Crítica de Dança

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Edição feita às 22h30min de 6 de agosto de 2013 por Paula.gorini (disc | contribs)
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Nota: Esse verbete foi construído com base na pesquisa de Paula Gorini Oliveira, “Corpo e Mediação: trajetos para uma crítica de dança”, monografia desenvolvida para o curso de Pós-Graduação latus senso em Jornalismo Cultural, da Faculdade de Comunicação Social, UERJ, 2008. Qualquer alteração, favor avisar a autora: paulagorini@gmail.com



Breve Introdução

A ideia de se trabalhar os possíveis trajetos para crítica de dança contemporânea surgiu em primeiro lugar por uma motivação empírica. Pela minha formação como bailarina contemporânea pela Escola Angel Vianna, por acompanhar os espetáculos e eventos de dança contemporânea e por ter tido a oportunidade de trabalhar no Panorama de Dança 2008, fui instigada a compreender o por quê da ainda escassa repercussão na mídia dessa arte.

(...)

Num espaço representativo do pensamento contemporâneo, o jornalista de cultura e o crítico transformam a leitura de uma obra em mensagem informativa, o que não precisa ficar restrito à linguagem técnica do jornalismo segmentado, mas presta um serviço também reflexivo, pedagógico até. Em um dos textos utilizados como base no desenvolvimento desta monografia, Fabiana Britto fala sobre a alternativa pedagógica da crítica:


"... recentes concepções e propostas metodológicas para ensino da arte, têm apontado a crítica como vértice
complementar, indispensável, no processo de aprendizagem artística. (...) Esse caráter emancipatório está no cuidado
com sua função didática: atuar como vetor de formação pluralista do gosto, através da valorização da diversidade, ao
invés de promover a afirmação de estilos e procedimentos artísticos, eleitos por critérios de modismo ou subjetivos,
como únicos valores estéticos do momento. (BRITTO, 1993, p.18)


Os possíveis trajetos para uma crítica de dança mais didática fazem parte de uma alternativa ao jornalismo de cultura, que tem seu valor já definido pelo espaço especializado, e como responsabilidade a divulgação da produção cultural, seja local ou internacional. No espaço do caderno de cultura há dois lados: o comercial, em que o produto cultural, fruto de nossa contemporaneidade, (baseado no conceito da Indústria Cultural, que representaria a mercantilização da arte) necessita ser vendido, divulgado, e traz para o jornal uma perspectiva de lucro; e o que ainda é pouco desenvolvido, o lado formativo, em que a perspectiva didática entra como meio alternativo ao comercial, apresentando elementos que constituem a cultura como um todo, numa divulgação do pensamento contemporâneo que se expressa nas artes.


O objetivo do trabalho é discutir os universos que compõem a produção em dança, o público não-especializado e o jornalista de cultura, pelos critérios da mediação. Partindo da premissa de que o espaço para dança no jornalismo cultural se restringe muitas vezes a um release da obra, ou a uma “agenda”, informando que há um espetáculo, mas sem um aprofundamento dos conceitos que envolvem aquele trabalho, pensar como a crítica especializada pode contribuir para a compreensão da produção artística contemporânea. Em última instância o presente estudo é uma busca por um jornalismo de cultura mais didático e menos superficial.


Crítica e Mediação

O crítico de artes é um profissional que transita por duas áreas de conhecimento: comunicação e artes. Normalmente sua formação está relacionada a um saber especializado sobre seu objeto de estudo e a um aprofundamento a saberes afins – conceitos de arte, formas de arte, política cultural. No campo da comunicação, o crítico pode ser de formação jornalística ou um intelectual especializado, mas participará, como produtor de informação, dos conceitos e teorias que envolvem o ato de comunicar. Por isso seu papel será sempre de mediador.


