O corpo tem suas razões

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Capa do livro “O corpo tem suas razões”





Tabela de conteúdo

Sinopse

O corpo nunca esquece o que aconteceu. Na rigidez, retração e dores dos músculos das costas, membros, diafragma e também do rosto e do sexo, está escrita toda a história do homem, do nascimento até hoje. Neste livro, Théresè Bertherat conta a experiência pessoal e profissional que teve; e propõe uma antiginástica.


A Autora

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Théresè Bertherat
Disponível em: antigymnastique.com


Fisioterapeuta de formação, Thérèse Bertherat é a criadora da Antiginástica™ e autora do best seller O corpo tem suas razões. Desapontada durante seus estudos pela aridez e rigidez do ensino onde “estudávamos o corpo músculo por músculo, osso por osso mas jamais no seu conjunto, sempre em partes separadas, e o mesmo nos tratamentos”, ela se interessa então por outras vias terapêuticas. Seu encontro com Françoise Mézières será determinante. De fato essa fisioterapeuta elaborou uma visão revolucionária da anatomia enxergando o corpo como uma totalidade onde cada elemento depende do outro. Thérèse Bertherat se forma no seu método, mas não para por aí e continua sua própria pesquisa. Estuda e analisa outras terapias corporais : a bioenergética, a eutonia, o rolfing, a gestalt-terapia, a acupuntura, as teorias da medicina chinesa, que vêm completar os conhecimentos de grandes psicanalistas, de Freud a Jung, passando pelos trabalhos de Wilhem Reich. Mas trabalha principalmente com seus clientes e, pouco a pouco, cria seu método, a Antiginástica® que desenvolveu pelo mundo todo formando profissionais. Fonte: antigymnastique.com


Resumo

Capítulo 1 – A casa no beco

A sra. Bertherat está a procura de uma casa, um lugar que seja só seu, pois já está cansada de viver como nômade, indo de um lugar para outro com sua família. Então eles se mudam para Paris, onde ela escolheria uma casa onde se sentisse satisfeita.

Aconselhada por um amigo, ela vai em busca de uma senhora, uma professora de ginástica ou algo parecido, que mora num beco onde há pequenas casas e ateliês de artistas.

A sra. Bertherat anda um dia inteiro e ouve muitas pessoas dizerem que encontraram a última casa disponível em Paris. Ela está cansada, seus pés doem e seu corpo está todo contraído.

Ela descansa um pouco, lê uma revista. No meio de sua leitura encontra algo sobre ginástica. A simples idéia da ginástica já a deixa cansada. Ela se maquia e atrás de sua nova feição vai atrás de Suze L., a professora de ginástica. Ao chegar no beco, ela vê as casas e se detém a olhar uma específica. Uma mulher a aborda falando sobre a casa e a sra. Bertherat pergunta se ela está ocupada. A mulher diz que sim e ela fica um pouco desapontada. Ela pergunta ainda se a mulher conhece Suze L. A mulher responde sim novamente e a convida para assistir uma aula de Suze. Ela aceita.

A mulher lhe empresta uma malha e ela vai para a aula meio sem saber o que está fazendo ali. Afinal, ela nem gosta de ginástica.

A aula começa e a sra. Bertherat vai executando os exercícios que Suze pede. Os exercícios são calmos, leves. Há toda uma preocupação com o conforto dos alunos. Ela acha estranho, pois não era essa a sua idéia de ginástica. Os exercícios começam pelos pés, mas os resultados acontecem imediatamente por todo o corpo. As pernas e a respiração também são trabalhadas, gerando efeitos por todas as partes. Os exercícios relaxam e ao mesmo tempo parecem acordar seu corpo. A aula acaba.

A sra. Bertherat perde Suze de vista antes que possa falar com ela. Então, ela se veste e vai embora, só que agora tudo parece diferente. As árvores estão mais verdes, seus sentidos estão mais aguçados. O andar tornou-se prazeroso. E nesse momento ela descobre que pode ter encontrado a casa de sua vida, enfim a sua primeira casa: o seu próprio corpo.


Capítulo 2 – O corpo-fortaleza

O corpo da sra. Bertherat passa a exigir dela aquele encontro com o bem-estar ao qual foi apresentado. Por isso, ela passa a ir todas as semanas àquela casa no beco que se tornara uma porta para sua própria casa, para seu próprio corpo.

