Dança para crianças

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“A dança como uma atividade que prioriza uma educação motora consciente e global, não se limita a uma ação puramente pedagógica, mas também psicológica, pois entre outros fins, busca melhorar ou normalizar o comportamento da criança” (SANTOS; LUCAREVSKI; SILVA, 2005).


Em se tratando de crianças, metodologias muito específicas devem ser utilizadas no ensino da dança para que os melhores resultados sejam obtidos e que a criança, em seus primeiros anos de vida e desenvolvimento motor possa, através da dança, alcançar patamares elevados de coordenação motora e psicológica, tornando-se um corpo consciente e preparado para a dança, num futuro, ou preparado para as atividades cotidianas através da dança.


Damasio (2000) aborda o ensino da dança para crianças na faixa etária de 4 a 8 anos. Segundo ela, nessa faixa etária “as crianças não têm ainda a maturidade necessária para tomar aulas ‘de verdade’ de técnica de dança”, mas relata também que “a dança é uma linguagem impregnada de percepções táteis, visuais, auditivas, afetivas, cinestésicas”, tornando-se assim uma excelente atividade a ser trabalhada com as crianças. A dança, então, dá às crianças “a possibilidade de aprender, pelas experiências do próprio corpo, a agirem livremente no espaço em que vivem, interagirem com as pessoas que as cercam, além de expressarem sentimentos e pensamentos através de formas diferentes de comunicação corporal” (SANTOS; LUCAREVSKI; SILVA, 2005).


A partir do modelo francês de ensino da dança para crianças, que trabalha elementos presentes na maioria das danças, como transferências de peso, situações de equilíbrio/desiquilíbrio, suspensões, balanços, inúmeras relações com o espaço e com o tempo e as intenções que permeiam estas relações, Damasio (2000) divide em duas fases a faixa etária de 4 a 8 anos: DESPERTAR, dos 4 aos 6 anos e INICIAÇÃO, dos 6 aos 8 anos.


Tabela de conteúdo

O Despertar: dos 4 aos 6 anos

Nesta fase o trabalho de dança com crianças é feito em função do que a criança é capaz de fazer. Educar a sensibilidade da criança é o foco para que um posterior e gradual desenvolvimento artístico seja possibilitado. As experiências devem se dar através do brincar e a linguagem a ser utilizada é bastante livre.


Nesta fase, a dança deve ser abordada através de ações que considderem o corpo da criança numa globalidade: ações globais organizadas em oposições, tais como o abrir-fechar (primeiro movimento do bebê e que leva à consciência de volume), ações que coloquem em jogo a mobilidade da coluna vertebral, do centro à periferia e inversamente, como a ação e crescer e diminuir. Trabalhar peso, equilíbrio e grandes contrastes como alto/baixo, grande/pequeno, rápido/lento, bem como as invenções individuais da própria criança, são pontos a serem observados. A partir deles se dará também a construção do movimento dançado através do direcionamento do professor.


Corpo

Damasio (2000) nos fala sobre o corpo da criança na fase do “Despertar”. O corpo deve ser descoberto em suas diferentes partes e em relação com o espaço em seu entorno. À frente, atrás e ao lado do corpo; a localização de uma parte do corpo em relação à outra. Mobilizar e isolar uma ou mais partes do corpo durante um movimento. Desenvolver a percepção de volume das partes e do corpo como um todo. Propor atividades em contato com a parede, com o chão, com diferentes objetos e com o outro. Pode-se propor também atividades onde o foco sejam as articulações e suas diferentes possibilidades de movimento: guiando-o, sendo manipuladas, formando desenhos.


A oposição entre movimentos marca o trabalho de dança com crianças na fase da “Iniciação”. Tensão e relaxamento, subidas e descidas rápidas ou lentas, ser mole ou rígido.


Transferência do peso global do corpo

Andar, correr, saltar, arrastar-se de costas ou de bruços, rolar, engatinhar. Diferentes qualidades nos deslocamentos: deslizar, empurrar, balançar, esfregar, lançar, descer, subir. Caminhar nas pontas dos pés ou com as articulações fletidas.


Espaço

A criança, nesta fase, é o centro de suas ações. Ela constrói suas ações em referência ao seu próprio corpo. Aprendem nesta fase as noções de frente, costas, lado, alto, baixo.


“O desenvolvimento da psicomotricidade e da livre expressão corporal, inseridas dentro do contexto educacional da dança, são favorecidas através da tomadas de consciência e controle corporal e da aquisição da percepção têmporo-espacial.” (SANTOS; LUCAREVSKI; SILVA, 2005)


O trabalho em duplas ajuda no entendimento do espaço do corpo em relação ao espaço externo: estar de frete ou de costas para o colega, de lado, acima ou abaixo. Dá-se então a construção da lateralidade e a criança passa a construir gestos mais complexos e poderá, também a partir deles, reproduzir o que faz de um lado, com o outro lado do corpo.


Os percursos

Desenhar no espaço, deslocando-se em linhas retas ou curvas, que vão se concretizar mais tarde em formas geométricas como círculos, quadrados, retângulos, triângulos. Dar um senso de início e de fim a cada percurso.


Os trajetos

Ir de um ponto a outro da sala. Percorrer uma diagonal em linha reta ou curva. Grandes trajetos não são uma realidade para a criança de 4 a 6 anos. É preciso dar uma ação concreta: “Vamos tocar a parede e voltar.”


As distâncias

Aproximar-se dos outros ou de algum espaço escolhido e saber afastar-se. Movimentar-se num espaço restrito e repetir esta movimentação num espaço maior. Reconhecer os níveis alto, médio e baixo e saber passar livremente entre eles.


