIO J. JARRY, MIRIAN BRAGA, REGINA KOTAKA, RITA CÁSSIA M. CORRÊA, ROBERTO LIMA, ROOSEVELT ALFARO, ROSAIRIS CORRÁ, SYLVIA ANDRZEJEWSKI, VANIA KESIKOWSKI e VERA CRISTINA MACIEL.


Em 1978, o repertório do Corpo de Baile se renovava e em suas apresentações a trilha sonora era especificamente comentada, pois em sua grande maioria, apostava em compositores brasileiros, marca registrada da gestão artística de Eric Waldo. Das nove obras editadas no programa de 1978, seis foram criadas a partir de músicas de compositores brasileiros: Homenagem a Pattápio (Pattápio Silva), Valse (Paulo Jobim), De Improviso (Francisco Mignone), Idílio (Ernesto Nazareth), Chor Cromático (Benjamin Araújo) – obras de Eric Waldo – e Bachiana (Heitor Villa-Lobos) do coreógrafo Antón Garcez.


Entretanto, mudanças na condução política do Estado e na administração interna da Fundação Teatro Guaíra, acabam afastando Eric Waldo da direção artística do Corpo de Baile. Antes disso, Ana Botafogo, novamente rescinde seu contrato com a Fundação e decide retomar sua carreira no Rio de Janeiro. O motivo inicial é o convite de Dalal Achcar para Ana estrelar as produções da Associação de Balé do Rio de Janeiro. Com a saída do diretor artístico, a bailarina Eliana Caminada também retorna ao Rio de Janeiro e, por um curto período de indefinições e transição, o cargo de direção cabe, provisoriamente à Loraci Setragni.


As negociações entre Loraci e a nova Superintendência do Teatro Guaíra, que assumiria o cargo em 1979, foram longas, porém intensas. “A direção do Guaíra não queria algum profissional que viesse das circunvizinhanças. Loraci conta que o pré-requisito se dava em função do esgotamento de profissionais disponíveis na cidade. Baseada nessa solicitação do Superintendente, Aldo Almeida e do Diretor Artístico, Luiz Esmanhotto, e, sabendo que Carlos Trincheiras – do Ballet Gulbenkian em Lisboa – tinha interesse em vir para o Brasil, Loraci o indica.”
[7]

1979 – 1993: Carlos Trincheiras

O Corpo de Baile se torna Ballet Guaíra

Após várias negociações e por indicação de Loraci Setragni junto à diretoria da Fundação, convida-se, para dirigir a Companhia paranaense, em 1979, o maître e coreógrafo português Carlos Trincheiras. Atuando há 18 anos no Balé da Fundação Gulbenkian de Lisboa, Trincheiras decide transferir-se (pré-contrato para dois anos) para o Brasil com a missão de reabilitar a jovem companhia de dança em Curitiba. O futuro diretor estava ciente de que o grupo era subvencionado, em sua maior parte, por verbas oficiais, o que implicaria no fato de que nem sempre as condições financeiras ofertadas para as produções coreográficas seriam as mais satisfatórias.


Figura carismática, ganhou em pouco tempo a atenção e a curiosidade da mídia, concedendo diversas entrevistas nas quais deixava, pouco a pouco, antever sua visão acerca da nova identidade a ser mapeada em seu percurso junto à Companhia, acumulando as funções de diretor, maître e coreógrafo principal. Uma das primeiras e mais significativas mudanças impressas ao Corpo de Baile, visando a uma nova configuração e reconhecimento como companhia profissional, foi a mudança do próprio nome do grupo. Aproveitando a ocasião em que se comemorava os dez anos de existência, o CB passa, por sugestão de Trincheiras, a ser denominado Ballet Guaíra.


O elenco que compunha o Ballet Guaíra, naquele ano, era formado pelos seguintes bailarinos: Albécio Tavares, Ana Maria Silva, Bettina Dalcanale, Carla Reinecke, César Mello, Christina Kamüller, Daniela de Rossi, Deise Wor, Eduardo Freire, Elaine M. Sobrinho, Eleonora Greca, Geraldo Lachini, Hilton Rodarte, J. C. Caramês, João Carlos Coronel, Lia Comandulli, Loraci Setragni, Maria Bernadete Sant’Anna, Mirian Braga, Patrícia Martin, Paulo José Buarque, Regina Kotaka, Rita de Cássia Correia, Roosevelt Chateaubriand, RosaireS Corra, Sylvia Andrzejewski, Tony Callado e Vânia Kesikowski. Carlos Trincheiras convida ainda dois bailarinos do Corpo de Baile do Teatro Guaíra, que estavam atuando nessa época em Lisboa, no | Ballet Gulbenkian, para comporem o elenco masculino em 1979: JAIR MORAES e FRANCISCO DUARTE.


Um de seus primeiros atos como diretor foi a implantação de um Curso de Formação Acelerada para Rapazes [8], visto que, na época, percebia-se uma defasagem numérica e, por vezes, técnica, do elenco masculino em relação ao elenco feminino. Com este curso intensivo, o diretor pretendia garantir, ano a ano, a ampliação do corpo de baile para um número que considerava aceitável, sob o ponto de vista das remontagens dos grandes bailados de repertório que tinha em mente: cerca de 41 integrantes. Em 1979, o elenco era formado somente por 17 moças e 13 rapazes.


O diretor-coreógrafo empenha-se na construção de um repertório eclético para a 1ª Temporada do BG, com o objetivo de expor coreograficamente suas novas propostas na redefinição da identidade do grupo: fundir nas concepções coreográficas a técnica clássica acadêmica aliada ao movimento moderno contemporâneo. Cabe salientar, que, embora a dança contemporânea ocupe um lugar de destaque no repertório criado por Carlos Trincheiras para o Ballet Guaíra, isto não significa a exclusão da dança clássica e das formas ‘acadêmicas’ que o público geralmente apreciava.


Pode-se perceber, por meio do repertório criado para 1979, o perfil mapeado da gestão Trincheiras, destacando-se as obras, originalmente pertencentes ao repertório do Ballet Gulbenkian e adaptadas para o Ballet Guaíra, permitindo antever a perspectiva ritualista, impressa pelo diretor-coreógrafo em suas concepções coreográficas carregadas de dramaticidade. São exemplos dessa fase: Dimitriana, Vórtice, Canto de Morte – solo para o bailarino Jair MoraesLamentos e Ao Crepúsculo. Trincheiras mantinha o elenco atuando, também, em obras de repertório clássico tais como Le Grand Pas de Quatre e Raymonda.


Em 1980, o elenco à disposição de Carlos Trincheiras era composto pelos seguintes bailarinos: ALBÉCIO TAVARES, ANA MARIA SILVA, BETTINA DALCANALLE, CESAR MELLO, CHRISTINA KAMMÜLER, DANIELA DE ROSSI, DEISE WOR, ELAINE SOBRINHO, ELEONORA GRECA, FRANCISCO DUARTE, GERALDO LACHINI, HILTON RODARTE, JAIR MORAES, J. C. CARAMÊS, JOÃO CARLOS CORONEL, JOSÉ LUIS SULTÁN, LIA COMANDULLI, MÁRCIO LOPES, MARIA BERNADETE SANT’ANA, MARIA EUNICE, MARTA NEJM, MIRIAN BRAGA, PATRICIA MARTIN, PAULO BUARQUE, POSSÍDIO BRESSOLIN, REGINA KOTAKA, ROOSEVELT CHATEAUBRIAND, ROSAIRIS CORRÁ, SYLVIA ANDRZEJEWSKI, TÂNIA FONSECA e VANIA KESIKOWSKI. Loraci Setragni assume a função de Coordenadora do Ballet Guaíra e Carlos Trincheiras convida a maître Emma Sintani para dar aulas à Companhia e o bailarino Jair Moraes torna-se assistente ensaiador.


O Ballet Guaíra abria a temporada de 1980 fazendo uma ‘homenagem’ ao grande impulsionador da arte da dança no Ocidente, o empresário/mecenas | Serge Diaghilev e também ao ‘gênio musical’ de Igor Stravinsky. A composição do programa chamava-se SOIRÉE STRAVINSKY, lembrando os 50 anos da morte de Diaghilev e era composta por duas obras apresentadas ao longo do ano: Sinfonia 3– criação de Carlos Trincheiras (baseada na obra Sinfonia em 3 movimentos de Stravinsky) e Petruchka– reposição da obra de | Michel Fokine (com música de Stravinsky).


Para a versão de O Quebra-Nozes, duas estrelas internacionais são convidadas para os papéis principais: Ekaterina Maximova e Vladimir Vassiliev, do Ballet | Bolshoi. Em entrevista à Carmen Lobos na edição comemorativa dos 20 Anos do Ballet Teatro Guaíra na Revista Dançar, Trincheiras justifica seu convite:


[...]"não tenho por filosofia convidar artistas famosos para abrilhantar o espetáculo, mas conseguimos o contato com estes dois artistas que 
nunca haviam se apresentado no Brasil e acabou sendo ótimo. Integraram-se muito bem na Companhia com uma postura bastante profissional. Faziam
aulas como todos os elementos da Companhia, sem se isolarem como estrelas. Foi um entrosamento de três semanas muito interessante e agradável.


Encerrando o ano promissor de 1980, Trincheiras, tinha motivos para encarar com otimismo o ano seguinte de sua direção. A maioria de suas metas, previstas no projeto de reconhecimento e projeção do grupo, começavam rapidamente a se concretizar. O Ateliê Coreográfico dos bailarinos, em sua primeira edição, premiou três obras que foram posteriormente incorporadas ao repertório da Companhia: Gaivotas de Francisco Duarte e Teia e Homenagem, ambas de Paulo Buarque.


Em 1981, na gestão do Superintendente da Fundação Teatro Guaíra, Mário José Otto, Carlos Trincheiras dá início à sua campanha para convidar coreógrafos internacionais de renome na área da dança, pois considerava seu grupo apto a atuar em qualquer palco estrangeiro. Dava-se início ao que Trincheiras definiria como ‘perfil internacionalista’ do grupo. É bastante esclarecedor o texto, na apresentação do programa de abertura da Temporada de 1981:


"A nossa próxima temporada vai marcar mais um passo decisivo na busca da identidade própria do nosso agrupamento. Sem regionalismos nem 
concessões ao encontro de soluções gratuitas e pseudo-nacionalistas, mas racionalmente ao encontro e nossa vocação pela dança sem fronteiras

[grifo nosso]. [...] vamos, para a temporada de 81, poder incluir no nosso patrimônio coreográfico, dois nomes de importância capital no
panorama das artes baléticas mundiais: o norte americano John Butler e o francês Maurice Béjart. Começa a desenhar-se o perfil
internacionalista
[grifo nosso] de um jovem agrupamento que encontra na sua situação geográfica e humana maior dos incentivos para a sua
atividade. Continuaremos com a política de manter um repertório eclético e capaz de satisfazer as necessidades gerais do público que nos acarinha
dentro e fora de nosso Estado, a reforçar a importância e o nível dos nossos artistas nacionais, a promover o potencial de nossos futuros
coreógrafos [referência ao Ateliê Coreográfico]. [...] Utilizaremos todos os recursos possíveis para manter o Ballet Guaíra como um órgão
importante na divulgação das artes e cultura de um Estado, de um povo e de um País (Carlos Trincheiras).[10]


Na abertura oficial da temporada de 1981 o Ballet Guaíra apresenta Catulli Carmina de Carl Orff, coreografado pelo norte-americano John Butler. No mesmo programa, consta a estréia nacional de Dulcinéia de Carlos Trincheiras a partir da música de Shostakóvitch. Em maio a Companhia realizava uma turnê pelo interior do Estado. Em junho ocorreu a estréia de ‘Da Vida e Da Morte De Uma Mulher Só’ de Trincheiras. Neste período, Trincheiras remonta o dueto Opus V de | Maurice Béjart para seus dois solistas – Bettina Dalcanalle e Jair Moraes.


O elenco do Ballet Guaíra contava em 1981 com os seguintes bailarinos, assim divididos hierarquicamente: Bailarinos Principais: JAIR MORAES, CHRISTINA KAMMULLER, ELEONORA GRECA e BETTINA DALCANALLE. Bailarinos Solistas: ANA SILVA, ROSAIRES CORRÁ, ELAINE SOBRINHO, J.C. CARAMÊS, ALBÉCIO TAVARES e GERALDO LACHINI. Corpo de Baile: ALEXANDRE TOSTES, ANGELITA FACCIOLI, CESAR CATALDI, CINTHIA NÁPOLI, DANIELA DE ROSSI, DEISE WOR, FRANCISCO DUARTE, JOÃO CARLOS CORONEL, JOSÉ LUIS SULTÁN, LIA COMANDULLI, MÁRCIO SCHMIDT, MARIA BERNADETE SANT’ANA, MARIA EUNICE OLIVEIRA, MARTA NEJM, MIRIAN BRAGA, OLDIMAR V. LEITE, PATRICIA MARTIN, PAULA RIGHESSO, PAULO BUARQUE, REGINA KOTAKA, RODRIGO GALLIANO, ROOSEVELT CHATEAUBRIAND, SYLVIA ANDRZEJEWSKI, TÂNIA FONSECA e VANIA KESIKOWSKI. Também se destacam os seguintes bailarinos bolsistas, vindos na sua maioria do Curso de Formação Acelerada para Rapazes: CÁSSIO VITALIANO, DANIEL DUTRA, EDUARDO SILVA, JOÉLCIO DO ROSÁRIO, JOSÉ WANDERLEY LOPES, JURANDI DA SILVA e WANET LUNA.