No decorrer das aulas, ela percebe que muitas pessoas chegavam tensas e agitadas, mas que no final daquela hora com Suze L. estavam calmas e tranqüilas. A sra. Bertherat percebeu que gostaria de trabalhar como Suze L., talvez até na seção que seu marido trabalhava no hospital, na seção psiquiátrica. Porém, ela se esquece de exteriorizar para Suze este desejo.

Certo dia, durante as férias de verão, às seis da manhã, ela recebe uma ligação do trabalho de seu marido comunicando-a que ele fora baleado. Um doente ameaçava a todos com um revólver e acabou por atingi-lo.

Ela vai para o hospital e, chegando lá, recebe apenas respostas vagas quanto ao estado de saúde de seu marido. Ele estava na sala de cirurgias, com uma bala alojada perto do coração, sendo operado. Algum tempo depois, uma maca passa do seu lado levando seu marido para o quarto. Ela fica com ele. A operação foi bem sucedida. Ele havia sido submetido a uma traqueotomia, mas tudo parecia correr bem. Mas então ele começa a agonizar, a respiração torna-se difícil e ele vem a falecer.

A sra. Bertherat fica sozinha em meio a uma confusão de sentimentos. A única pessoa a que recorreu foi Suze L. Ela a recebeu e a sra. Bertherat disse-lhe que gostaria de realizar um trabalho como o dela. Suze diz que a ajudará, mas que há muita coisa para aprender, que é necessário tirar um diploma etc.

Suze lhe conta sua história e sobre como havia adquirido sua paciência e serenidade. Há dez anos atrás ela havia passado por duas operações no seio por conta de um câncer. Ela ficou muito traumatizada com seu corpo depois disso. Após a operação ela não podia respirar, tossir ou falar sem sentir dores. O único jeito que encontrou para fugir das dores foi esquecer a parte que doía.

Um dia, Suze leu um artigo de L. Ehrenfried, no qual ela considerava o corpo como matéria flexível, maleável e perfectível. Suze já conhecia L. Ehrenfried, pois esta médica havia realizado um trabalho com sua filha que não se decidia a ser de fato canhota. Na época, a sra. Ehrenfried havia convidado Suze para trabalhar com ela, mas Suze não entendera o convite e não o aceitou. Porém, depois de ler o artigo, Suze decidiu procurá-la.

A sra. Ehrenfried havia desenvolvido uma espécie de ginástica que trabalhava uma parte do corpo de cada vez. Enquanto um lado vivia plenamente o outro não agüentava ficar em inferioridade e começava a desenvolver-se também. Suze começou a praticar essa ginástica que não procurava desenvolver os músculos, mas sim soltá-los, liberando uma energia até então desconhecida.

Suze praticou intensivamente esses exercícios e descobriu novas possibilidades com o lado bom de seu corpo. O lado ferido resistiu no início, mas ao longo do trabalho o corpo parecia querer restabelecer a unidade da qual fora privado. Desse modo, Suze L. ganhou sua paciência e serenidade e transformou seu corpo num corpo-fortaleza. Ela começou então a dar aulas, experimentando primeiro todos os movimentos em si para poder compreendê-los com seu corpo e só depois recomendá-los a outros corpos.

Suze termina então a sua conversa com a sra. Bertherat dizendo-a que sua nova profissão será difícil, desgastante e que nem tudo ela aprenderá nos livros. A sra. Bertherat não entende; pelo menos naquele momento.


Capítulo 3 – A sala de música

A sra. Bertherat volta a estudar aos seus trinta e seis anos. Ela conhece a diretora da escola, que em muitos colocava medo, mas que seria uma aliada generosa.

Ela começa a aprender sobre o que há sob o envelope humano: ossos, músculos, tudo. Mas ela encontra dificuldades em visualizar como aquelas imagens estáticas que via nos livros e cadáveres podiam corresponder à realidade do corpo vivo, que parecia sempre em movimento, carregado de energia, uma unidade, e não a reunião de peças soltas.

Certa noite, ela liga para a sra. Ehrenfried, que pede que ela vá a uma de suas aulas. A sra. Bertherat vai a o seu encontro, numa sala grande e clara, sem cadeiras, somente com um piano e uma porção de tapetes coloridos.

