Cavalo Marinho

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Autor: Massuel dos Reis Bernardi
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Cavalo Marinho é um folguedo folclórico tradicional da zona da mata setentrional de Pernambuco, Alagoas e agreste da Paraíba. Apesar de ser uma variação do [[Bumba meu boi]], a brincadeira tem características próprias e além do "auto do boi", podem ser vistos diversos personagens fantásticos do interior do estado.
Cavalo Marinho é um folguedo folclórico tradicional da zona da mata setentrional de Pernambuco, Alagoas e agreste da Paraíba. Apesar de ser uma variação do [[Bumba meu boi]], a brincadeira tem características próprias e além do "auto do boi", podem ser vistos diversos personagens fantásticos do interior do estado.

Edição atual tal como 19h41min de 25 de fevereiro de 2017

Autor: Massuel dos Reis Bernardi

Cavalo Marinho é um folguedo folclórico tradicional da zona da mata setentrional de Pernambuco, Alagoas e agreste da Paraíba. Apesar de ser uma variação do Bumba meu boi, a brincadeira tem características próprias e além do "auto do boi", podem ser vistos diversos personagens fantásticos do interior do estado.


Cavalo1.jpg


O auto integra o ciclo de festejos natalinos, e presta homenagem aos Reis Magos. Acontecem entre julho e janeiro, com destaque para os dias de natal, ano-novo e dia de reis. Reunindo encenações, coreografias, improvisos, além de uma série de danças tradicionais, tais como o coco, o mergulhão e a dança de São Gonçalo, o folguedo se caracteriza como teatro, incluindo música/canto (toadas), dança e poesia (loas.

A brincadeira acontece numa roda fixa, onde o público - em geral formado apenas por homens - pode interagir. Atualmente as mulheres também participam da brincadeira cavalo-marinho através da dança, de vestimentas coloridas, com gestos e cacoetes, sem a utilização de métodos convencionais da gramática.

Representado por cerca de 76 personagens, sua apresentação pode durar até 8 horas.

Esse folguedo utiliza apenas do próprio trabalho corporal, emite mensagens que possibilitam interpretações diversas das representações do cotidiano dos integrantes do grupo. A dança do cavalo-marinho geralmente é passada de pai para filho e como se fosse uma herança de família. Onde os filhos aprendem com os pais observando como eles fazem no ato da brincadeira. Os brincantes do cavalo-marinho, desde de criança tem contado com a cultura da sua cidade, bairro, além de outras manifestações locais como o coco-de-roda, Maracatu , ciranda, contribuindo assim, com o seu próprio estilo de dançar o folguedo.

O espetáculo é narrado através da linguagem falada, da declamação de loas e toadas - como são conhecidas as estrofes poéticas que integram o enredo. Os personagens, de modo geral, interagem com o público presente, sobretudo Mateus e Bastião, que, constantes em todos os atos, tecem comentários satíricos sobre a apresentação em si, sobre os indivíduos do público, ou sobre quaisquer outros assuntos. Assemelha-se ao reisado, ao bumba-meu-boi e a outros folguedos brasileiros, bem como certas manifestações populares cênicas de Portugal, como o boi fingido e a nau-catarineta. Os brincantes, na execução do festejo, dão vivas a Jesus, à Virgem Maria, a São Gonçalo e aos santos de devoção do dono da casa onde se processa a apresentação. A essas manifestações de religiosidade católica agregam-se os pontos em honra à Jurema, entoados pelo Caboclo, e certos elementos do Xangô do Nordeste. Figuras e toadas tantas com gestos e corporeidades específicos, precisos. Vitalidade e vigor físico com habilidade e beleza. Música, dança, teatro. Diversidade e riqueza que impressionam.

Como a maioria das Danças Populares no Brasil se formam por grupos musicais, cortejos, danças ou danças com encenações, o Cavalo Marinho é mais uma das tradições peculiares pela sua característica teatral. A religiosidade também está presente em muitas das Danças Populares brasileiras. O Cavalo Marinho, embora faça parte do ciclo natalino, não é devoção, mas espetáculo, apresentação.

Os grupos de cavalo-marinho estão concentrados numa região pequena, formada basicamente pelas cidades: Condado, Aliança, Ferreiros, Camutanga, Itambé e Goiana. Apresentações acontecem entre julho e janeiro, com destaque para os dias de natal, ano-novo e dia de reis.