Foi em 1981 que Isabel Santa Rosa, esposa de Carlos Trincheiras, vem de Portugal para assumir junto ao Ballet Guaíra as funções de maître e ensaiadora principal. Por ter vivido toda a sua carreira na Europa, Trincheiras sabia que uma certa ‘cor local’ era indispensável a qualquer companhia do gênero. Investe, então, na criação de um balé original – ‘Jogos de Dança’ – com partitura especialmente composta por músicos brasileiros. O momento propicia o encontro com Edu Lobo e os figurinos e cenários são encomendados ao dramaturgo, cenarista e figurinista Naum Alves de Souza. A coreografia fica a cargo de Clyde Morgan, que Trincheiras importa dos Estados Unidos. Apesar de americano, Morgan, que morou muitos anos em Salvador, conhecia a cultura e a identidade brasileira e criou Jogos de Dança especialmente para o Ballet Guaíra.


Em outubro, após a estréia em Curitiba, começava a turnê nacional divulgando o trabalho em Belo Horizonte, Vitória, Salvador, Brasília, Goiânia e Rio de Janeiro. Entretanto, o sucesso mais marcante da Companhia ainda estava por vir e, nesse contexto, certamente Jogos de Dança teve sua parcela de contribuição na fórmula acertada por Carlos Trincheiras, Naum Alves e Edu Lobo. A brasilidade sonora voltaria à cena em 1983, sob a lona de um grande espetáculo que agregaria ainda ao trio a genialidade de Chico Buarque de Hollanda: nascia o projeto O Grande Circo Místico.

O Grande Circo Místico e a projeção nacional

Na abertura da temporada oficial de 1982 o Ballet Guaíra estréia nacionalmente O Trono de Carlos Trincheiras com música de Bartók. Esta obra teve sua estréia mundial em 1970, no Grande Auditório Gulbenkian e, após 12 anos, foi re-montada por seu criador para a companhia brasileira. Os cenários ficaram a cargo de Carlos Kur e os figurinos foram cedidos pela Fundação Gulbenkian. No mesmo programa constavam as coreografias Homenagem de Paulo Buarque (uma das revelações do Ateliê Coreográfico de 1981) e a re-apresentação de Jogos de Dança. Mas no primeiro semestre a temporada faz, novamente, uma homenagem a STRAVINSKY (comemoração do centenário de nascimento do compositor). Nos dois programas do Ballet Guaíra constam: Sinfonia 3 e ‘Petruchka’ , já apresentadas em temporadas anteriores e a estréia de A Sagração da Primavera, um bailado com concepção e coreografia de Carlos Trincheiras. Esta nova versão, como explicava Trincheiras, não seguia necessariamente o libreto escrito por Roerich e Stravinsky, sendo um hino de vida e amor para o recomeço cíclico da Primavera.


Em 1983, o dramaturgo Oraci Gemba assume a Superintendência da Fundação Teatro Guaíra. Gemba, que sempre manifestou ácidas críticas com relação à postura elitista que vê na direção da instituição, apresenta um projeto de popularização da cultura. A montagem de maior repercussão da Fundação Cultural do Teatro Guaíra, preparada durante todo o ano de 1982 [e que estreou em 1983] é ‘O Grande Circo Místico’ – um bailado em 2 atos e 27 quadros – com o Ballet Teatro Guaíra. A estréia que deveria acontecer em outubro de 1982 é adiada para março de 1983, após a mudança no governo estadual e na diretoria da Fundação Teatro Guaíra.


Estimulada pelo resultado de Jogos de Dança, a Fundação repetiu a dose com Edu Lobo, que compôs uma nova obra, convidaram Chico Buarque para escrever as letras, Chiquinho de Moraes para orquestrar e reger as músicas, Carlos Kur para criar os cenários, Irineu Chamiso Junior para realizar os figurinos, Naum Alves de Souza para elaborar o roteiro e Emilio Di Biasi, para dirigir a produção. A coreografia ficou por conta de Carlos Trincheiras. Mas a grande estrela de toda a montagem, comentada pela crítica especializada, foi, sem dúvida, a companhia – o Ballet Teatro Guaíra – como passou a ser reconhecido nacionalmente, na gestão de Oraci Gemba, tendo seu nome, novamente vinculado ao Teatro. Helena Katz é uma das primeiras críticas a se render ao profissionalismo do BTG:


"A simples soma de nomes famosos não garantia nada. Mas, desta vez deu certo. ‘O Grande Circo Místico’ vale a pena. Primeiro porque mostra uma 
companhia dançando a mil, coesa, harmoniosa, tecnicamente mais apurada e transpirando um enorme prazer em realizar o espetáculo. Todos os
bailarinos (que são 47, desta vez) mostram que sabem porque estão no palco e desempenham com o mais absoluto profissionalismo sua função. A
grande estrela da montagem é a própria companhia que exibe alguns dos melhores bailarinos brasileiros do momento
" [grifo nosso].
[11]


Os bailarinos responsáveis por grande parte do sucesso desta montagem coreográfica, que muitos críticos apelidaram de ‘Broadway Brasileira’ eram: bailarinos principais - JAIR MORAES, FRANCISCO DUARTE, CHRISTINA KAMMULLER, ELEONORA GRECCA; bailarinos solistas - ANA SILVA, ELAINE SOBRINHO, ROSAIRES CORRÁ, GERALDO LACHINI; corpo de baile - ALEXANDRE TOSTES, ANGELITA FACCIOLI, BERNARDETE SANT’ANNA, CARLOS CORONEL, CÁSSIO VITALIANO, CESAR CATALDI, CINTHIA NÁPOLI, CHATTEAUBRIAND ALFARO, DANIEL DUTRA, DEISE WOR, EUNICE OLIVEIRA, FRANCISCO DUARTE, JOÃO CARLOS CORONEL, JURANDI SILVA, LIA COMANDULLI, LIÈGE V. FIN, MARCELO SANTOS, MARCOS CARVALHO, MARTA NEJM, MAURO RUBENS SANTOS, MIRIAN BRAGA, NATHANAEL AGOSTINHO, PAULA RIGHESSO, PEDRO PIRES, REGINA KOTAKA, RICARDO MEDINA, RODRIGO GALLIANO, ROGÉRIO LIEUTHIER, SYLVIA ANDRZEJEWSKI, VANIA KESIKOWSKI, WANDERLEY LOPES, WANET LUNA. Também foram convidados os seguintes bailarinos bolsistas – ALEXANDRE CABRAL, HÉLIO VORCARO, INÊS DRUMMOND, JÚLIO CESAR MOTA, PEDRO MELLO, SANDRA MOREIRA SORMANI ANDRADE e WELLINGTON LEMAY.


Resultados? O ‘poema que criou vida’, por meio do balé, foi visto por mais de 200 mil espectadores, tornando-se um recorde de apresentações no Brasil. Foi apresentado em Curitiba, São Paulo (Palace e Anhembi), Campinas, Rio de Janeiro (Maracanãzinho), Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Salvador, entre outras capitais. As músicas do ‘Circo’ fizeram tanto sucesso que foram lançadas em disco (LP – na época), gravadas por cantores como Simone, Zizi Possi, Gal Costa, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Tim Maia e Jane Duboc. Este trabalho marcou, ainda, a entrada de artistas populares importantes como Chico, Edu e Naum, numa área tão restrita como o balé. Mas, além do sucesso do ‘Circo’ – o que implicava em turnês constantes – o Ballet Teatro Guaíra ainda encontrava fôlego para produções alternativas. Em agosto, o Atelier Coreográfico Guaíra/83, mostrou mais uma vez sua criatividade com novas obras.


Além da repercussão no Brasil, aclamado pela proposição de levar a dança como forma de cultura popular aos brasileiros, o Ballet Teatro Guaíra obteve críticas positivas e reconhecimento internacional, com sua primeira turnê à Europa para dançar em Lisboa, Portugal. No Coliseu dos Recreios, O Grande Circo Místico se apresentou para uma platéia de 25.000 espectadores, tendo os ingressos se esgotados rapidamente, assim que colocados à venda. Em 1984, o BTG ainda sobrevive artisticamente das apresentações de ‘O Circo Místico’ , além de remontagens de suas obras de repertório, incluídas, aí, as peças premiadas nos Ateliês Coreográficos. Destaca-se a apresentação do ‘Circo’ na abertura do II Festival de Dança de Joinville-SC, no dia 7 de Julho de 1984, no Ginásio Ivan Rodrigues. A re-montagem mais significativa do ano foi o bailado ‘Giselle’ , tendo, desta vez, Jair Moraes e Eleonora Greca nos papéis principais.


Neste ano, algumas baixas são registradas no elenco, que apresentava a seguinte configuração: bailarinos principais - JAIR MORAES, FRANCISCO DUARTE, ELEONORA GRECCA; bailarinos solistas - ANA SILVA, ELAINE SOBRINHO, ROSAIRES CORRÁ, GERALDO LACHINI; corpo de baile - ALEXANDRE TOSTES, ANGELITA FACCIOLI, BERNARDETE SANT’ANNA, CARLOS CORONEL, CÁSSIO VITALIANO, CESAR CATALDI, CINTHIA NÁPOLI, CHATTEAUBRIAND ALFARO, DANIEL DUTRA, DEISE WOR, EDUARDO LARANJEIRA, EUNICE OLIVEIRA, INÊS DRUMMOND, JOÃO CARLOS CORONEL, JULIO CESAR MOTA, JURANDI SILVA, LIA COMANDULLI, MARA MESQUITA, MÁRCIO SCHMIDT, MARCOS CARVALHO, MARTA NEJM, MAURO SANTOS, MIRIAN BRAGA, NATHANAEL AGOSTINHO, PAULA RIGHESSO, PEDRO MELLO, PEDRO PIRES, RICARDO MEDINA, RODRIGO GALLIANO, ROGÉRIO LIEUTHIER, SYLVIA ANDRZEJEWSKI, VANIA KESIKOWSKI, WANDERLEY LOPES, WANET LUNA. E os seguintes bailarinos bolsistas: ALEXANDRE CABRAL, ASCÂNIO ANTONETTI, GRAZZIANI DA COSTA HEITOR PINHEIRO, HÉLIO VORCARO, JANSON DAMASCENO, MANOEL PINTO, RITA BARRETO, RODOLFO RAU, SANDRA MOREIRA, SERGIO DE OLIVEIRA e SORMANI ANDRADE.


Em 1985, novos convites a coreógrafos renomados são feitos pela Fundação, e o repertório vai se ampliando. Por indicação de Trincheiras, convida-se o coreógrafo Milko Sparemblek do Ballet Gulbenkian, com o qual Trincheiras já havia trabalhado como assistente, para criar uma obra para o BTG: nascia a Pastoral, a partir da música de Beethoven. Essa coreografia foi apresentada dezenas de vezes, constituindo-se numa das aquisições de repertório mais aproveitadas pela companhia em suas turnês e temporadas oficiais. Na temporada oficial do 1º semestre de 1986, convidou-se o aclamado coreógrafo e ex-bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Renato Magalhães, para remontar uma obra de destaque para o BTG: ‘Concerto em Sol’ , a partir da composição Concerto em Sol Maior de Maurice Ravel.


Em julho, o BTG faz a abertura do IV Festival de Dança de Joinville, no Ginásio Ivan Rodrigues, com as coreografias: Archipel 3, Canto de Morte (solo de Jair Moraes), Concerto em Formas Brasileiras e Pastorale. Novas obras oriundas do Ateliê Coreográfico são agregadas ao repertório da Companhia: Sabarandi de Jurandi Silva, Concertino de Isabel Santa Rosa e É Proibido Alimentar os Animais de Eduardo Laranjeiras. E, em dezembro, a temporada oficial encerra com a montagem de O Quebra-Nozes com a Orquestra Sinfônica do Paraná | Orquestra Sinfônica do PR, sob regência do maestro Alceo Bocchino.