Elas começam a conversar e a sra. Ehrenfried vai lhe dando preciosos ensinamentos. Ela lhe diz que não se deve preparar as aulas e que cada uma deve acontecer de acordo com os seus participantes. É preciso, primeiramente, se ver, para poder ver os outros e assim fazê-los enxergar a si próprios. A professora lhe diz que não ensina a repetição mecânica de movimentos. Ela ensina os alunos a sentirem o que há de defeituoso em seus movimentos e atitudes executados involuntária e habitualmente. Quando um aluno percebe que um movimento se faz de forma desajeitada ou incômoda, seu corpo passa a querer um jeito melhor de se movimentar, e cabe a ela e também à sra. Bertherat, dar-lhe a oportunidade de criar novos reflexos que lhe permitirão o rendimento máximo que o corpo deseja.

A aula da sra. Ehrenfried começa e a sra. Bertherat é um de seus alunos. No primeiro momento todos se espreguiçam e depois deitam de costas no chão. A sra. Ehrenfried faz uso de imagens simples para explicar a sra. Bertherat que o peso de sua cabeça deve estar na própria cabeça e não na nuca como ela estava fazendo. Em nenhum momento a sra. Ehrenfried toca na sra. Bertherat, ela apenas indica como um movimento deve ser realizado, usando imagens simples relacionadas com a Natureza. Como diz a sra. Bertherat, elas são úteis na medida em que permitem a cada um encontrar seu próprio caminho para chegar às realidades do comportamento psíquico e corporal.

Com a sra. Ehrenfried, a sra. Bertherat aprendeu que cada movimento de uma parte do corpo é vivido por todo o resto, como numa unidade. Ainda nessa aula ela aprendeu a respirar corretamente. A sra. Ehrenfried dizia que respiramos com economia. Para ela, devemos respirar com vontade. Devemos oxigenar bem os órgãos para que não percamos nossas possibilidades de experiências sensoriais e emotivas proporcionadas pelo bom funcionamento dos nossos órgãos. O ritmo respiratório natural nos é subtraído durante a vida e é preciso que o reencontremos para que vivamos plenamente, dizia a sra. Ehrenfried. A sra. Bertherat reencontra na aula sua respiração há tempos perdida e, como resultado, toda a sua vida parece melhorar.

A sra. Bertherat relata que sua experiência com a sra. Ehrenfried foi muito positiva, pois ela viu que todo o conhecimento técnico que essa médica tinha não a impedia de procurar um pouco mais longe, isto é, mais perto. Com a sra. Ehrenfried ela viu que a saúde não dependia de tratamentos vindos de fora, mas da justa utilização do corpo em suas máximas potências.


Capítulo 4 – A casa mal-assombrada

A sra. Bertherat começa a dar aulas. Logo no seu primeiro dia ela se sente fracassada por não conseguir manter-se em seus objetivos.

Durante os anos de trabalho a sra. Bertherat verifica que todo novo aluno tem apenas uma consciência parcial, fragmentária do próprio corpo. Segundo ela, não sabemos como agem as partes do corpo entre si e como elas se organizam.

Quanto às relações das partes cabeça e corpo, em particular, geralmente há uma ruptura total. Nos passa desapercebido que ambos fazem parte de um mesmo conjunto e que o aperfeiçoamento de um leva à melhoria do outro. E que se um está mal, o outro também ficará. Não só a cabeça é um centro de emoções e lembranças como também o corpo o é. Ele nos mostra isso por meio de um mal-estar, uma barriga proeminente, um ombro mais alto que o outro etc.

O corpo nos dá sinais que muitas vezes interpretamos erradamente, o que pode gerar em nós aquele desejo profundo de “fazer ginástica”. Como exemplo, há o fato de se ter uma barriguinha proeminente. Para retirá-la, nos obrigamos a fazer centenas de exercícios que, no final, acabam prejudicando nossa coluna. Isso tudo porque nos ligamos no efeito – a barriguinha proeminente – e nos esquecemos da causa, que poderia ser a contração das costas.

As partes do corpo são interligadas e muitas vezes quem começa a trabalhar o corpo e percebe que sua percepção corporal é fragmentada, desiste do trabalho. Essa falta de consciência do corpo como uma totalidade nos torna doentes em potencial. Sem consciência total do corpo acabamos abusando de certas partes desse corpo, pois as outras são ignoradas por nós, bloqueando a livre circulação de energia necessária ao seu bem-estar.

A sra. Bertherat relata um caso que aconteceu com uma aluna sua, a sra. N. Ela era uma mulher de cinqüenta anos com uma grave deformação na coluna vertebral, o que lhe provocava um enorme calombo, dolorosos distúrbios digestivos, terríveis enxaquecas etc.