Tabela de conteúdo

Origem

O Cavalo Marinho nasceu de artistas que têm em comum o trabalho na cana-de-açúcar. Por este motivo, se liga a um Brasil que está na raiz da própria cana-de-açúcar. Consequentemente onde também começaram a surgir as primeiras necessidades. Necessidades estas que movem, que transformam. O Cavalo Marinho é fruto dessa necessidade, desse Brasil primeiro em sua essência popular.

Um dos mais importantes em atividade é Mestre Salustiano, responsável pela introdução do cavalo-marinho no Recife. Ele recebeu o título de mestre depois de representar quase todos os personagens da brincadeira e hoje toca sua rabeca no "banco". Nas noites de Natal convoca os maiores mestres da zona da mata - Gasosa e Grimário, entre outros - para brincar no centro cultural Ilumiara Zumbi, construído por ele na cidade de Tabajara, próxima a Olinda.


A Música

As apresentações se processam ao som da orquestra conhecida como banco (nome dado ao grupo de músicos sentados num banco), composta por instrumentos musicais como a rabeca, o pandeiro, o reco-reco, o ganzá, o bage de taboca e as zabumbas.


O Enredo

O folguedo acontece ao longo de uma noite inteira, quando dezenas de personagens - como "Capitão Marinho", "O Soldado da Gurita", entre muitos outros - vão entrando na encenação e participando de seqüências de coreografias, também chamadas de "danças dos arcos" como: São Gonçalo, Jerimum, Marieta, Cobra e Roseira. Só ao raiar do dia é que surge o "Boi", já na seqüência final da brincadeira.


Personagens/Figuras

O folguedo possui cerca de 76 personagens (figuras), como no Bumba meu boi divididas em três categorias:


Figuras Humanas

• Capitão Marinho

• Mateus

• Bastião

• Catirina

• Ambrósio

• Soldado da Gurita

• Mané do baile

• Valentão

• Pisa Pilão

• Barre Rua

• Empata-samba

• Matuto da Goma

• Véia do bambu

• Jerimum

• Marieta

• Roseira

• Matuto da Goma

• Selador

• Seu Campelo

• Vila Nova

• Seu Domingos

• Véia do Bambu

• Galantes

• Damas

• Pastorinha

• Arlequim

• Pisa-Pilão

• Babau

• Mané-do-Motor

• Mané-Taião

• Mané-Chorão

• Véio-Cacunda

• Mané-Gostoso

• Margarida

• Pataqueiro

• Verdureiro


O Capitão Marinho é um arquétipo do chefe político local ou proprietário de terras. Apresenta-se, em geral, de terno e chapéu branco, embora outras indumentárias possam ser utilizadas. Vem montado no cavalo Marinho, de onde advém o nome do folguedo, embora também apresente-se à pé, em certos momentos do auto.

Bastião e Mateus são negros bufões que dividem a mesma mulher, Catirina. São presença constante em diversos folguedos brasileiros, como o Maracatu Rural, Reisado e Bbumba meu boi]]. Trajam um chapéu cônico coberto de fitas coloridas, blusas estampadas com motivos florais e cores berrantes e uma grossa armação feita de palhas de bananeiras ao redor dos quadris. Apresentam-se com os rostos pintados de preto.

Os Galantes e as Damas são figuras aristocráticas convidadas ao baile pelo Capitão Marinho. Seus trajes são ricamente decorados com fitas e espelhos e exibem amplas cabeleiras. Ao se apresentarem no auto, portam arcos decorados e executam a dança das fitas, folguedo de origem européia que representa a hierarquia racial presente na sociedade açucareira.


Cavalo mateus bastiao.jpg


Figuras Fantásticas

• Caboclo Jueremeiro ou de Urubá

• Parece mas não é

• Morte

• Diabo

• Babau

• Jaraguá


O Caboclo é entidade sobrenatural que cultua a Jurema Sagrada. Apresenta-se portando cocares e cachimbos, apetrechos essenciais à prática do Catimbó, de que se utiliza para a cura do boi.