O Ballet Teatro Guaíra e a cultura nacional: dança e referências brasileiras

Em 1987, o Ballet Teatro Guaíra e a Orquestra Sinfônica se reúnem para a estréia mundial do bailado Sendas do Outro Um, de Ernst Widmer. Essa obra especialmente composta para o BTG foi a vencedora do Concurso Nacional realizado em 1977, tendo como jurados: Marlos Nobre, [[Hugo Delavalle, Alceo Bocchino e Henrique Morelenbaun. O coreógrafo Hugo Delavalle foi convidado por Trincheiras, para a elaboração deste trabalho, com música de Widmer, cenários de Fábio Câmara e figurinos de Afonso Burigo. O destaque internacional do período é o coreógrafo convidado, a partir da convivência com Trincheiras no Ballet Gulbenkian, o português Vasco Wellenkamp.


Em sua estréia, com o BTG, Wellenkamp, cria Exultate Jubilate, simultaneamente à montagem do mesmo bailado para o Ballet Gulbenkian, a partir da música de Mozart. Os bailarinos à disposição do coreógrafo modernista – amplamente contaminado com a técnica de Martha Graham – eram os seguintes: bailarinos principais - JAIR MORAES, FRANCISCO DUARTE, ELEONORA GRECA, ANA SILVA, ROSAIRIS CORRÁ; bailarinos solistas - CHATEAUBRIAND ALFARO, DAISI WOR, ELAINI SOBRINHO, EUNICE OLIVEIRA, PAULA RIGHESSO, GERALDO LACHINI, CÁSSIO VITALIANO, WANDERLEY LOPES, JURANDI SILVA; corpo de baile - ALEXANDRE CABRAL, ANGELITA FACCIOLI, BERNARDETE SANT’ANNA, CARLOS CORONEL, CARLOS CORTIZZO, CÁSSIO VITALIANO, CESAR CATALDI, CINTHIA NÁPOLI, CHATTEAUBRIAND ALFARO, CRISTINA RANGEL, DANIEL DUTRA, EDUARDO LARANJEIRA, GRAZZIANI COSTA, HEITOR PINHEIRO, INÊS DRUMMOND, JANSON DAMASCENO, JOÃO CARLOS CORONEL, JULIO CESAR, JURANDI SILVA, LIA COMANDULLI, LILIAN GHEUR, LUIZ LOMBARDI, MARA MESQUITA, MÁRCIO ALVES, NEURY GAIO, OSMAN KHELILI, PEDRO PIRES, REGINA KOTAKA, RITA BARRETO, RODRIGO GALLIANO, ROGÉRIO LIEUTHIER, SORMANI ANDRADE, VANIA KESIKOWSKI, WANET LUNA. E os bailarinos estagiários - ANDRÉA CARVALHO, ANA TEJERINA, ANTONIO MORAES, CLAUDEMIR DA CRUZ, DANIELA DE SOUZA, HUR GEESDORF, LEANDRO NASCIMENTO, REMBRANDT FANTICELLI, MARIÂNGELA FABIANE, TATIANA VIRMOND e VERÔNICA SARAIVA.


A produção mais significativa do ano foi, sem dúvida, Lendas do Iguaçu. O roteiro foi baseado em textos do historiador paranaense Romário Martins a partir de seu livro Paiquerê, enfatizando a lenda de Naipi e Tarobá. A partir da trilha sonora já existente, composta por Jaime Zenamon, Carlos Trincheiras criou uma coreografia mística e simbólica, que fez sua estréia no Parque Nacional do Iguaçu. Em 1988, o BTG apresentou três importantes estréias: A Dança da Meia Lua, Ausência e A Ronda, esta última em co-produção com o Instituto Goethe de Curitiba.


Para a produção da obra A Ronda, o Ballet Teatro Guaíra atuou com a Orquestra Sinfônica do Paraná, tendo a direção musical do maestro Oswaldo Colarusso e contou com a participação especial da cantora Cida Moreyra. Os figurinos ficaram a cargo de Leonie Grimm, com supervisão de Rosa Magalhães e os cenários e projetos de iluminação também ficaram sob a responsabilidade do próprio coreógrafo, Bernd Shindowski, com assistência de Carlos Kur. Mas, o grande destaque da temporada foi a aguardada Dança da Meia Lua, com coreografia de Rodrigo Pederneiras, numa nova parceria com Edu Lobo.


A produção de Dança da Meia Lua com o Ballet Teatro Guaíra e a Orquestra Sinfônica do Paraná, para abrir a temporada artística de 1988, não poderia ser mais oportuna. Afinal, o bailado O Romance de Quatro Luas, título com o qual foi inicialmente concebido, com música de Chico Buarque e Edu Lobo e com roteiro de Ferreira Gullar - contratados na administração anterior por quase um milhão de cruzados, apesar de pagos antecipadamente, ainda não havia sido concluído. Mais uma vez, Chico e Edu decidiram apostar na companhia e escreveram um bailado em dois atos: inicialmente chamado de ‘A Casa de João-de-Barro’ e mais tarde O Romance de Quatro Luas, mas que, finalmente, após o convite ao coreógrafo Rodrigo Pederneiras, decidiu-se por batizar a obra de A Dança da Meia Lua.


O roteiro musical contava com nomes do calibre de Cláudio Nucci, Elba Ramalho, Banda Pau-Brasil, Coral Garganta Profunda, Leila Pinheiro e o próprio Chico Buarque. Em março de 1989, dando início às comemorações dos 20 Anos da Companhia, o BTG estréia A Mandala de Maria Bueno com coreografia de Carlos Trincheiras e em outubro do mesmo ano estreou Flicts de Jurandi Silva, em temporada dedicada às crianças. O elenco, do Ballet Teatro Guaíra, no ano em que completa 20 anos, era composto, pelos seguintes bailarinos: elenco feminino – ANA SILVA, ANA TEJERINA, ANDRÉA CARVALHO, ANGELITA FACCIOLI, BERNADETE SANT’ANNA, CARLA ALMEIDA, CINTHIA NÁPOLI, DAISI WOR; DANIELA DE SOUZA, ELEONORA GRECA, EUNICE OLIVEIRA, HELOÍSA ALMEIDA, INÊS DRUMOND, LIA COMANDULLI, LILIAN GHEUR, MARA MESQUITA, MARIÂNGELA FABIANE, MARTA NEJM, PAULA RIGHESSO, REGINA KOTAKA, RITA BARRETO, SORAYA FELÍCIO, VANIA KESIKOWSKI e WANET LUNA - elenco masculino – CÁSSIO VITALIANO, EDUARDO LARANJEIRA, FRANCISCO DUARTE, GRAZZIANI COSTA, JAIR MORAES, JULIO CESAR, JURANDI SILVA, LEANDRO NASCIMENTO, LUIZ LOMBARDI, NEURY GAIO, PEDRO PIRES, REMBRANDT FANTICELLI, SERGIO OLIVEIRA e WANDERLEY LOPES. Também são anotados os seguintes estagiários – AILTON GALVÃO, ALESSANDRA DOLL, CLAUDEMIR DA CRUZ, RENATA FERREIRA, RICARDO GARANHANI e SÉRGIO MARSHALL.


Retomando a temática ancorada na cultura popular nacional e especificamente paranaense para a criação da obra A Mandala de Maria Bueno, escolhe-se um mito curitibano, Maria Bueno, para narrar, por meio da dança, sua saga. Outro artista estritamente ligado à identidade paranaense, como revelam suas obras (gravuras, desenhos, pinturas, litografias, murais, painéis em monumentos públicos), foi convocado a unir-se nesta ode à cultura popular local: Poty Lazarotto, que ficou encarregado das ilustrações do cartaz e do programa. Os figurinos foram parcialmente cedidos pela Fundação Calouste Gulbenkian.


No 2º semestre, o Ballet Teatro Guaíra apresentou o Programa da Semana de Dança Contemporânea, iniciada com a apresentação do balé A Ronda. Nesse programa foram remontados quatro bailados, oferecendo ao público a oportunidade de assistir importantes peças do repertório do BTG, em seus 20 anos de existência: Profecia com música de J. Goldsmith, coreografia de Francisco Duarte (falecido em março de 1989), Da Vida e da Morte de Uma Mulher Só com músicas de Strauss, Kotonski e Serocki e coreografia de Carlos Trincheiras, Inter-Rupto música de S. Barber e coreografia de Trincheiras e, encerrando o programa, Exultate Jubilate, com música de Mozart e coreografia de Vasco Wellenkamp.


Em outubro, no mês da criança, aproximadamente sete mil crianças tiveram o prazer de assistir no | Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto, um belo e colorido espetáculo: ‘Flicts’ de Jurandi Silva. Baseado no livro de Ziraldo e na trilha de Sérgio Ricardo, gravada pelo Quarteto em Cy e Grupo MPB-4, Jurandi – considerado uma das revelações do Ateliê coreográfico do Ballet Teatro Guaíra – entendeu que seria necessário acrescentar alguns ritmos (e mesmo temas) para completar a trilha e, assim, recorreu a gravações de artistas (desconhecidos no Brasil) como Sylvio Gualda, Jean Pierre Droquet e Carlos Paredes - além do grupo mineiro Uakti. Os figurinos e cenários, mais uma vez, foram entregues à carnavalesca Rosa Magalhães, profissional carioca que era freqüentemente convidada pelo BTG.


Em 1990, a Fundação Teatro Guaíra recebe uma nova diretora de artes: Mara Lúcia Moron. A abertura da Temporada Oficial do BTG acontece em abril com a remontagem de Bodas da Princesa Aurora – 3º ato da Bela Adormecida, convidando-se para esta tarefa a célebre maître e coreógrafa Tatiana Leskova. A participação da Orquestra Sinfônica do Paraná, tinha a direção musical do maestro Osvaldo Colarusso.


Os bailarinos que compunham o elenco do BTG – com direção artística de Carlos Trincheiras e coordenação de Maria do Carmo Mira – desta e de outras montagens previstas para o ano de 1990, era composto pelos seguintes bailarinos: elenco feminino – ANA SILVA, ANA TEJERINA, ANDRÉA CARVALHO, ANGELITA FACCIOLI, BERNADETE SANT’ANNA, CARLA ALMEIDA, CINTHIA NÁPOLI, DAISI WOR, DANIELA DE SOUZA, ELEONORA GRECA, EUNICE OLIVEIRA,HELOÍSA ALMEIDA, INÊS DRUMOND, LIA COMANDULLI, LILIAN GHEUR,MARIÂNGELA FABIANE, PAULA RIGHESSO, REGINA KOTAKA, SORAYA FELÍCIO, VÂNIA KESIKOWSKI e WANET LUNA - elenco masculino – AILTON GALVÃO, CLAUDEMIR CRUZ, DOMINGOS SÁVIO, GRAZZIANI COSTA, JAIR MORAES, JULIO CESAR, JURANDI SILVA, LEANDRO NASCIMENTO, NEURY GAIO, PEDRO PIRES, RICARDO GARANHANI, SÉRGIO OLIVEIRA e WANDERLEY LOPES - bailarinos estagiários – AILTON GALVÃO, CARLA PEREIRA, CARLOS CAVALCANTE, CLAUDEMIR CRUZ, CLIONISE CELUPPI, HUMBERTO ANTONETTI, RUI ALEXANDRE, SÁVIO DE LUNA e SÉRGIO ARAÚJO.


No 1º semestre, Carlos Trincheiras convida a coreógrafa portuguesa Olga Roriz, para remontar uma obra de impacto, contemporânea, que havia estreado com o Ballet Gulbenkian, em Lisboa, em 25 de março de 1986. Treze Gestos de Um Corpo, baseada na obra literária O Retrato em Negro – de Marguerite Youcenar – apresentava duas versões coreográficas, o que resultava numa experiência inédita para o BTG: um elenco inteiramente masculino e um inteiramente feminino, formado, ambos, por 13 integrantes. Essa, sem dúvida, foi uma das coreografias de maior impacto (visual e técnico) apresentadas pela companhia e que consistia numa seqüência em cânon, exigindo do elenco concentração e apuro rítmico intenso. Encerrando o ano, a temporada oficial apresentava, ainda, mais um coreógrafo estrangeiro – radicado no país – Luiz Arrieta, que propunha uma obra densa, ritualista e intensamente dramática: Pavane Pour Une Enfante Défunte, a partir da música de Ravel.


Em 1991, o repertório apresentava uma significativa alteração em seu direcionamento. Luiz Arrieta retornava a Curitiba, para a montagem de mais um trabalho coreográfico Estância e por indicação do novo Superintendente da Fundação, Oswaldo Loureiro, a coreógrafa paulista Célia Gouvêa e seu esposo, Maurice Vaneau, são contratados para levar à cena uma obra baseada na partitura de Franz Schubert: A Bela Moleira. Esta produção contou, mais uma vez, com a participação da Orquestra Sinfônica do Paraná.