Elas trabalharam durante dois anos segundo o método de Mézières, que exige total colaboração do doente. Contudo, a sra. N. parecia não querer colaborar, mesmo após certo tempo de trabalho, quando os resultados já eram visíveis. A sra. N. foi se tornado muito agressiva e no fim do segundo ano do tratamento, quando a sra. Bertherat a encorajava a continuar, visto que o fim do processo já estava próximo, ela desiste. A sra. Bertherat sente-se culpada pelo acontecido. Ela se sentiu como uma intrusa numa casa assombrada por fantasmas que defendiam seus poderes. Ela se lembra de um amigo psicanalista que, ao assistir uma aula sua, disse-lhe que quando se aborda um ser pelo corpo, entra-se diretamente nas camadas arcaicas da personalidade.

A parcialidade do conhecimento do corpo causa-nos um desconhecimento de nossa própria vida. Ficamos sem confiança em nós mesmos e sentimo-nos incapazes de fazer muitas coisas.

Esse desconhecimento nos causa uma insatisfação pessoal, um mal-estar, que tentamos disfarçar para os outros. Seja com roupas ou atitudes, tentamos de todos os modos animar o exterior do corpo, mas só conseguimos cada vez mais nos afastar do centro.

Mesmo por detrás de enfeites, continuamos nos sentindo mal pois não sentimos nosso corpo. Nos queixamos de nossa relação com o outro, que ela é superficial, que as outras pessoas são inacessíveis, fechadas, mas nós não vemos que este pode ser o nosso problema. Nossa superficialidade quanto a nós mesmos nos leva a essa falta de conexão com o outro. Não definimos nosso espaço corretamente e podemos estar numa falsa posição em relação a nós mesmos.

Muitas vezes atribuímos nosso mal-estar à vida sedentária. Ele não se restringe a isso, mas ela é uma causadora também.

A imobilidade é um obstáculo à percepção do corpo, visto que não criamos possibilidades para conhecer partes do nosso corpo há muito mortas. A atividade propicia o desenvolvimento de nossas percepções corporais. Contudo, movimento deve acontecer de modo que tenhamos consciência da forma que ele se realiza ou não, e só assim poderemos ter uma revelação de nós mesmos.

A tomada da consciência é o primeiro passo para o bem-estar, mas não confere, de imediato, o conforto. O trabalho para chegar a ele pode ser longo e penoso.

A conscientização do corpo é muitas vezes dificultada pela educação que recebemos e pelos ambientes contemporâneos que desempenham um papel opressivo. Sentir-se bem no próprio corpo pode ser admitir, perceber e desenvolver as próprias sensações. Só assim teremos a possibilidade de nos libertar da opressão imposta pelos espaços sociais.

Esporte são meios encontrados para que ganhemos mobilidade do corpo. Mas nem sempre eles nos são totalmente benéficos nesse aspecto, salvo o andar a pé, segundo a sra. Bertherat.

Ela exemplifica esse fato com a natação, o ciclismo e o esqui. Nesses esportes, e também na dança, nossa parcialidade do conhecimento corporal faz com que não conheçamos a interdependência entre os músculos e acabemos por deformar nosso corpo.

Ainda como exemplo, a sra. Bertherat fala de uma senhora de cinqüenta anos, que já praticara 19 esportes e que tinha artrose na nuca. A pedido da sra. Bertherat para que mexesse o 1º e o 5º dedos dos pés, ela não consegue. Quando a sra. Bertherat disse-lhe que a nuca é responsável pela perna e a perna pelo pé. A senhora não intende e então desiste de fazer o tratamento alegando que seu problema é a idade. Mais uma vez é mostrada a interdependência das partes do corpo.

Como meio de camuflarmos nossa falta de capacidade para sentir o próprio corpo, nós imitamos. Imitamos aquilo que gostaríamos de ser mas não trabalhamos para tal. Essa idéia da imitação, do disfarce, também é passada para as crianças. Ignoramos sua linguagem corporal autêntica e queremos que elas passem a agir de modo adulto. Não vemos que a forma das crianças se expressarem, com sua comum agitação, pode ser apenas uma busca do mundo exterior e de suas próprias possibilidades.

A sra. Bertherat nos fala da expressão corporal, que ela vem adquirindo um caráter de recebimento e não de verdadeira vivência, e isso em aulas e espetáculos. Apenas travestimos personagens, e a expressão corporal dos adultos sem conhecimento corporal não passa de um blefe. Para que ela se torne verdadeira é preciso primeiro tomar consciência das repressões corporais.