Também é específica a representação artística que o crítico elege como objeto de estudo e análise, podendo ser artes plásticas, teatro, música, literatura, cinema ou dança. Para qualquer que seja sua escolha, seu olhar de crítico contribui não só para informação especializada, como também para formação de público, de opinião, de pensamento, sobre o trabalho artístico em destaque no seu texto. Através do trabalho do crítico, o público pode ter um material intelectualizado, analítico e aprofundado sobre a obra de arte e o universo em que está inserida. Uma crítica bem elaborada trará para o leitor leigo uma esfera reflexiva contextualizada diante da produção artística que o cerca, acrescentando valores históricos e sociais, filosóficos e políticos, preenchendo de sentido a criação artística para um olhar não habituado com essa linguagem.


Antônio Cândido, em seu livro O método crítico de Sílvio Romero (1988), numa análise sobre a crítica literária brasileira, assim define crítica:


"Se tomarmos a palavra crítica numa acepção bastante geral, podemos dizer que engloba três aspectos principais:
a história literária e disciplinas afins, constituindo a investigação metódica das criações literárias em relação com
o tempo e a personalidade do autor; a teoria da literatura, estudo sistemático do fenômeno literário e, finalmente, a
crítica propriamente dita, que é o esforço de interpretação direta da obra. (CÂNDIDO, 1988, p.17)


Apesar de estar se referindo à produção literária, Cândido indica um caminho para crítica que passa pela formação especializada e pela contextualização da obra em seu tempo e em suas facetas artísticas e teóricas. Numa visão mais específica da dança, Fabiana Britto, em sua dissertação de mestrado sobre a crítica de dança no Brasil, reflete sobre a importância da contextualização do púbico leigo nos eventos que interferem na interpretação.

"Partindo do pressuposto de que a adequação dos sistemas interpretativos ao seu ambiente é imperativo para sua
eficiência, é possível compreender a função da crítica na atualidade como sendo uma atividade responsável pela
inserção do objeto analisado no seu contexto, contextualizando, por espelhamento, o público. Daí sua importância ser
tanto maior quanto mais complexa for a configuração de seu ambiente sócio-cultural – casos em que a interação
público/ obra só se viabiliza pela mediação do conhecimento especializado sobre a especificidade do objeto
artístico." (BRITTO, 1993, p. 10 - 11)


O público que se vê inserido no contexto da obra, se reconhece naquela criação. Ao encontrar uma identidade com o objeto analisado, não só aumenta sua capacidade de compreensão sobre o todo da obra, como também sua curiosidade sobre a produção em destaque. Essa é uma forma de levar o leitor para perto da linguagem artística, primeiro pelo viés reflexivo, intelectual, depois pela experiência real. Através da crítica, podem ser encontrados fragmentos da atualidade e também da pesquisa acadêmica que gira em torno daquela expressão. Mais adiante em sua análise, Britto torna ainda mais específico seu raciocínio em relação à importância das referências teóricas como fator de contextualização.


Tais referências teóricas atuam como mediação explicativa, desde que não apareçam no texto sob a forma de conceitos áridos ao leitor, deslocados do objeto, nem tão pouco aplicados a ele como categorias prévias, absolutas em sua capacidade de apreendê-lo plenamente. Uma crítica cuja preocupação é enriquecer a relação público x obra, contrapõe-se a esse efeito redutor, aproveitando os subsídios fornecidos pelas referências teóricas de outra área para inserir a obra numa perspectiva não somente estética mas, também, social, histórica, mercadológica, política etc. (ibidem, p.16)


São fragmentos de um saber que o profissional especializado, no papel de crítico, pode utilizar como ferramenta de mediação para o público. Sendo assim, um crítico de dança, por exemplo, não está apenas apresentando informações técnicas sobre o espetáculo, mas influenciando em uma forma de ver.

(...)

A função da crítica fica bem explícita nessa passagem como fator de mediação pressuposta entre crítico e público. Ainda que comprometida com um saber científico, influência do positivismo no Brasil, fruto de seu tempo, a crítica para Honorato ganha importância para formação intelectual dos apreciadores e dos autores de literatura. O que há de limitador nesse trecho, no entanto, e que ao longo do livro de Cândido (1988) será desconstruído para dar espaço ao pensamento revolucionário de Sílvio Romero, é que os críticos da época seguem o padrão retórico e judicativo, valores já “ultrapassados”.

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