Em 1992, A Fundação Teatro Guaíra transforma-se em Centro Cultural Teatro Guaíra (CCTG). Na abertura da temporada oficial de 1992, o BTG apresenta Dom Quixote com a Orquestra Sinfônica do Paraná. A montagem, com coreografia de Carlos Trincheiras (baseado nas produções de Gorsky e Zakharov), conta com a participação de alunos do Curso de Danças Clássicas. A bailarina Eleonora Greca divide o papel de Kitri com Cecília Kerche (1ª bailarina do TMRJ) e Jurandi Silva com Marcelo Misailidis (1º bailarino do TMRJ). Em 17 de julho, o BTG faz a abertura do X Festival de Dança de Joinville, com a coreografia Treze Gestos de Um Corpo de Olga Roriz, ao lado de companhias como Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Companhia do Palácio das Artes de Belo Horizonte, Minas Gerais e do Balé da Cidade de São Paulo.

No 2º semestre, Trincheiras remonta Dom Quixote e convida duas outras estrelas para os papéis principais: Fernando Bujones e Jennifer Gelfand. A apresentação ocorre no Teatro Nacional de Brasília, em 11 de agosto de 1992. Em agosto o BTG atua na ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi, com a Orquestra Sinfônica e o Coral do Teatro Guaíra. Em setembro, estréia ‘Os Sete Pecados Capitais’ de Milko Sparemblek, baseado em texto de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weill, executada pela Orquestra Sinfônica do Paraná. Os cenários e figurinos ficaram sob a responsabilidade de Raul Cruz.


Em 1993, um novo diretor de artes toma posse: Maurice Vaneau, que já havia trabalhado anteriormente com o Ballet Guaíra. Abrindo a temporada, em março de 1993, estréia o balé O Baile da Maldita com coreografia de Eduardo Laranjeira. A trilha sonora foi encomendada a César Sarti (com intervenções de Laranjeiras).

Em 13 de Maio de 1993 falece Carlos Trincheiras. A direção da Companhia fica, provisoriamente, a cargo de sua esposa, a maître Isabel Santa Rosa, que assumiria o cargo até o final do ano. Em junho, mesmo órfão, o BTG faz a abertura do VII Festival de Dança de Campos do Jordão, com a coreografia ‘Treze Gestos de Um Corpo’ . E no dia 16 de julho faz a abertura do XI Festival de Dança de Joinville com Pastorale de Vasco Wellemkamp, em homenagem a Carlos Trincheiras. Em agosto, remonta-se Dom Quixote com Ana Botafogo/Eleonora Greca e Jurandi/Marcelo Misailidis, revezando os papéis principais. Em outubro, acontece a estréia mundial de As Canções de Wesendonck, de Sparemblek, baseada no texto de Mathilde Wesendonck e música de Richard Wagner.

1994 – 1997: Jair Moraes

O final da ‘era Trincheiras’: novos rumos para o BTG

Após o retorno de Isabel Santa Rosa a Portugal, assumiu a direção do Ballet Teatro Guaíra, em 1994, então, o bailarino e maître de ballet, Jair Moraes e a coordenação ficou a cargo de Maria do Carmo Távora. Um dos primeiros projetos de Moraes, na direção do BTG, foi aumentar o número de apresentações da companhia, prevendo não só apresentações em sua sede, o Teatro Guaíra, mas também em outros teatros da cidade e do interior do Paraná. Em seguida, providenciou a vinda de bons professores para que pudessem acrescentar técnica e maturidade artística aos integrantes, visto que há muitos anos, o grupo contava somente com os mesmos instrutores.


Preocupado com seu elenco – dos 34 integrantes, cerca de 10 estavam de licença – o novo diretor decidiu, ainda no 1º semestre, montar uma banca para audição de novos profissionais e reclassificação dos bailarinos antigos, pois a maioria já estava trabalhando há muitos anos na mesma categoria sem promoção. Jair pretendia agregar, pelo menos, mais dez elementos ao grupo: cinco rapazes e cinco moças. O elenco, após audição e reclassificação, à disposição de Jair Moraes, em 1994, era composto pelos seguintes integrantes: Bailarinos Principais: ELEONORA GRECA, JAIR MORAES, REGINA KOTAKA, EUNICE OLIVEIRA, WANDERLEY LOPES, JURANDI SILVA; Solistas: HELOÍSA ALMEIDA, VANIA KESIKOWSKI, DAISI WOR, CINTHIA NÁPOLI, NEURY GAIO, EDUARDO LARANAJEIRA, SÉRGIO OLIVEIRA; Corpo de Baile: AILTON GALVÃO, ANA TEJERINA, ANGELITA FACCIOLI, BERNADETE SANT’ANNA, CARLA ALMEIDA, CARLA MOITA, CARLOS CAVALCANTE, CLAUDEMIR CRUZ, CLIONISE BARROS, DANIELA DE SOUZA, GRAZZIANI COSTA, HUMBERTO ANTONELLI, INÊS DRUMMOND, JULIO MOTA, LEANDRO NASCIMENTO, LIA COMANDULLI, LILIAN GHEUR, MÁRCIA DE CASTRO, MARIÂNGELA FABIANE, RICARDO GARANHANI, RODRIGO GALLIANO, SÁVIO DE LUNA, SÉRGIO ARAÚJO, SORAYA FELÍCIO e WANET LUNA. Bailarinos Estagiários: ADRIANA MENEGAT, ALBERTO CAVALHEIRO, IAN MICKIEWICZ, JORGE SCHNEIDER, MARCELO PERINI, PATRICIA SARDÁ, PEDRO ZACARIAS, ROSANE CARDOSO e SIMONE BONAMIGO.


Em março o BTG participa da ópera A Viúva Alegre de Franz Lehár com direção de Oswaldo Loureiro e coreografia de Célia Gouvêa. Realiza-se um espetáculo em homenagem a Carlos Trincheiras, de 12 a 15 de maio de 1994 com os balés: Sinfonia 3, Inter-Rupto, Dulcinéia. Em 15 de julho, o BTG dança na abertura do XII Festival de Dança de Joinville com a coreografia Exultate Jubilate de Wellemkamp. Em 24 de agosto o BTG dança no 1º Festival de Dança do Mercosul (Montevidéu) apresentando: Treze Gestos de Um Corpo, Inter-Rupto, Canções de Jair Moraes, Exultate Jubilate, e Rhapsody in Blue de Ana Mondini.


Em 16 de outubro, o BTG dança no encerramento do Festival de Dança de Cascavel. Com o objetivo de construir uma homenagem dançante a Carlos Trincheiras, o diretor, maître e coreógrafo Jair Moraes resolve levar à cena a sua obra Canções, baseada em 5 canções do compositor Gustav Mahler que, por sua vez, se inspirou nos textos do poeta romântico alemão Rückert. Antes de ser montada para o BTG, a obra foi aplaudida em Assunção-Paraguai e no Festival Nacional de Dança em Joinville, onde obteve o prêmio de ‘melhor coreografia’. Quando finalmente chegou a Curitiba, havia sofrido mudanças ao ser recriada para o BTG. O coreógrafo trabalha nesta homenagem, com a Orquestra Sinfônica do Paraná, sob regência do maestro Oswaldo Colarusso, que até então, jamais havia tocado obras de Mahler.


Mas nem só de erudito sobreviveu o Ballet Teatro Guaíra, em 1994. O diretor do BTG também propiciou a vinda da coreógrafa gaúcha Ana Mondini, para a criação de uma coreografia inédita, baseada na obra do compositor George Gershwin, misturando o erudito com o popular, e que começou a ser ensaiada desde o 1º semestre. Especialmente criada para o Festival de Dança de Cascavel, a obra Rhapsody in Blue, de Mondini, foi apresentada numa grande produção que reuniu, de forma inédita no interior do Paraná, a Orquestra Estadual de Londrina, regida pelo maestro Emanuel Martinez, o pianista Marcello Verzoni e o Ballet Teatro Guaíra. O espetáculo foi apresentado no Ginásio de Esportes, promovido pela Prefeitura, Secretaria Municipal de Cultura de Cascavel, Centro Cultural Teatro Guaíra e Secretaria de Estado da Cultura.


Na abertura da temporada oficial do BTG, em 1995, Rhapsody in Blue apresentava-se novamente, desta vez com a participação da Orquestra Sinfônica do Paraná, sob regência do maestro Osvaldo Colarusso e tendo como solista convidado, ao piano, Arthur Moreira Lima e a participação da cantora, solista da Camerata Antiqua, a mezzo-soprano Fátima Castilho. Luis Arrieta, por sua vez, compôs para o BTG Estância, com música de Ginastera, buscando recriar em movimentos nesse trabalho, as imagens e paisagens de seu país de origem, a vida rural dos pampas argentinos. A peça, com apenas 15 minutos, utilizava 10 bailarinos representando o personagem interiorano da Argentina. Havia muitos referenciais e reminiscências de Arrieta em sua coreografia. Jair Moraes, acumulando funções, vislumbrava mudanças internas no BTG e sentia o elenco coeso e receptivo às transformações propostas.


Em 1995, essas transformações começam a acontecer na troca de gestão do Centro Cultural Teatro Guaíra: como diretor presidente, assume novamente Constantino Viaro, a diretoria administrativa e financeira fica a cargo de Adalberto dos Santos e a nova diretora artística – após a saída de Loraci Setragni – é Mara Moron. O elenco que compunha o BTG manteve-se inalterado, à exceção de alguns estagiários que foram agregados ao grupo. Jair Moraes, no ano em que a companhia completava 25 anos, apostava na fórmula conduzida por Carlos Trincheiras na gestão anterior: a manutenção de um repertório eclético, pequenas remontagens com a finalidade de circulação – turnês ao interior do Estado – muitas delas com o repertório em homenagem a Carlos Trincheiras (suas principais obras), além da criação de obras inéditas dos coreógrafos convidados, nacionais – Ana Mondini e Luis Arrieta – e internacional – Henning Paar, que já havia atuado junto ao BTG.


O coreógrafo alemão criou um solo especificamente para a bailarina Cinthia Nápoli, narrando a história de uma jovem que espera pelo amado, acreditando em sua volta e postando-se, todos os dias no mesmo lugar, mirando o horizonte, além das águas do mar. Como talento ‘da casa’, Jair Moraes investe numa parceria com o coreógrafo e assistente de direção, Júlio Mota, na recriação de uma obra tradicional O Mandarim Maravilhoso. O Mandarim é uma coreografia instigante, conhecida no mundo inteiro, e que já foi montada várias vezes no Brasil, com versões assinadas por profissionais como Oscar Arrais e Yurek Shabelewski. O coreógrafo Júlio Mota, entretanto, escolheu esta obra de Bela Bartók, inicialmente proposta para pantomima cênica, e deu-lhe uma estética dos quadrinhos undergrounds americanos, sem contudo, deixar de respeitar as anotações cênicas na partitura do próprio Bartók, incluindo a caracterização de personagens e situações.


Em dezembro, no encerramento da temporada de 1995, Jair Moraes reapresenta O Grande Circo Místico, no grande auditório do Teatro Guaíra, cuja temporada foi sucesso de bilheteria. Mas para 1996, o diretor artístico Jair Moraes e a nova coordenadora do BTG, Carmem Hoffmann negociaram, junto à diretoria do CCTG, uma estréia nacional, convidando um dos nomes mais expressivos e importantes da dança: | Márcia Haydée. O objetivo principal era a criação de uma obra original para o BTG.


A coreógrafa apresenta seu projeto para levar à cena Coppelius, o Mago, cuja estréia se deu na abertura oficial do 1º semestre, em 25 de abril de 1996, com a participação da Orquestra Sinfônica do Paraná, sob regência de Abel Rocha. Os papéis principais foram entregues a Regina Kotaka (Swanilda), Wanderley Lopes (Franz), Eleonora Greca (Fada do Amor) e Sérgio Oliveira (Coppelius). Tratava-se de um espetáculo para crianças e adultos, na concepção de Márcia Haydée: uma história (mágica) de amor, entremeada de aventuras promovidas por um mago, gnomos e fadas.


