Entrevista: Thereza Rocha

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Entrevista: Thereza Rocha

Em novembro de 2012, Thereza Rocha, importante pesquisadora da dança, concedeu uma entrevista para o site Temas de Dança. Seu depoimento abordou alguns dos temas fundamentais de sua tese de doutorado em Artes Cênicas (UNIRIO, 2012): a escrita em dança e a apresentação da dança enquanto objeto de pesquisa. Abaixo seguem um resumo da pesquisa da referida tese e a transcrição, na íntegra, da entrevista de Thereza Rocha.

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Thereza Rocha no espetáculo 3 Mulheres e um café
Foto: Arquivo Thereza Rocha



A Tese: Resumo

A tese Por uma escrita de processo: conversas de dança de espetáculo 3 mulheres e um café : uma conferência dançada com o pensamento em Pina Bausch investiga regimes de dizibilidade e modos de escritura de um percurso de criação em dança, mais especificamente do espetáculo 3 mulheres e um café: uma conferência Dançada com o pensamento em Pina Bausch. Como o próprio nome sugere, 3 mulheres é um espetáculo tecido como um híbrido entre a palestra e a dança, oportunidade então para alguns diálogos: dança e pensamento; memória e atualidade; palavra e gesto; texto e movimento; cena e platéia. Espécie de visita guiada em um museu imaginário da dança, o espetáculo transcria (Haroldo de Campos) excetos de Café Muller, uma peça de Pina Bausch, de 1978, em sua tentativa de fazer conversar o passado e o presente da dança contemporânea. Estabelecendo intimidades com a própria maneira do espetáculo de tecer a sua entremeadura de composição, dramaturgia e escrita cênica, a tese propõe a escrita de processo como modo de acompanhamento / escritura de criação, inspirada no método da cartografia proposto por Suely Rolnik a partir de Gilles Deleuze e Féliz Guattari. Cartografia assim não somente os oito meses que separam o início dos ensaios da estréia do espetáculo, mas também a circunstancia estético-política da dança contemporânea na cidade do Rio de Janeiro de 1992 a 2002, com a qual o próprio espetáculo estabelece diálogo. Nesta tese, trata-se então de uma outra cena, agora a do pensamento, tecida como uma conversa de danças entre si. Fonte: PPGAC UNIRIO



A Entrevista

Escrever em dança

“Eu acho que do meio para frente do processo de escrita da tese eu me percebi ‘eu’ como motivo, quase como estudo de caso de alguma coisa que estava acontecendo comigo em relação ao meu próprio objeto, da relação entre a minha escrita e o meu objeto. Percebi que eu não podia perder aquela oportunidade. Era uma oportunidade imperdível, a própria tese, de fazer com que ela mesma se indagasse sobre os modos de escrever em arte, no caso, em dança. Então eu tentei fazer, com todas as dificuldades que isso traz e que isso implica - não é nada fácil, não é uma travessia tranquila! – mas foi uma travessia que eu me obriguei a fazer: da transformação de uma escrita sobre dança para uma escrita escrita de dança, mas melhor dizendo, uma escrita em dança. Ou seja, aquela que se confunde ou mesmo se contamina com o objeto do qual ela escreve e que objeto não é. Então a dança ela não se oferece, ela não se adéqua tão bem como objeto da escrita quanto outros objetos de conhecimento. Quando ela se oferece como objeto de conhecimento ela devolve para a própria metodologia de pesquisa ou da escrita, um problema: ela resiste a se transformar perfeitamente, se adequar perfeitamente como um objeto de pesquisa e como um objeto descrito, que seria uma escrita sobre dança. Quando você tenta fazer uma escrita em dança você está implicado, a dança está implicada como problema com relação à escrita, essa fricção que ela estabelece, sempre estabeleceu, com a escrita. E aí são fricções da própria escrita, que também resiste a isso, bastante!, e uma busca dos regimes de “dizibilidade”, que foi, eu acho, o principal motivo, motivação, para a escrita da tese, que gira em torno do processo de criação de um espetáculo de dança e que se propõe como uma escrita de processo, ou seja, uma escrita que se faz como processo de escrita.”


A resistência da dança em ser objeto de pesquisa

“De tudo o que eu tenho estudado em Filosofia, os próprios filósofos com quem eu escolho dialogar, apontam um pouco o quanto que a estrutura de predicação, da construção das frases, ela às vezes se vê prejudicada quando ela enfrenta, quando ela se dá conta de um objeto que resiste a essa estrutura. Um exemplo: existe uma frase do Franz Anton Cramer, que ele proferiu na palestra dele no Encontro de Dança e Filosofia, que ele fala que a dança “ela não mais é nunca é.” Não mais e ainda é. Então ela está sempre nesse meio de caminho difícil de ser dita pelo verbo ser. Então a filosofia ela é toda convocada nesse enfrentamento dessa dificuldade de se colocar muito mais como escrita do devir do que como escrita do ser. E vem todo um problema filosófico junto com isso, muito grande. Ela enuncia isso no seu próprio fazer, ela coloca isso como problema, uma vez que ela não se deixa prender na própria estrutura de temporalidade que a gente está acostumado a perceber como vivente, como se a gente vivesse essa temporalidade entre um antes, um agora e um depois e dos próprios regimes de “dizibilidade” dessa experiência que a gente supostamente estaria vivendo, com um antes, um agora e um depois, desse jeito colocado. Então o6 falar e o escrever, eles estão contaminados dessa dificuldade. Então é toda uma torção que você tem que fazer para poder dizer do acontecimento ou dizer o acontecimento, que é o acontece na dança. Ela produz o acontecimento. Você dizer do acontecimento é algo que não está dado, é uma construção. E é uma construção a cada vez.”



Vídeo da Entrevista

Clique aqui para acessar o vídeo da entrevista.

--Gabriel Lima 18h42min de 1 de maio de 2013 (BRT)

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