Figuras Animais

• Boi

• Ema

• Cavalo

• Onça

• Burra


Uma apresentação com todas as figuras pode ter duração de oito horas seguidas.

No decorrer da apresentação, os brincantes - tradicionalmente todos homens - assumem diferentes papéis, mediante a troca de roupa ou de máscara, com exceção dos negros Bastião e Mateus, que permanecem os mesmos durante todo o espetáculo.

Os personagens do auto refletem a sociedade colonial da Zona da Mata Nordestina: Mateus e Bastião, que trazem o rosto pintado de preto, representam a forte presença negra na empresa açucareira. O Capitão, montado em seu cavalo, representa o grande latifundiário, dono do engenho. O Soldado, subserviente ao capitão, é o elemento opressor a serviço do poder político. Os galantes e as Damas fazem alusão à aristocracia que se desenvolveu em torno da cultura da cana. Há ainda dezenas de figuras que surgem pintadas, vestindo máscaras, paletós, chapéus, penas, golas ou armações de bichos, em pernas de pau, cuspindo fogo, além de outras que dançam e compõe coreografias, improvisam, dialogam e interagem com o público.


A trama do cavalo-marinho gravita em torno do baile, que será oferecido pelo Capitão Marinho em honra dos Santos Reis do Oriente, e para o qual foram convidados os galantes e as damas. O capitão organiza não só baile, mas também preside todo o folguedo, comanda a brincadeira através do toque do apito. Para organizar o terreiro onde ocorrerá a festa, Marinho contrata dois negros, Mateus e Bastião, personagens bufões responsáveis, em grande parte, pela comicidade do folguedo. Ambos carregam junto a si a bexiga, bexiga do boi curtido, que percutem contra o corpo para auxiliar na musicalidade. Mateus e Bastião, entretanto, se sublevam, e passam a se dizer donos do terreiro. O capitão Marinho convoca então o Soldado da guarita, que utiliza-se da força para restabelecer a ordem. Quando a situação parece estar normalizada, surge o Empata-samba, arquétipo do homem "valentão" que, como sugere o nome, impede a festividade de prosseguir.

A apresentação atinge o seu clímax com a chegada dos galantes e das damas, que realizam a dança dos arcos. Esta modalidade de dança coreografada apresenta visíveis semelhanças com a dança de São Gonçalo - uma espécie de baile devocional de origem portuguesa ainda praticado em diversos estados brasileiros, sobretudo no Nordeste. Os galantes, em pares ou em círculo, seguram nas pontas dos arcos de madeira enfeitados de fitas, realizando, então, complexas coreografias. No fim do baile, o boi surge, e é repartido.


Cavalo2.jpg


Roteiro Geral

O Capitão Marinho (chamado também de Mestre da brincadeira), deseja dar uma festa em louvor aos Santos Reis do Oriente (Três Reis Magos).

Ele já tem o "Banco" (músicos) e precisa de "figuras" (personagens) para desenvolver a brincadeira. Aparece então a primeira figura da noite, o "Seu Ambrósio", um “vendedor de figuras” que negocia com o Capitão as personagens que poderão surgir ao longo da brincadeira. Ele mostra cada uma delas através da imitação de suas corporeidades, ações físicas e “trupés” (passos de dança) específicos.

Fechado o negócio, entram na história Mateus e Bastião (os “palhaços” da brincadeira). São contratados pelo Capitão para “cuidar” do terreiro, colocando ordem na brincadeira. São as únicas figuras que permanecem na representação desde sua entrada até o final da mesma.

O Capitão argumenta que vai viajar e deixa Mateus e Bastião encarregados de cuidar da ordem da brincadeira, o que, de fato eles não fazem. Entra então na roda o Soldado da Gurita, para prender os dois. Há uma encenação de luta (dançada) da prisão dos dois e a ordem é re-estabelecida. Sai o Soldado, Mateus e Bastião continuam na brincadeira.

Outras figuras vão surgindo na brincadeira, sempre anunciadas pelo Banco através das toadas específicas. De modo geral, entre cada uma das figuras que surgem, há um pequeno intervalo, preenchido por toadas e trupés, que são dançados pelos membros do grupo e pelo público. São sequências de várias coreografias, também chamadas de “Dança dos Arcos”.