Em 20 de setembro de 1996, estréia nacionalmente, no Guairão, o bailado Viva Rossini, de Tíndaro Silvano, com música de Ottorino Respighi – sobre temas de Rossini. Nova participação da Orquestra Sinfônica do Paraná, sob regência do maestro Abel Rocha. Esta criação coreográfica era citada pelos críticos como uma ‘deliciosa subversão do balé clássico’. O elenco do BTG, em 1996, era composto pelos seguintes integrantes: Bailarinos Principais: ELEONORA GRECA, JAIR MORAES, REGINA KOTAKA, EUNICE OLIVEIRA, WANDERLEY LOPES, JURANDI SILVA; Solistas: HELOÍSA ALMEIDA, VANIA KESIKOWSKI, DAISI WOR, CINTHIA NÁPOLI, NEURY GAIO, EDUARDO LARANAJEIRA, SÉRGIO OLIVEIRA; Corpo de Baile: AILTON GALVÃO, ANA TEJERINA, ANGELITA FACCIOLI, BERNADETE SANT’ANNA, CARLA ALMEIDA, CARLA MOITA, CARLOS CAVALCANTE, CLAUDEMIR CRUZ, CLIONISE BARROS, DANIELA DE SOUZA, GRAZZIANI COSTA, HUMBERTO ANTONETTI, INÊS DRUMMOND, JULIO MOTA, LEANDRO NASCIMENTO, LIA COMANDULLI, LILIAN GHEUR, MÁRCIA DE CASTRO, MARIÂNGELA FABIANE, PATRICIA SARDÁ, RICARDO GARANHANI, RODRIGO GALLIANO, SÁVIO DE LUNA, SÉRGIO ARAÚJO, SORAYA FELÍCIO e WANET LUNA. Bailarinos Convidados para a Temporada: ALBERTO CAVALHEIRO, EDEMIR DE LIMA, IAN MICKIEWICZ, JORGE SCHNEIDER, MÔNICA KUKULKA, PEDRO ZACARIAS e ROGÉRIO HALILA.

1997 – 1998: Marta Nejm e Christina Purri

BTG Sob novas direções

Em 1997, Jair Moraes deixa a direção artística e no curto lapso de tempo antes da indicação da nova diretoria, o assistente de direção e ensaiador Júlio Mota assume interinamente a função.

Convidada para assumir a direção artística do Ballet Teatro Guaíra, Marta Nejm, ex-bailarina, maître e ensaiadora da companhia, deixa a Alemanha onde atuava junto ao Ballet Shindowski e retorna a Curitiba.

Uma de suas primeiras ações foi convidar Carla Reinecke para assumir as funções de maître da companhia, e, juntamente com Gylian Dib, acumular a função de ensaiadora. Carla aceitou.

Além da manutenção de repertório, poucas alterações ocorreram na ‘curta gestão’ de Nejm. As turnês para o interior do estado foram retomadas, destacando-se as apresentações em Telêmaco Borba (abril) e na Região Metropolitana de Curitiba (julho).

Em julho, o BTG foi convidado para se apresentar no evento criado pelo SESC-Pompéia – São Paulo, denominado Do Momento ao Movimento, levando à cena os bailados ‘Trindade’ e ‘Estância’ , ambos de Arrieta, além de ‘Treze Gestos de Um Corpo’ de Roriz.

Como inovação do período, convidou-se o coreógrafo carioca, Renato Vieira, que possuía seu nome ligado às produções de dança da | Rede Globo de Televisão, para criar ‘Almas Gêmeas’ a partir da música de Mozart.

Com estréia nacional, o bailado mostrava a incessante busca da ‘cara metade’ um tema fascinante, porém amplamente explorado na arte.

Além desta iniciativa, o BTG participou da ópera ‘Orfeu e Eurídice’ , juntamente com a Orquestra Sinfônica do Paraná, sob regência de Oswaldo Colarusso, na temporada de 26 de outubro a 1º de novembro de 1997. As coreografias para a participação do BTG, nessa produção do CCTG, foram criadas pela própria diretora e coreógrafa Marta Nejm.

Também em outubro, o BTG realizava o espetáculo de abertura do 5º Festival de Dança do Mercosul, com a coreografia ‘Presenças’ de Arrieta.

E no encerramento da temporada de 1997, a exemplo de Jair Moraes, no ano anterior, Marta Nejm remonta o grande sucesso do BTG: ‘O Grande Circo Místico’ , em dezembro, no Guairão que, como em todas as vezes, alcançou notável êxito de público e bilheteria.

Neste ano, o elenco possuía a seguinte configuração: Bailarinos principais: ELEONORA GRECA, REGINA KOTAKA, JAIR MORAES e WANDERLEY LOPES; Bailarinos solistas: HELOISA ALMEIDA, VÂNIA KESIKOWSKI, CÍNTHIA NÁPOLI, DEISE WOR, e SÉRGIO VIEIRA; Corpo de baile: AILTON GALVÃO, ANA SILVA, ANA TEJERINA, ANGELITA FACCIOLI, CARLA ALMEIDA, CARLOS CAVALCANTE, CLAUDEMIR CRUZ, CLIONISE DE BARROS, GRAZZIANI COSTA, HUMBERTO ANTONETTI, INÊS DRUMMOND, JÚLIO MOTA, LEANDRO NASCIMENTO; LIA COMANDULLI, LILIAN GHEUR, MÁRCIA DE CASTRO, MARIÂNGELA FABIANE, RICARDO GARANHANI, ROGÉRIO HALILA e SORAYA FELÍCIO. Bailarinos contratados: ADRIANA MENEGAT, BETTO CAVALHEIRO, EDEMIR ANTUNES, HELENO MOURA, IAN MICKIEWICZ, JORGE SCHNEIDER, MÔNICA KUKULKA e PATRICIA SARDÁ.

Em 1998 novas mudanças eram anunciadas na diretoria do CCTG: uma composição estritamente feminina: Mônica Rischbieter assumiu o cargo de diretora presidente, Vera Lúcia Moreira de Andrade, o cargo de diretora administrativa e financeira e Mara Moron continuou atuando como diretora artística.

Após a saída de Marta Nejm, o cargo de direção artística do BTG fica, interinamente, sob a responsabilidade da coordenadora Carmem Hoffman. Mas ainda no início do ano, a diretoria do CCTG convida e nomeia para a função a mineira Christina Purri. Tendo, no ano anterior trabalhado como assistente de coreografia, na remontagem do balé ‘Prelúdios’ de Pederneiras, para o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Purri, resolve sondar a possibilidade de se remontar a mesma obra – uma das mais significativas da 2ª fase coreográfica do Grupo Corpo. Antes, porém, da chegada de Pederneiras para montar sua nova obra com o BTG, Christina convida um outro coreógrafo, também mineiro, com o qual havia convivido no Rio de Janeiro e que acreditava ser bastante criativo e inovador. Solicita duas obras para um espetáculo do BTG: uma obra inédita e uma remontagem, que havia visto e se interessado pelo dinamismo da coreografia e por acha-la compatível com o perfil vanguardista da companhia.

O convite ao coreógrafo Rodrigo Moreira resulta na estréia nacional de ‘Átrio’ , em 24 de abril de 1998.

O coreógrafo também remonta, ‘Caminhada’ , uma obra inspirada no | I-Ching.

No segundo semestre, ocorre a estréia nacional de ‘Variações Goldberg’ de Rodrigo Pederneiras, em 25 de setembro de 1998 que já havia produzido anteriormente para o BTG, ‘A Dança da Meia Lua’ .

Em setembro, durante a temporada oficial, com a estréia de ‘Variações Goldberg’ , Christina Purri, decide, após desentendimentos com o elenco e a diretoria do CCTG, se desligar de suas funções na direção do Ballet Teatro Guaíra.

O elenco, em 1998, era composto pelos seguintes integrantes: bailarinos principais: ELEONORA GRECA, REGINA KOTAKA, JAIR MORAES e WANDERLEY LOPES; bailarinos solistas: HELOISA ALMEIDA, VÂNIA KESIKOWSKI, CÍNTHIA NÁPOLI, DEISE WOR e SÉRGIO VIEIRA; corpo de baile: AILTON GALVÃO, ANA SILVA, ANA TEJERINA, ANGELITA FACCIOLI, CARLA ALMEIDA, CARLOS CAVALCANTE, CLAUDEMIR CRUZ, CLIONISE DE BARROS, GRAZZIANI COSTA, HUMBERTO ANTONETTI, INÊS DRUMMOND, JÚLIO MOTA, KLAUS KOLL, LEANDRO NASCIMENTO, LIA COMANDULLI, LILIAN GHEUR, MÁRCIA DE CASTRO, MARIÂNGELA FABIANE, RICARDO GARANHANI, ROGÉRIO HALILA, SÉRGIO MEIRA e SORAYA FELÍCIO. Bailarinos contratados: ADRIANA MENEGAT, BETTO CAVALHEIRO, EDEMIR ANTUNES, HELENO MOURA, IAN MICKIEWICZ, JORGE SCHNEIDER; MÕNICA KUKULKA e PATRICIA SARDÁ. Bailarino estagiário: NENO MEIRELLES.

1999 – 2003: Suzana Braga

O BTG completa 30 anos: a gestão Suzana Braga

No segundo semestre de 1999, após intensas negociações, a jornalista gaúcha e crítica de dança Suzana Braga assume a função de diretora artística do Ballet Teatro Guaíra.

Com o objetivo de renovar o grupo, antes mesmo de se pensar na identidade a ser traçada em sua gestão, a nova diretora propôs mudanças radicais na estrutura organizacional do grupo. Resolve fazer uma audição, inicialmente interna, para readequação de elenco, funções e cargos desempenhados e mais tarde completar o número de integrantes, com uma audição externa.

O cargo de ensaiadora é, então, unicamente preenchido por Gylian Dib. O bailarino Rodrigo Galliano assume a função de professor, ao lado de maîtres famosos no Brasil, que Suzana Braga faria questão de convidar, tais como a ex-bailarina do | Ballet de Stuttgart, Beatriz Almeida, com a finalidade de incrementar tecnicamente o elenco e dar-lhes unidade cênica, visto que após audição – interna e externa – o grupo apresentava uma configuração heterogênea. Jair Moraes é convidado a desempenhar a função de professor adjunto.

Sem levar em conta hierarquias administrativas, a composição do elenco, neste ano, como se observa a disposição (ordem alfabética constante nos programas do período) dos bailarinos é a seguinte: ADRIANA MENEGAT, AILTON GALVÃO, ALAÉRCIO LEITE, ALEX SOARES, CARLA D’ALMEIDA, CARLA MOITA, CAMILA SÉLLI, CLIONISE DE BARROS, ELEONORA GRECA, FÁBIO VALLADÃO, HUMBERTO ANTONETTI, IAN MICKIEVICZ, INÊS DRUMMOND, JAIR MORAES, JORGE SCHNEIDER, LARISSA ROMANOWSKI, MÁRCIA DE CASTRO, MARIANA ROSÁRIO, PEDRO ZACH, REGINA KOTAKA, RICARDO ALMEIDA, RICARDO GARANHANI, SAULO FUJITA, SORAYA FELÍCIO, VÂNIA KESKOWSKI, WANDERLEY LOPES. Bailarinos estagiários: DÉBORA LEIVAS, ISLEIDE STEIL, MARILISE CUNHA e SÉRGIO THOMAZ.

A estréia da temporada oficial – e estréia de Suzana Braga como diretora artística – ocorre no período de 16 a 19 de dezembro de 1999. O evento era uma comemoração conjunta dos 30 anos do BTG e 25 anos do Grande Auditório.

No programa aparece a nova denominação do grupo: BALÉ TEATRO GUAÍRA.

O coreógrafo argentino Eduardo Ibañez criou ‘Tango’ , inspirado no ritmo portenho. Em 30 minutos a coreografia repassava um século de tango, do início, nos bairros pobres como La Boca, até a sofisticação que lhe imprimiram compositores contemporâneos.

Musicalmente o espetáculo também fazia uma leitura da essência do tango, dos primórdios à atualidade. Havia na composição da trilha, músicas emblemáticas como ‘El Dia em que me Quieras’ , de Gardel e Lepera e ‘El Torito’ de Villaldo, até tangos sinfônicos e contemporâneos como ‘Estúdio Sobre um Tema de Tango’ de Omar Torres.

Entretanto, a coreografia não conquistou o público e a crítica.

A coreógrafa Roseli Rodrigues, por sua vez, criou ‘O Segundo Sopro’ , um balé inspirado nos sentidos de elementos como vento, pedra e água e nas variações das quatro estações. Sua dança alçava os bailarinos às alturas, donde despencavam para deslizar no palco, em transportes completamente fora do eixo, formando seqüências de movimentos contínuos, fluidos e interligados. Os figurinos ficaram a cargo de Paulo Maia e os cenários foram planejados por Irineu Salvador. A música foi especialmente composta pelo maestro paulista Fábio Cardia.

A grande ‘inovação’ proposta aos bailarinos foi dançarem no palco coberto por água, desafiando equilíbrios que exigiam grande técnica, controle e sincronismo perfeito.

Para obter o efeito da ‘chuva’, os cenotécnicos do Teatro Guaíra constróem um sistema de canos perfurados, que atravessa o teto do palco. Com o devido isolamento, capaz de evitar problemas elétricos e um bombeamento que lança e repuxa água na velocidade e quantidade necessárias, esse cenário aquático contribuiu em grande parte, para o sucesso estrondoso da peça coreográfica, que ainda hoje continua sendo apresentada pelo BTG em suas turnês nacionais, com grande êxito de público, alcançando, em 2009, mais de 250 apresentações e tornando-se assim, um dos balés mais populares da companhia.