Ainda quanto à linguagem não-verbal. Ela está intimamente associada ao que um indivíduo é ou não é capaz fisicamente. Um sujeito sentado, com pés, joelhos e palmas voltados para dentro mostra que ele recusa as propostas do interlocutor. Mas talvez isso só queira dizer que ele tenha uma profunda contração dos músculos posteriores que não lhe permite ficar de outro jeito. Ou seja, a linguagem corporal pode ser interpretada sem a verbal, mas antes de mais nada, deve-se conhecer os limites do vocabulário muscular. O corpo deve ser visto com consciência antes de fazermos expressão corporal, antes de interpretar os gestos dos outros etc. Devemos preparar o corpo antes de usá-lo, antes de esperar dele “resultados satisfatórios”. O corpo lúcido toma iniciativas e tem oportunidade de comandar a vida.


Capítulo 5 – Françoise Mézières: uma revolução

A sra. Bertherat começa a pensar em tudo o que estava aprendendo e sobre as reais aplicações daqueles conhecimentos anatômicos e todos os outros que vinha adquirindo. Ela vê pessoas com certas doenças e percebe que, para a medicina tradicional, elas são apenas pessoas doentes. Ela não concorda com essa transformação das pessoas nas doenças que elas possuem.

Certo dia, ela assiste a uma sessão de fisioterapia de um menino com graves deformações na coluna. A sra. Bertherat vê o quão cruel é aquele mecanismo e como aquela criança é tratada, com uma maneira extremamente fria, como se apenas a doença estivesse ali e não um ser humano. Uma mulher que havia assistido a mesma sessão percebe seu espasmo e lhe fala sobre Françoise Mézières. Essa mulher havia desenvolvido um método de tratamento que contradizia tudo o que a ginástica clássica pregava e que dava resultados reais, mas que a medicina admirava na mesma medida que os rejeitava.

O método Mézières produz resultados espetaculares e duráveis na correção de fealdades consideradas normais e na cura de deformações acentuadas. Ele tem seu valor comprovado, mas aceitá-lo, por parte da medicina, seria pôr abaixo todos os programas tradicionais. Ele tem uma abordagem diferente de corpo, pois o considera como sendo uma totalidade, mesmo que isso contradiga verdades há muito aceitas. Sua preocupação maior é o corpo humano e não o corpo médico.

A sra. Bertherat matricula-se num curso que Françoise Mézières estava oferecendo para alguns profissionais formados. Ela começa o curso desconstruindo tudo aquilo o que aqueles profissionais haviam aprendido como sendo verdades absolutas. O espasmo foi geral. Porém, era difícil discordar daquela mulher que falava sobre os resultados de vinte e cinco anos de trabalho. Ela diz que a causa única de todas as deformações é o encurtamento da musculatura das costas, que é um efeito inevitável dos movimentos quotidianos do corpo.

Françoise Mézières diz que, salvo fraturas e algumas deformações congênitas, os músculos são os responsáveis pelas deformações dos ossos e articulações.

Françoise Mézières busca com seu trabalho a elegância das formas. Para ela, a única morfologia normal é a que corresponde à relação entre as partes do corpo que caracterizam a arte grega do período clássico. Qualquer divergência desses padrões seria causada por uma deformação que pode ser corrigida, exceto aquelas causadas por fraturas e mutilações. Ela considera o corpo como sendo perfectível e que todos podemos alcançar essa idealização de corpo. Para ela, uma deformação muscular das costas é a responsável por problemas como respiração, pés chatos entre outros.

Muitos problemas de que somos acometidos, causando-nos dor e desconforto, são, muitas vezes, tratados como principais, mas na verdade eles podem ser secundários e seu tratamento não adiantará nada. As verdadeiras causas, que podem estar ocultas, devem ser descobertas e tratadas, pois somente isso trará o alívio buscado. Essas causas também podem ser psíquicas, o que também deve ser tratado para que as consequências corporais possam ser curadas.

A sra. Bertherat fala que o trabalho de Françoise Mézières é um trabalho apaixonado, que só se faz por aqueles a quem se ama.


Capítulo 6 – Alicerces milenários

O corpo é dotado de energia. É ela quem confere a ele a unidade e ao mesmo tempo anima todos os órgãos, que também têm movimento. Nosso corpo deve ser observado por meio de métodos que levam em conta a sua relação com a Natureza, pois nossa energia vital está conectada com ela.

A sra. Bertherat nos diz que a unidade corporal não se limita à consciência da interdependência entre a parte superior e posterior do corpo, mas também com a ligação da parte interior com a exterior. Na pele circula a energia que anima os órgãos e nela há a projeção dos nossos órgãos internos.