São Gonçalo, Jerimum, Marieta, Cobra, Roseira, Matuto da Goma, Selador, Seu Campelo, Vila Nova, Seu Domingos, Véia do Bambu, são algumas que podem cortar a madrugada e outras elaboradas em conjunto pelos Galantes, Damas, Pastorinha, Arlequim, Ema, Caboclo-de-Orubá, Pisa-Pilão, Babau, Onça, Mané-do-Motor, Mané-Taião, Mané-Chorão, Véio-Cacunda, Mané-Gostoso, Serrador, Margarida, Pataqueiro, Verdureiro, entre outros e o Capitão como o “Puxador dos Arcos”.

Os Galantes, juntamente com o Capitão, realizam um baile em louvor aos Santos Reis do Oriente, através de várias evoluções coreográficas; algumas delas fazendo uso de arcos com fitas coloridas. Este é um momento de grande riqueza visual. As toadas e as loas desta parte da brincadeira falam sobre o nascimento de Jesus Cristo, os Reis Magos, São Gonçalo do Amarante (santo casamenteiro), entre outros temas. Em dado momento, o Capitão surge montado em seu Cavalo, o Cavalo Marinho, e outras evoluções coreográficas são executadas em seqüência, juntamente com a Galantaria.

O ápice da brincadeira é a encenação da volta do Capitão de sua longa viagem. Ele retorna com sua Galantaria (representando membros de sua família e/ou uma escolta de soldados). Depois dos Arcos é a vez do próprio Capitão Marinho vir montado em seu cavalo, por isso a figura é chamada de Cavalo Marinho, que também dá nome a toda brincadeira.

A última encenação da noite é a que conta a morte e ressurreição do Boi. Nessa passagem da brincadeira, o Boi é morto por Mateus e Bastião; o Capitão manda chamar o Doutor da Medicina. O Doutor examina o Boi e conclui que não há salvação possível. Decide-se então por partilhar a carne do Boi. Logo após a partilha inicia-se uma seqüência de toadas para “levantar” o Boi, que ressuscita para a alegria de todos. Por fim, todos formam uma grande roda no terreiro para cantar e dançar os Cocos de Despedida, terminando assim a brincadeira. O Vaqueiro dá início a sequência final, com seu filho, Mané, montado numa Burra. Mas só quando a barra do dia vem quebrando é que o terreiro recebe o Boi. Depois dele, para finalizar, a despedida e uma roda de Coco.


Grupos e Mestres de Cavalo Marinho

Em Pernambuco os grupos de cavalo-marinho estão concentrados numa região pequena, formada basicamente pelas cidades: Condado, Aliança, Ferreiros, Camutanga, Itambé, Itaquitinga e Goiana. E na Paraíba estão localizados nas cidades de Pedras de Fogo, Bayeux e João Pessoa.

• Cavalo Marinho do Mestre Zé de Bibi do Mestre Zé de Bibi (Glória do Goitá - PE) onde se encontra o primeiro e único museu do cavalo marinho do Brasil

• Cavalo Marinho Estrela de Ouro do Mestre Biu Alexandre (Condado - PE)

• Cavalo Marinho Estrela Brilhante do Mestre Antonio Teles (Condado - PE)

• Cavalo Marinho Boi Pintado do Mestre Grimário (Aliança - PE)

• Cavalo Marinho Mestre Batista do Mestre Mariano Teles (Aliança - PE)

• Cavalo Marinho Estrela do Oriente do Mestre Inácio Lucindo (Camutanga - PE)

• Cavalo Marinho Boi Maneiro do Mestre Pedro Luiz (Itambé - PE)

• Cavalo Marinho Boi Brasileiro do Mestre Biu Roque (Itaquitinga - PE)

• Cavalo Marinho Boi de Ouro do Mestre João Araujo (Pedras de Fogo - PB)

• Cavalo Marinho Boi Matuto da Família Salustiano (Olinda - PE)


Cavalo boi.png


Links Relacionados

Danças Populares

Bumba meu boi


Ver Também

Frevo

Maracatu

Jongo


Referências

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dan%C3%A7a_do_cavalo-marinho junho/2013

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cavalo_marinho_(folguedo) junho/2013

http://www.terra.com.br/multimidia/minutobrasil/cavalo.htm junho/2013

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