A retomada das turnês nacionais

Ano 2000. Marco simbólico: mudança de milênio.

No ano anterior, a companhia mudava sua identific(ação), passando a ser conhecida como Balé Teatro Guaíra.

Ao término do ano, em dezembro, as cadeiras administrativas são ocupadas por novas personalidades: a diretora presidente era Dóris Teixeira, a diretora administrativa, Jucimara de Fátima Bacil e a diretora artística, Débora Arzua Tadra, que já havia integrado o elenco do BTG na década de 70.

Cumprindo extensa programação pré-agendada no ano anterior, fruto de organização e bons canais de comunicação com a gestão anterior, Suzana Braga, convida Tíndaro Silvano para uma nova parceria coreográfica com o BTG e Toshie Kobayashi para lecionar balé clássico como professora convidada.

A estréia da 1ª temporada ocorre no período de 4 a 7 de maio de 2000. No programa constam: ‘Ao Luar’ de Tíndaro Silvano e as remontagens de ‘Treze Gestos de Um Corpo’ de Olga Roriz, além do popular ‘O Segundo Sopro’ , de Roseli Rodrigues.

O BTG também se apresenta na abertura do I Festival de Dança de São Caetano do Sul, nos dias13 e 14 de maio, com o mesmo programa já referido.

Além disso, os esforços da administração do Centro Cultural conseguem um importante parceiro cultural com o patrocínio da COPEL – Companhia Paranaense de Energia, o que viabilizou a aguardada turnê nacional: destacam-se as apresentações no seguinte roteiro: Recife-Pernambuco (dia 2 de julho – Teatro Guararapes-Centro de Convenções e 4 de julho – Praça de Arsenal); Salvador-Bahia (dias 8 e 9 de julho – Teatro Castro Alves); Aracaju-Sergipe (dias 12 e 13 de julho – Teatro Novo Atheneu); Fortaleza-Ceará (dias 16 e 17 de julho – Praça Verde – Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura).

Do programa levado nestas turnês ressalta-se: ‘Beatriz’ (da obra O Grande Circo Místico), ‘O Segundo Sopro’ , ‘Ao Luar’ , ‘Diana e Actheon’ , ‘Exultate Jubilate’ e ‘Treze Gestos de Um Corpo’ .

Em novembro de 2000, Suzana Braga promove nova audição. Após as contratações, o elenco fiou assim configurado: ADRIANA MENEGAT, AILTON GALVÃO, ALAÉRCIO LEITE, CAMILA SÉLLI, CASSILENE ABRANCHES, DANIEL SIQUEIRA, DÉBORA LEIVAS, DENISE SIQUEIRA, EDSON HAYZER, ELEONORA GRECA, ELOISA MARA, FÁBIO VALLADÃO, HUMBERTO ANTONETTI, IAN MICKIEVICZ, INÊS DRUMMOND, JAIR MORAES, JORGE SCHNEIDER, LARISSA ROMANOWSKI, LENE BARBOSA, MÁRCIA DE CASTRO, MARIANA ROSÁRIO, PEDRO ZACH, REGINA KOTAKA, RENATA BRONZE, RICARDO ALMEIDA, RICARDO GARANHANI, SAMUEL KAVALERSK, SAULO FUJITA, SORAYA FELÍCIO, VÂNIA KESKOWSKI, WANDERLEY LOPES. Bailarinos estagiários: FRANCINI AMARAL, JULIANA MACHADO, SIMONE CAMARGO, YAHSMINE MAÇAIRA.

Em dezembro, nova turnê brasileira levava ‘O Segundo Sopro’ e ‘Treze Gestos de Um Corpo’ para o centro-oeste brasileiro. Destacam-se as apresentações em Cuiabá, Mato Grosso (no dia 21 de novembro – Centro de Eventos Pantanal); Brasília, Distrito Federal (nos dias 24 e 25 de novembro – Teatro Nacional – Sala Villa Lobos) e Goiânia, Goiás (dia 27 de novembro – Teatro Rio Vermelho).

A vanguarda artística e a brasilidade na dança

Em 2001, Suzana Braga ganha novos parceiros no BTG: Marila Andreazza assume a coordenação e a produção da companhia, enquanto a professora Elaine de Markondes é convidada a dar aulas, juntamente com Toshie Kobayashi e Jair Moraes (professor adjunto).

Em março abre-se a temporada com uma turnê para Toledo, Paraná, no Teatro Municipal, apresentando-se peças do repertório construído no ano anterior.

Mas a grande novidade, aguardada para a temporada oficial, é a renovação de repertório, por meio da viabilização do espetáculo ‘Contemporâneos Brasileiros’ .

Susana convida, então, Ana Vitória, ChameckiLerner (Andréa Lerner e Rosane Chamecki) e Tíndaro Silvano para compor o mosaico coreográfico na composição deste espetáculo híbrido, que encontra no patrocínio da Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel), viabilizado pela Rei Rouanet, condições de mostrar um alto padrão de qualidade na produção de figurinos, cenários, confecção de material gráfico e condições de viabilização de circulação deste espetáculo em ‘homenagem ao produto de dança nacional’.

O espetáculo estréia, em Curitiba, na temporada de 25 a 29 de abril.

É esclarecedor o texto de abertura do programa especialmente composto para a ocasião:

O Centro Cultural Teatro Guaíra e o Balé Teatro Guaíra têm o prazer de apresentar o espetáculo, Contemporâneos Brasileiros, que abre oficialmente a temporada de 2001. A escolha do tema é uma homenagem aos artistas e ao produto da dança nacional. Razões não faltam para justificar a iniciativa. A atividade da dança no país, enquanto agente da cultura, reflete, nos dias de hoje, passo a passo as transformações da sociedade brasileira. Hoje o público já desmistificou o conceito de que ‘só o que vem de fora tem valor’. O Balé Teatro Guaíra pôde sentir na pele o quanto é forte essa transformação quando, no ano passado, apresentando o trabalho ‘O Segundo Sopro’, da coreógrafa brasileira Roseli Rodrigues e do compositor, também brasileiro, Fábio Cárdia, atingiu números recordes de público e de apresentações, visitando 19 cidades. Esta valorização e conscientização do artista nacional, que propomos com o espetáculo Contemporâneos Brasileiros, vem unida à proposta de renovação do repertório do Balé Teatro Guaíra que, desde o final de 1999, procura contatar nossas raízes culturais. Em suma, tratar da dança como uma arte integrada à cultura nacional, sem caráter populista. [12]

Cabe salientar que Ana Vitória já havia remontado, com a ajuda de Andréa Bergallo, no início do ano para o BTG, a coreografia ‘Orikis’ . Esta obra foi originalmente composta em 1998 com a Companhia de Dança Carlota Portella. Após este trabalho, Ana Vitória recebeu novo convite de Braga para a criação de uma obra original, ‘Trânsito’ a ser apresentada no espetáculo ‘Contemporâneos Brasileiros’ .

Tíndaro Silvano cria o dueto ‘Díptico’ e Rosane Chamecki e Andréa Lerner em parceria, propõem ao BTG a obra ‘Nem Tudo O Que Se Tem Se Usa’ .

A partir de junho (depois de 15 anos sem realizar uma turnê brasileira), tem início a circulação do espetáculo ‘Contemporâneos Brasileiros’ , agregando-se às apresentações, a obra ‘O Segundo Sopro’ .

Destaca-se o seguinte roteiro: Rio de Janeiro (nos dias 20, 21, 22 e 23 de junho – Teatro João Caetano); Salvador (no dia 28 de junho – Teatro Castro Alves) e Recife (no dia 1º de julho – Morro da Conceição e no dia 2 de julho – Teatro do Parque). O BTG também esteve presente em Porto Alegre, São Caetano, Corumbá, Belém, Joinville e Campo Grande.

O elenco, após a saída de alguns integrantes e admissão de outros, mediante audições, era assim estruturado em 2001: ADRIANA MENEGAT, AILTON GALVÃO, ALEX CAJÉ, BETHO CAVALHEIRO CAMILA SÉLLI, DANIEL SIQUEIRA, DÉBORA LEIVAS, DENISE SIQUEIRA, EVERSON BESBATI, EVERSON ROCHA, EMERSON DE MATTOS, ELEONORA GRECA, ELOISA MARA, FÁBIO VALLADÃO, IAN MICKIEVICZ, INÊS DRUMMOND, JAIR MORAES, JORGE SCHNEIDER, JULIANE ENGELHARDT, LARISSA ROMANOWSKI, LEONARDO VIDAL, LENE BARBOSA, MÁRCIA DE CASTRO, PEDRO ZACH, PRISCILA KRENZINGER, REGINA KOTAKA, RENATA BRONZE, RICARDO GARANHANI, RONNI MACIEL, SAMUEL KAVALERSKI, SIMONE CAMARGO, SAULO FUJITA, SORAYA FELÍCIO, WANDERLEY LOPES e YARA BARBOSA. Bailarinos estagiários: ANA PAULA CAMARGO e CLAUDIO FONTAN.

A companhia e as obras eram ovacionadas em sua turnê pelo Brasil.

As críticas, na sua maioria positivas, não cansavam de elogiar a iniciativa do BTG em dar espaço aos novos talentos coreográficos, sobretudo os brasileiros, numa valorização cultural e renovação de linguagem coreográfica. Destaca-se a seguinte passagem da crítica de dança Inês Bogéa:

GUAÍRA ACERTA O PASSO NAS NOVAS CRIAÇÕES [...] Ninguém desconhece as dificuldades de trabalhar com coreógrafos convidados (assimilação de uma nova linguagem, num curto espaço de tempo, é sempre difícil). Mas a diversidade pode ser uma das virtudes das companhias públicas, dando espaço a vários nomes. O Guaíra só saiu ganhando com as últimas criações. Radicadas em Nova York, as curitibanas Rosane Chamecki e Andréa Lerner, nunca haviam coreografado para o Guaíra. Em “Nem Tudo o Que Se Tem Se Usa”, um cubo de metal e tela limita o espaço dos bailarinos. Vai aos poucos sendo levantado criando novas imagens de cena, pelos recursos de iluminação de Milton Giglio. O centro dos movimentos está nas pernas, nos pés e nos quadris. Os corpos exploram o desequilíbrio, as torções, a troca de peso; por vezes um corpo se utiliza do outro como ponto de partida para novos gestos, que depois se repetem e se combinam. A música (de Jorge Falcón) evolui do mesmo modo – quer dizer, não evolui, acumula texturas, alterando eletronicamente uma coleção de fragmentos sonoros. Macumba não para turistas. A transição entre uma cena e outra algumas vezes se dá com movimentos iniciados no silêncio. Mas falar de transição nem é justo: a maioria das cenas são fraturadas para compor uma seqüência de recortes. Já em “Trânsito”, da baiana Ana Vitória, a marca é a precisão e agilidade. Grande solo de uma bailarina na diagonal de luz do palco: gestos densos, suaves e claros, cada parte do corpo pondo em xeque o caminho dos passos. Um rico gestual de mãos e braços e a forte movimentação de chão marcam todo o trabalho. Aqui também os bailarinos estão muito à vontade. É mesmo um alento assistir á apresentação de uma companhia estatal tão boa e renovada sob a direção de Suzana Braga [...] O balé está certo de apostar nas novidades e tem tudo para figurar, definitivamente, entre as grandes companhias brasileiras. [13]

Em 2002, Suzana Braga decide levar a termo uma grande empreitada: reformular, e atualizar a mais célebre obra do Balé Teatro Guaíra, considerada por muitos como a identidade da companhia paranaense: ‘O Grande Circo Místico’ .

Seguindo a trilha da ‘atualização’, o dramaturgo Naum Alves de Souza – autor do roteiro na primeira versão – reescreveu trechos e apoiou uma produção que valorizasse mais a palavra ‘místico’.

Edu Lobo e Chico Buarque resolveram, também, rever as letras e músicas que haviam composto na primeira versão. Edu compôs oito novos temas sem letra para acrescentar à trilha. “Houve mudanças em apenas duas músicas: ‘A Bela e a Fera’ (que ganhou narrativa de Marco Nanini em lugar da voz de Tim Maia) e ‘A História de Lily Brown’ (que era cantada por Gal Costa e é agora interpretada pela atriz Vanessa Gerbelli).

Para a criação desta releitura, que na verdade era uma nova versão, convida-se o coreógrafo Luis Arrieta.

Arrieta apostava numa coreografia que fugia do balé clássico, não empregava as sapatilhas de pontas e, de todas as maneiras possíveis, procurava não repetir, de forma linear, o que era ‘dito e cantado’ nas músicas da trilha sonora.