A energia do nosso corpo encontra-se muitas vezes com sua livre circulação comprometida. Para recolocar o fluxo de vota no lugar, a acupuntura é um dos métodos utilizados. Os “pontos de acupuntura” funcionam como comportas que regulam a livre circulação do fluxo de energia.

Também é possível tratar desordens vertebrais e contrações musculares por meio de massagens nos pontos tratados pela acupuntura. Na França ela é conhecida como micro-massage e nos Estados Unidos como acropressure. Ela consiste em fazer massagens (de acordo com a tradição chinesa) como o polegar e com o dorso da unha do dedo indicador dobrado nos pontos de acupuntura. Essa massagem não é perigosa, mas deve-se atentar para alguns pontos: há alguns pontos proibidos que nunca devem ser trabalhados; não se deve fazer a massagem em matéria recoberta de gordura devido à ineficácia observada; não fazê-la também em casos de lesões na pele.

Há ainda outras técnicas além da acupuntura e da acropressure que consideram, por sua vez, a projeção dos órgãos internos em partes da pele e não no corpo todo. Como exemplo, temos a auriculoterapia, que considera a projeção dos órgãos internos no pavilhão auricular; há também a reflexologia, onde a projeção dos órgãos está na planta dos pés.


Capítulo 7 – Chaves, fechaduras, portas blindadas

A sra. Bertherat nos conta sobre um paciente que lhe foi encaminhado por sofrer de impotência sexual. Sem ter muita idéia de como tratá-lo, resolveu fazer o que sabia, pois havia diagnosticado que o rapaz apresentava excessiva tensão na região dos membros superiores, pescoço e adjacências. Após algum tempo de trabalho o rapaz conseguiu retirar essa tensão e ela foi informada de que seus problemas de impotência haviam sido resolvidos. Ela relaciona os resultados às idéias de Reich que diziam, entre outras coisas, que não se poderia conseguir ereções se os membros superiores estivessem inibidos, tensionados. A tensão encontrada nos membros superiores provocou no rapaz uma barreira a livre circulação da energia do corpo e com isso a impotência.

A sra. Bertherat diz que com as mulheres pode acontecer o mesmo, elas podem tornar-se hirtas quando em uma situação de tensão e desconhecimento corporal.

O desconhecimento do corpo nos torna desconhecedores também de nossa sexualidade. Não só os órgãos sexuais, mas todo o corpo é responsável pela nossa sexualidade e satisfação sexual. Conhecer o próprio corpo é gozar da verdadeira liberdade sexual.


Capítulo 8 – A casa acolhedora

Tomar consciência do próprio corpo vai muito além de cada pessoa individualmente. Descobrir nosso corpo é também descobrir o corpo do outro. À medida que nos entendemos podemos ver melhorias no corpo do outro.

A sra. Bertherat relata a história de uma mulher que se tratava com ela e que tinha uma filha que considerava com problemas, pois aos doze anos tinha apenas 1,40 metro, os ombros caídos, o pescoço enfiado nestes e o corpo todo contraído. A sra. Bertherat conheceu a menina e não tornou a vê-la até o término do tratamento de sua mãe. Neste dia, após um ano, ela não reconheceu a menina. Ela tinha crescido mais de dez centímetros! Tinha agora uma boa postura, um olhar inteligente. Para a sra. Bertherat os progressos da menina foram a repercussão dos de sua mãe, que aceitara assumir seu corpo de mulher e mãe.

Sobre os médicos, a sra. Bertherat fala que muitos deles têm medo do próprio corpo e com isso se tornam incompetentes para examinar o dos pacientes. Segundo ela, antes de tudo, os médicos deveriam tomar consciência do próprio corpo, pois só assim saberiam se escolheram a profissão correta e com isso entenderiam melhor o corpo de seus pacientes. Como conclusão, a sra. Bertherat nos aconselha a sermos, antes de tudo, corpo. Ela nos aconselha a SER.


Ficha Técnica

Título: O corpo tem suas razões: antiginástica e consciência de si
Título original: Le corps a ses raisons
ISBN: 9788578272890
Idioma: Português
Encadernação: Brochura
Formato: 14 X 21
Páginas: 170
Ano da Obra/Copyright: 1977
Ano de Edição: 2010
Edição: 21ª


Referência

--Gabriel Lima 16h19min de 5 de maio de 2013 (BRT)

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