Volume

Trabalhar o que há entre: entre um corpo e outro, entre um objeto e um corpo, entre as partes do corpo. O espaço criado a partir de um gesto ou de uma forma. O interesse nos espaços que o corpo cria ao se movimentar.


Relação ao tempo e à música

”A dança é uma potência altamente significativa, uma linguagem simbólica que utiliza (em termos de movimento, espaço e tempo) todas as faculdades do ser humano, cognitivas, físicas e afetivas. Isso acontece pelo fato de que ao dançar o corpo entra em atividade, favorecendo a comunicação de pensamentos e emoções.” (SANTOS; LUCAREVSKI; SILVA, 2005)


A criança experimenta noções de regularidade, acentuação, suspensão, repetição e alternância desde muito cedo. Para construir a noção de tempo ela deverá estruturar e organizar conceitos importantes, tais como: duração, sucessão e ordem, ritmo e alternância.


Reproduzir um ritmo simples com palmas, com os pés, com a voz, descobrir ou criar acentos que dão intensidade aos gestos. Movimentar-se com velocidade e de repente parar, escutar o silêncio no corpo e sua duração. Dançar muito rápido ou muito lento.


Músicas de qualidades diferentes podem ser utilizadas para desenvolver a escuta musical da criança.


Aquisições esperadas ao final desta etapa

Da globalidade à segmentação, vão se tornando autônomas a cabeça, a bacia, os pés. As palavras a serem usadas são importantes para sucitar qualidades distintas de movimentos: cair, rolar, descer, subir, esfregar etc.


No despertar, as crianças guardam uma memória afetiva das descobertas e do prazer de dançá-las. Porém, não são ainda capazes de memorizar e reproduzir a forma como fizeram aquilo que acabaram de fazer. Um mesmo pedido do professor vai gerar, a cada vez, uma infinidade de ações, dependendo daquilo que está em jogo no momento. Fazer um movimento que gostaram e repeti-lo para os outros observarem é um processo importante para a construção do movimento individual.


A Iniciação: dos 6 aos 8 anos

Nesta fase, as crianças aprendem a ler e a escrever e as figuras geométricas são apresentadas na escola. Muda a forma como as crianças percebem o todo e a si próprias e o professor deve ser mais exigente no que diz respeito à diferenciação das respostas motoras dadas durante as aulas, criando desafios que, agora, as crianças já são capazes de responder.


O trabalho iniciado no despertar é agora afinado e a criança passa a responder a estímulos que visão às experimentação aliada a imposição de determinadas regras que vão permitir à criança alinhar e reconhecer as nuances de sua dança.


Corpo

A mobilidade e a segmentação corporal nesta fase tornam-se mais complexas. Os movimentos tornam-se mais precisos e feitos de forma independente, enquanto no despertar eles aconteciam de maneira global.


O movimento, por exemplo, de levantar os braços sem necessariamente levantar os braços, a articulação e o desenrolar do pé, do calcanhar até a ponta ou o movimento da perna sem o movimento da coluna são exemplos de coordenações que já podem ser estimuladas nesta fase.


Os saltos podem ser trabalhados dando-se ênfase à necessidade do plié, que já deve acontecer claramente na subida e na descida. Estimular o equilíbrio e o desequilíbrio, com partes do corpo fora do eixo vertical, auxiliam no alcance do equilíbrio mais estável.


Espaço

Neste momento é importante afinar na criança a capacidade de perceber seu corpo no espaço: espaço próprio, periférico e espaço projetado.


Direções

Mudanças de direção do corpo todo ou de partes isoladas podem ser estimuladas. Oposições também já são entendidas na fase da iniciação, como, por exemplo, olhar para um lado enquanto o corpo se move para outro.


Percursos e deslocamentos

Nesta fase as crianças são capazes de reproduzir, inventar e memorizar diferentes percursos entre dois pontos. Experimentam trajetos em círculos, linha reta ou quebrada, diagonal ou ziguezague.


Forma e volume

Na iniciação, as crianças têm condições de reproduzir formas definidas, de inventar outras e de memoriza-las. O trabalho com objetos tais como bolas grandes, tubos flexíveis onde se possa entrar, bastões, tecidos, sacos plásticos, ajudam a criança a criar uma memória do movimento, sendo sua memória bem mais precisa.


Qualidades de movimento

Reconhecer diferentes qualidades de movimento : associa-las, alterna-las, afina-las. Conhecer os contrastes, como tensão/relaxamento, lento/rápido, pontiagudo/redondo.


Relação ao tempo e à música

Devem ser abordadas, no corpo, algumas noções musicais básicas, como: poder acompanhar a pulsação de uma música e poder dobrar ou dividir esta mesma pulsação; criar células rítmicas e associa-las a movimentos já conhecidos; diferenciar a melodia da pulsação; escutar, perceber, memorizar um música; perceber acentos musicais e associá-los ou não a um movimento; poder cantar enquanto se dança.


A improvisação, no despertar e na iniciação

A exploração individual do movimento dançado dá à criança a possibilidade do descobrimento de sua própria gestualidade que começa a ser desenvolvida desde os primeiros anos da infância. Ao improvisar, a criança fortalece sua autoestima. O momento da improvisação dá ao professor uma oportunidade de observar melhor cada aluno, podendo reconhecer a personalidade e as habilidades individuais de cada um, poder melhor trabalhar essas habilidades. É importante que a cada aula, uma pequena dança seja estruturada depois da improvisação, retomando algumas das qualidades experimentadas nesta.


Referências



Ver Também

A Cognição e a Dança para crianças

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