Para acentuar o caráter circense do espetáculo, convida-se a coreógrafa Dani Lima, fundadora e ex-integrante da Intrépida Trupe, que veio a Curitiba, desde o início do ano, trabalhar, antes do processo coreográfico de Arrieta, a técnica circence, em oficinas e workshops, treinando os bailarinos em diversas manobras acrobáticas.

Dani Lima tinha a difícil tarefa de ‘treinar e habilitar’ 34 bailarinos que literalmente dançavam não apenas no chão, mas pendurados em tecidos, trapézios e liras.

Além destas técnicas ‘circences’, o ator curitibano Mauro Zanatta é convidado para preparar o elenco na técnica de clowns, outro recurso cênico que seria explorado nessa nova montagem. Os figurinos e cenários ficam a cargo da experiente Rosa Magalhães.

Mais uma vez, o BTG leva o Circo para uma turnê nacional, consagrando-se, como uma das melhores companhias de dança do Brasil, repetindo o sucesso da primeira versão.

Destaca-se o seguinte roteiro nacional: estréia em Curitiba (temporada de 13 a 16 de junho – Guairão); São Paulo (dias 21, 22 e 23 de junho – Teatro Alfa); Rio de Janeiro (de 27 a 29 de junho e de 4 a 6 de julho – teatro Odylo Costa Filho); Recife (dias 12 e 13 de julho – Teatro Guararapes); Salvador (dias 19, 20 e 21 de julho – Teatro Castro Alves); Brasília (dias 26, 27 e 28 de julho – Teatro Nacional) e Belo Horizonte (dias 3 e 4 de agosto – Palácio das Artes).

O elenco que participou deste evento – remontagem – e posterior turnê nacional, era constituído pelos seguintes elementos: ADRIANA MENEGAT, AILTON GALVÃO, AIRTON ROSA, ALEX CAJÉ, ANA PAULA CAMARGO, CAMILA SÉLLI, CLARICE PAIXÃO, CLAUDIO FONTAN, DANIEL SIQUEIRA, DÉBORA LEIVAS, DENISE SIQUEIRA, ELEONORA GRECA, EMERSON DE MATTOS, EVERSON BESBATI, FÁBIO VALLADÃO, GUILHERME SANTANA, IAN MICKIEVICZ, INÊS DRUMMOND, JAIR MORAES, JORGE SCHNEIDER, JULIANE ENGELHARDT, LARISSA ROMANOWSKI, LENE BARBOSA, LUCIANE RICCI, MÁRCIA DE CASTRO, PEDRO ZACH, PRISCILA KRENZINGER, REGINA KOTAKA, RENATA BRONZE, RICARDO GARANHANI, RONNI MACIEL, SAMUEL KAVALERSKI, SAULO FUJITA, SIMONE CAMARGO, SORAYA FELÍCIO, VÂNIA KESIKOWSKI e WANDERLEY LOPES.

2003 – 2010: Carla Reinecke

O BTG e as novas configurações a partir de 2003

Em 2003 Nitis Jacon torna-se diretora presidente, Altair Sebastião Dorigo, diretor administrativo-financeiro e Enéas Lour o diretor artístico.

Nessa nova gestão, Suzana Braga encontra alguns entraves quanto à continuidade de sua direção artística frente ao BTG e não encontrando soluções, afasta-se do cargo.

A nova diretora nomeada é Carla Reinecke, que já dirigia a Guaíra 2 Cia de Dança e, ao aceitar o convite, encontrou-se acumulando as duas funções.

Carla herdava uma Companhia com apresentações anteriormente agendadas para 2003, e, como ação imediata de sua gestão, era necessário viabilizar condições de atender às solicitações, convites e apresentações das duas peças de repertório que marcaram a retomada da visibilidade e projeção nacional do BTG: ‘O Segundo Sopro’ e ‘O Grande Circo Místico’ .

Entre uma viagem e outra, Reinecke foi remodelando a estrutura organizacional de sua equipe que, a partir de sua gestão, seria formada por Gylian Dib, que assumia a função de ensaiadora [em 2004 torna-se assistente de direção], Eunice Oliveira, ensaiadora e pelos professores e maîtres adjuntos, frutos da casa: Jair Moraes e Márcia de Castro.

O elenco à disposição da nova diretora artística era composto pelos seguintes bailarinos: ADRIANA MENEGAT, AIRTON ROSA, ALESSANDRA LANGE, ANA PAULA CAMARGO, ALEX CAJÉ, CAMILA SÉLLI, CLAUDIO FONTAN, DANIEL SIQUEIRA, DÉBORA LEIVAS, DENISE SIQUEIRA, ELEONORA GRECA, EMERSON DE MATTOS, EVERSON BESBATI, FÁBIO VALLADÃO, IAN MICKIEVICZ, JAIR MORAES, JARUAM XAVIER, JORGE SCHNEIDER, JULIANE ENGELHARDT, LARISSA ROMANOWSKI, NAZILENE BARBOSA, MÁRCIA DE CASTRO, PEDRO ZACH, PRISCILA KRENZINGER, REGINA KOTAKA, RENATA BRONZE, RICARDO GARANHANI, RONNI MACIEL, SAMUEL KAVALERSKI, SAULO FUJITA, SIMONE BONISCH, SIMONE CAMARGO, SORAYA FELÍCIO, VÂNIA KESIKOWSKI e WANDERLEY LOPES. Estagiários: ARIANE GONÇALVES e SÉRGIO THOMAZ.

Um dos destaques, na programação prevista para 2003, foi a apresentação do BTG no Festival Internacional de Londrina, no dia 09 de maio. O Cine Teatro Ouro Verde teve platéia lotada para ver a apresentação da obra ‘O Segundo Sopro’ de Roseli Rodrigues.

Outros destaques foram a apresentação de ‘O Grande Circo Místico’ na abertura do 21º Festival de Dança de Joinville, além da turnê com a mesma obra, para as cidades do Rio de Janeiro, Aracajú e São Paulo.

A reconstrução de um repertório

Em 2004, a direção artística do Centro Cultural Teatro Guaíra tem alteração: a atriz e diretora teatral Nena Inoue, assume o cargo.

Momento emblemático para o Balé Teatro Guaíra: em maio a companhia estaria comemorando 35 Anos.

Carla Reinecke decide remontar para a temporada de 29 de abril a 2 de maio, duas obras de grande relevância no repertório construído nestes 35 anos, constituindo-se como ‘raízes’ ou bases definidas do BTG: ‘Exultate Jubilate’ de Wellenkamp e ‘Pastoral’ de Sparemblek. Num tributo e reconhecimento à gestão Carlos Trincheiras, a diretora artística e o maestro Alessandro Sangiorgi levam à cena estas duas obras por meio do BTG e da Orquestra Sinfônica do Paraná.

Numa atitude inédita, O Balé Teatro Guaíra promove, na ocasião o encontro de muitos dos ex-integrantes da Companhia, nestas três décadas, para render-lhes, no palco, o devido reconhecimento e homenagem.

O elenco representativo do Balé Teatro Guaíra, na ocasião, era composto por: AIRTON ROSA, ALESSANDRA LANGE, ALEX CAJÉ, ANA PAULA CAMARGO, CAMILA SÉLLI, CLAUDIO FONTAN, DANIEL SIQUEIRA, DÉBORA LEIVAS, DENISE SIQUEIRA, ELEONORA GRECA, EMERSON DE MATTOS, EVERSON BESBATI, FÁBIO VALLADÃO, IAN MICKIEVICZ, JAIR MORAES, JARUAM XAVIER, JORGE SCHNEIDER, JULIANE ENGELHARDT, LARISSA ROMANOWSKI, NAZILENE BARBOSA, MÁRCIA DE CASTRO, PEDRO ZACH, PRISCILA KRENZINGER, REGINA KOTAKA, RENATAH BRONZE, RICARDO GARANHANI, RONNI MACIEL, SAMUEL KAVALERSKI, SIMONE BONISCH, SIMONE CAMARGO, SORAYA FELÍCIO, VÂNIA KESIKOWSKI e WANDERLEY LOPES. Estagiários: MICHEL FOGAÇA e LEANDRO VIEIRA. Bailarinos contratados para a temporada: ARIANE GONÇALVES, CLARISSA CAPPELLARI, DENISE REZENDE, DIEGO PORCIUNCULA, FÁBIO SANFER, KARIN CHAVES e SÉRGIO THOMAZ.

Mas não somente de homenagens e remontagens vive o BTG nesse ano.

Carla Reinecke convida para uma experiência inusitada, o jovem coreógrafo do Grupo Quasar, Henrique Rodovalho, para a criação de uma obra – composta de duas partes – com música de Schöenberg e Tracy Silverman, que executou sua própria obra junto com a orquestra.

Novos ‘espaços’ começavam a ser desenhados para o BTG:

‘Espaço 1’ – com a música Noite Transfigurada de Arnold Schöenberg (1874-1951) executada pela Orquestra Sinfônica do Paraná. É um exercício do movimento, desenvolvido a partir do próprio espaço que o bailarino cria e reconhece nele mesmo. É uma leitura configurada pela abstração e pela matemática de movimentos que as partes do corpo exercitam.

‘Espaço 2’ – a partir do Concerto Para Violino Elétrico e Orquestra, de Tracy Silverman. Trata-se do lado mais humano da movimentação. São esboços de personagens, pequenas ações que vão se desenvolvendo. O movimento se mostra mais natural e orgânico, resultando no espaço cênico uma outra forma de ocupação a partir dos sentidos.

Uma nova versão de ‘O Quebra-Nozes’ , com coreografia de Carla Reinecke, termina o ano com a participação de quarenta alunos da Escola de Danças do Teatro Guaíra, vinte e quatro vozes do Coral Nova Philarmonia, além da participação da OSP, sob regência do maestro Alessandro Sangiorgi, garantindo sucesso de público em todas as apresentações. Mais uma vez, a equipe técnica, veterana do CCTG, entrava em cena, produzindo os cenários e iluminação – Carlos Kur, figurinos – Paulinho Maia e adereços – Ricardo Garanhani, que também assumiu nessa montagem a função de assistente de concepção do espetáculo.

Em 2005, viabiliza-se a vinda de dois novos coreógrafos de renome internacional, para a concepção de trabalhos originais para a Companhia: o alemão Félix Landerer e o brasileiro Luiz Fernando Bongiovanni. A contemporaneidade se fazia presente em duas obras completamente distintas:

‘Verschwindend Kleine Welt’ – ‘Pequeno Mundo’ – de Félix Landerer, tratava sobre a perda de memória, a idéia de uma pessoa que descobre que perderá sua memória devido a causas como velhice, doenças degenerativas ou até por acidentes. Interessava ao coreógrafo expressionista como ficaria emocionalmente essa pessoa.

‘Caixa de Cores’ – de Luiz Fernando Bongiovanni era um trabalho baseado no encantamento que a física clássica produziu na forma de teoria das cores de Newton. Um feixe de luz que passa por um prisma e se subdivide em sete cores espectrais, revelando sete aspectos da mesma luz branca. Caixa de Cores fala sobre o que cada cor poderia ser.

Em outubro o BTG se apresenta com sucesso em Córdoba, Argentina, no Festival do Mercosul.

E o grande sucesso de ‘O Quebra-Nozes’ em 2004 garantiu a sua reapresentação no final do ano de 2005 fazendo parte do calendário anual do CCTG e as tradicionais festividades natalinas da cidade de Curitiba, ratificando a versatilidade da Companhia no trânsito entre o contemporâneo e o clássico.

As novas aquisições para o repertório do BTG, somadas ao sucesso de público de ‘O Quebra-Nozes’ , sinalizavam caminhos concretos e uma fórmula acertada para a renovação e continuidade da companhia.

Em 2006, coreógrafo internacional convidado por Carla Reinecke era o venezuelano, David Zambrano, que antes de criar sua obra, ministrou exaustivos workshops sobre o seu método de criação e improvisação, o Flying Low Technique, desestabilizando bases de suporte, equilíbrios, conceitos, teorias e formas de pensar e fazer dança. Um ‘lugar’ diferente era instaurado no ‘espaço’ de criação do BTG.

Nessa diferente abordagem coreográfica, que desafiava o elenco a rever suas relações com o chão, muitos bailarinos encontraram dificuldades, mas, aos poucos, foram aderindo às novas propostas do coreógrafo, o que acabou se traduzindo na obra ‘Morningdog/ dancingday/ piggynight’ .

O elenco, em 2006, era composto pelos seguintes integrantes: AIRTON ROSA, ALESSANDRA LANGE, ALEX CAJÉ, ANA PAULA CAMARGO, CLAUDIO FONTAN, DANIEL SIQUEIRA, DÉBORA LEIVAS, ELEONORA GRECA, EMERSON DE MATTOS, FÁBIO VALLADÃO, IAN MICKIEVICZ, JAIR MORAES, JARUAM XAVIER, JORGE SCHNEIDER, JULIANE ENGELHARDT, MÁRCIA DE CASTRO, PEDRO ZACH, PRISCILA KRENZINGER, REGINA KOTAKA, RENATAH BRONZE, RICARDO GARANHANI, SIMONE BONISCH, SIMONE CAMARGO, SORAYA FELÍCIO, VÂNIA KESIKOWSKI e WANDERLEY LOPES. Bailarinos estagiários: ANTERO CUNHA, ARIANE GONÇALVES, CLARISSA CAPPELLARI, DAIANE CAMARGO, FÁBIO SANFER, LEANDRO VIEIRA e LUCIANA VOLOXKI.

O BTG, Romeu e Julieta e a contemporaneidade

Em 2007, Carla Reinecke, que sempre teve um encanto pelas obras de Shakespeare, sobretudo ‘Romeu e Julieta’ , almejava fazer uma leitura coreoráfica desta obra há muito tempo. Encontrando em Luiz Fernando Bongiovanni a sensibilidade para tornar concreta uma coreografia contemporânea, bela e lírica, mas ao mesmo tempo trágica e cômica, resolve fazer o convite ao coreógrafo, que aceitou a proposta de imediato.

A execução da música original de Sergei Prokofiev foi levada a termo, pela Orquestra Sinfônica do Paraná.

Nessa montagem, o casal dos ‘amantes de Verona’ foi representado pela bailarina Alessandra Lange e por Fábio Valladão.

O elenco, após nova audição, era composto pelos seguintes bailarinos: AIRTON RODRIGUES, ALESSANDRA LANGE, ALEX CAJÉ, CLAUDIO FONTAN, DAIANE CAMARGO, DANIEL SIQUEIRA, ELEONORA GRECA, FÁBIO VALLADÃO, IAN MICKIEWICZ, IGOR VIEIRA, JORGE SCHNEIDER, JULIANE ENGELHARDT, LUCIANA VOLOXKI, MANUEL GOMES, NINA MONTEIRO, PATRICIA MACHADO, PEDRO ZACARIAS, REGINA KOTAKA, RENATAH BRONZE, RICARDO GARANHANI, ROBSON SCHMOELLER, RODRIGO MELLO, SIMONE BONISCH, SORAYA FELÍCIO, WANDERLEY LOPES e WOODY SANTANA. Bailarinos contratados: ANDRÉ NERI, CARLOS MATOS, DAVID CALDAS, DÉBORAH CHIBIAQUE, DIEGO MEJÍA NEVES, JULIANA RODRIGUES, MARI PAULA, PAULO DE MELO, REINALDO PULOCO e RUBEN BARRETO. Estagiário: ERALDO ALVES.

O balé, sucesso de público e crítica, estréia no Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto – Guairão. A temporada de abertura de 2008 acontece de 23 a 27 de abril e de 1º a 05 de maio. Desde então, vem sendo constantemente requisitado para apresentações e turnês nacionais, devido ao seu hibridismo técnico, aliando os elementos do balé e da dança contemporânea.

Neste viés, é bastante elucidativo o trecho da crítica de Roberto Pereira:

[...] O mais interessante, contudo, é observar como a companhia está em ótima fase. Todo o conjunto responde satisfatoriamente aos desafios propostos pelo coreógrafo, mas alguns merecem menção. Rodrigo Mello, como a ama de Julieta, provou que possui o timing para cômico, abusando da teatralidade. O resultado é uma reação imediata do público. Mas apenas para pensar: o quanto de balé existe nessa atuação? A lembrança, por exemplo, da personagem Simone do balé La Fille Mal Gardée, também feito em travesti, torna-se inevitável. Mas é na atuação preciosa de Alessandra Lange, Como Julieta, e Fábio Valladão, como Romeu, que toda a construção coreográfica se apóia. Nas cenas citadas, como a do balcão e a última do balé, o grau de cumplicidade atingido entre os dois é de um rigor absoluto, pois combina as qualidades inerentes da dança de cada um com a proposta estética de Bongiovanni. O resultado é primoroso. Assistir a essa versão de Romeu e Julieta é mesmo uma oportunidade para se pensar na relação do balé com a contemporaneidade [grifo nosso]. Por colocar essa questão de forma tão precisa, Bongiovanni já acertou. Mas contando ainda com o Balé Teatro Guaíra como lugar dessa investigação, tudo ganha uma dimensão maior. E com certeza, também melhor. [14]

O BTG completa 40 anos: As lendas do Iguaçu

Ano 2009. O Balé Teatro Guaíra completou em maio 40 anos. Momento reflexivo, para avivar a memória e visualizar o longo caminho percorrido até então...

O que deveria retratar, coreograficamente, este aniversário simbólico? Que obra teria a responsabilidade de viabilizar e imprimir, esteticamente, a identidade mapeada em quatro décadas de trabalho ininterrupto, voltada à dança, num país como o Brasil?

O Centro Cultural Teatro Guaíra foi buscar, em algumas das raízes do BTG, um projeto para uma nova obra coreográfica.

As Cataratas do Iguaçu, uma das maravilhas do mundo e marco turístico e ambiental brasileiro, foi selecionado para ser homenageado por meio de suas lendas.

O repertório da companhia já incluía uma coreografia, assinada por Carlos Trincheiras, em 1987, inspirada na lenda do surgimento das Cataratas e com música de Jaime Zenamon.

Como o BTG tem se apresentado em vários eventos ambientais, sobretudo em Foz do Iguaçu, a escolha da obra comemorativa dos 40 Anos do BTG recaiu sobre a mesma lenda, mas o olhar contemporâneo sobre a coreografia acabou por recriar um trabalho totalmente novo.

Jaime Zenamon conta que a idéia de resgatar a Lenda das Cataratas em um balé surgiu despretensiosamente em 1987, quando ainda estava na Alemanha e compôs o concerto para violão e orquestra intitulado ‘Iguaçu’ . “Eu escrevi este concerto para ser uma obra cheia de elementos das músicas tocadas em bares aqui no Brasil. Tinha cuíca, parecia um choro, um samba com muito batuqe, os gringos adoravam, achavam aquilo muito interessante”. [15]

Vinte anos depois de algumas apresentações no Brasil, a presidente do CCTG, Marisa Villela, pediu para Zenamon adaptá-la para o BTG. Zenamon se recusou, mas propôs a criação de uma nova composição: nascia o projeto musical da Lenda das Cataratas. O próprio músico visitou uma tribo caingangue, em 2008, para conhecer melhor a cultura indígena que é narradora da lenda de Naipi e Tarobá. Gravou seus cantos e percebeu a gradativa perda dos referenciais culturais da tribo o que o motivou ainda mais a resgatar essa cultura, que representa parte da história brasileira.

Após receber a versão escrita da Lenda, ler e escutar a música indígena, Zenamon passou cerca de dois meses compondo em sua chácara. No início do ano a obra estava pronta para ser entregue ao coreógrafo Rui Moreira selecionado pelo CCTG e que seria o responsável pela criação da narrativa em movimentos, a partir da trilha sonora de Jaime Zenamon.

No programa de abertura, destaca-se a parceria imprescindível da equipe de Ação Educativa do Museu Oscar Niemeyer, ao fazer a interação entre as artes visuais, o teatro, a música e a dança, gerando uma nova forma de mostrar esta lenda, por intermédio de desenhos infantis.

Explica-se: na abertura do balé, alguns dos momentos mais tocantes de toda a obra, são os videografismos projetados na cena e que interagem com os bailarinos. As projeções são desenhos infantis produzidos durante uma oficina no Museu Nyemeyer, após as crianças conhecerem parte do folclore paranaense. Integrantes da equipe técnica do CCTG foram até estas crianças para narrar a lenda do surgimento das Cataratas do Iguaçu, numa ação que vai muito além da produção artística do Teatro Guaíra.

O elenco que tem a missão de atualizar, por meio de seus corpos em movimento, a obra escolhida para simbolizar as quatro décadas do BTG, é formado, após audição realizada em fevereiro de 2009, pelos seguintes bailarinos: ALESSANDRA LANGE, ALEX CAJÉ, ANDRÉ NERI, CLAUDIO FONTAN, DANIEL SIQUEIRA, DAVID CALDAS, DÉBORAH CHIBIAQUE, ELEONORA GRECA, FÁBIO VALLADÃO, IAN MICKIEWICZ, JORGE SCHNEIDER, JULIANA RODRIGUES, JULIANE ENGELHARDT, LUCIANA VOLOXKI, MARI PAULA, NINA MONTEIRO, PATRICIA MACHADO, PEDRO ZACARIAS, REGINA KOTAKA, REINALDO PULOCO, RENATAH BRONZE, RICARDO GARANHANI, RODRIGO MELLO, SIMONE BONISCH, SORAYA FELÍCIO e WANDERLEY LOPES. Bailarinos contratados: LEANDRO VIEIRA e PÂMELA SOBRAL. Estagiários: ERALDO ALVES, ERICKSON DE OLIVEIRA, MARINA TEIXEIRA, NELSON MELLO, PATRICK LORENZETI e THAYNE FERNANDES.

Notas

[1] COLUNA Notas. Diário do Paraná. Curitiba: edição de 14 de setembro de 1969.

[2] BAILARINOS passam nos exames do TG – Gazeta do Povo. Curitiba: edição de quinta-feira, 24 de dezembro de 1970.

[3] CORPO DE BAILE DO TEATRO GUAÍRA. Curitiba, Fundação Teatro Guaíra – Governo Paulo Pimentel: agosto, 1970.1 programa: p&b.

[4] DANÇA. Gazeta do Povo. Curitiba: edição de sábado, 1º de setembro de 1977.

[5] GISELLE em Brasília: aplaudido em pé. Gazeta do Povo. Curitiba: edição de 20 de novembro de 1977.

[6] CORPO de baile do Guaíra já prepara temporada para 1979. Gazeta do Povo. Curitiba: edição de quarta-feira, 15 de novembro de 1978, p. 12.

[7] VELLOZO, Marila Annibelli. (2005). A imagem do Teatro Guaíra e da dança em Curitiba: influência e contaminação através da mídia. São Paulo: Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica – PUC-SP, p. 37.

[8] O Curso de Formação Acelerada para Rapazes foi criado em 1979, por meio de Carlos Trincheiras, que designou como instrutores/monitores, os bailarinos Jair Moraes e J.C. Caramês. Anos mais tarde, seriam incorporados ao ‘corpo docente’, os mestres, Eva Schul (dança moderna) e Tony Abbot. Vários bailarinos foram aproveitados nestes cursos, fazendo parte de montagens coreográficas do Ballet Guaíra e também, vários deles, ao longo dos anos, passaram a integrar o elenco fixo da Companhia. Em pouco tempo, o Curso se tornou um ‘celeiro de artistas masculinos’, para a dança.

[9] TRINCHEIRAS, Carlos. Revista Dançar Especial: 20 Anos Ballet Teatro Guaíra. São Paulo, edição comemorativa, 1989, p.8-9. Entrevista concedida a Carmen Lobos.

[10] BALLET GUAÍRA – Em comemoração ao 288º aniversário de Curitiba. Fundação Teatro Guaíra: temporada de 1981. 1 programa: color.

[11] KATZ, Helena. Guaíra monta seu ‘Circo Místico’. Jornal Folha de S. Paulo – Ilustrada. São Paulo: edição de sexta-feira, 25 de março de 1983.

[12] TEIXEIRA, Dóris e BRAGA, Suzana. Texto de abertura. In: Contemporâneos Brasileiros. Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto – Curitiba: abertura da temporada oficial, 25 a 29 de abril de 2001. 1 programa: color., p. 3.

[13] BOGÉA, Inês. Guaíra acerta o passo nas novas criações. Jornal Folha de S. Paulo – Ilustrada. São Paulo: edição de 04 de junho de 2001.

[14] PEREIRA, Roberto. Análise crítica de Romeu e Julieta. In: LANZA, Bia. Romeu e Julieta. http://teatroguairaromeuejulieta.blogspot.com/2008/04. Acessado em 21 jun, 2009.

[15] ANDRÉ, Jadson. Um balé genuinamente paranaense. Disponível em: http:jornale.com.br/context/view/ 19121/62. Acessado em 9/9/2009.

2011: Andréa Sério

O Balé Teatro Guaíra começa 2011 com nova diretora: Andréa Sério Bertoldi. [1]

Referências

WOSNIAK, Christiane. O Balé Teatro Guaíra [mensagem anexada]. Mensagem enviada para <nai_sato@hotmail.com>, em 11 fev. 2011.

WOSNIAK, Cristiane. Um olhar institucional sobre a história da dança em Curitiba. In: PEREIRA, Roberto; MEYER, Sandra; NORA, Singrid (Org.). Seminários de Dança - Histórias em movimento: biografias e registros em dança. | Caxias do Sul: Lorigraf, 2008. P. 227 - 234.

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