Escola de Dança da UFBA

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"Ela foi criada quando muito pouco (ou nada) se falava sobre formação acadêmica em dança no Brasil. 
Passou com muita resistência pela ditadura, lançou importantes experiências criativas em dança contemporânea 
e foi a primeira a ter um Programa de Pós-Graduação em Dança (PPGD) no país."(MOTTA, Isabella. Idanca.net)1


Yanka Rudzka e suas alunas

Foto: Memorial da Escola de Dança da UFBA



1. Matéria "Mais de 50 anos de história", de Isabella Motta para o portal Idanca.net, com entrevista de Dulce Aquino, diretora da instituição (2010). Publicada em 27/05/2010, gentilmente cedida pela redatora e pela coordenação do portal.

Tabela de conteúdo

Histórico

Em 1946, em meio ao boom econômico pelo qual passava o estado da Bahia por conta da exploração do petróleo, o médico Edgar Santos criou a UFBA. O primeiro curso aberto foi o de Medicina (a primeira escola do país), em seguida vieram as escolas politécnicas de Direito e Belas Artes. Com a UFBA, ele retomou o papel do estado como importante centro artístico-cultural brasileiro. “Mesmo antes de a Escola de Dança ser aberta, ele desenvolveu importantes ações nas áreas humanística e de artes. Uma delas foi a realização dos seminários de dança e música”, conta Dulce Aquino, que foi uma das primeiras alunas do curso de dança.


Em meio à realização desses seminários, a então bailarina polonesa Yanka Rudzka desembarcou na Bahia levando na bagagem sua experiência com o expressionismo alemão. Ela se apaixonou por Salvador e acabou sendo peça fundamental na criação da Escola de Dança, em 1956. Junto com a Escola de Música (fundada em 1955) e com a de Belas Artes, estava formado o pilar acadêmico da área de artes na Bahia. “Não era um conservatório. As três tinham um espírito muito atual, totalmente vanguarda para a época”, lembra Dulce, que chegou à escola como aluna em 1957.


Yanka ficou à frente da Escola durante dois anos. Tempo suficiente para criar uma escola que explorasse a criatividade e sensibilidade dos alunos. As aulas tinham muito de improvisação, além de uma forte base teórica com aulas de Filosofia da Arte, Estética, e de outras linguagens artísticas, como a pintura. “Foi um início muito interessante pois vieram alunos de São Paulo atrás da Yanka. Fazíamos aula com música ao vivo, as aulas exploravam as articulações naturais do movimento, sem forçar nada. Também havia ligação muito forte com o candomblé. Ela mesclava a visão do expressionismo alemão com elementos essenciais do candomblé”, recorda Dulce. As duas primeiras montagens de Yanka na UFBA foram Candomblé e Águas de Oxalá, no Cine-teatro Guarani, na Praça Castro Alves.


Com o tempo, a Escola foi ganhando uma cara, uma linha de pensamento, mas até aquele momento não existia um conteúdo programático a ser seguido. Em 1960, chegou à escola Rolf Geleweski, que foi o grande estruturador dos conteúdos pedagógicos durante o período em que foi diretor, de 1960 a 1965. A fachada da Escola de Dança, a mesma desde 1956.


Em 1965, nasce o Grupo de Dança Contemporânea (GDC), um marco na história da instituição e da dança brasileira como um todo. “Ele já apontava para cada um procurar sua dança. Neste período, fomos cobaias de vários métodos de ensino de conteúdos programáticos que Gedelewski instaurou (ele era o diretor artístico da empreitada). Ao lado da ‘técnica básica’, como ele chamou, havia aulas de movimentos anatômicos (para fortalecimento), aulas de espaço, forma, composição coreográfica e solística, psicologia da arte e pedagogia”, afirma Dulce.


Passaram pelo GDC nomes como Clyde Morgan, Roger George, Klauss Vianna, Lia Robatto, Carmen Paternostro, Márcio Meirelles e Teresinha Argolo, entre muitos outros, que faziam questão de coreografar para o grupo, fugindo do academicismo dominante naquela época.


Ditadura quase acabou com a produção

Todo a intensidade da produção desde a inauguração da Escola, porém, quase se perdeu no período da ditadura, que afetou diretamente a UFBA nos anos de chumbo. Numa tentativa de diminuir a produtividade, a Escola de Dança se tornou um departamento da Faculdade de Belas Artes. “Foi muito difícil, mas tentávamos preservar nossa identidade. Foram 20 anos de resistência, lutando contra notícias de que a escola fecharia a qualquer momento”, revela Dulce, que assumira a direção da Escola em 1965, logo após a saída de Gedelewski.


Por volta de 1976 começou-se a se falar em abertura política. Naquele ano nasce a Fundação Nacional das Artes (Funarte), com o objetivo de funcionar como válvula de escape da produção das universidades. “Naquela época elas estavam um caldeirão, a ponto de explodir”, lembra a diretora. No meio deste caldeirão, claro, estava a Escola de Dança, que em 1977 lança a Oficina Nacional de Dança Contemporânea, outro marco na história da dança no Brasil. Foi um projeto inovador que aconteceu anualmente, durante 20 anos, e que promoveu encontros memoráveis. Passaram por lá artistas de todo o Brasil, como Célia Gouveia, Graciela Figueroa e João Saldanha.


A oficina Nacional de dança contemporânea

De acordo com um documento oficial datado de 1988 sobre a Oficina, ela:

“tem como objetivo principal aglutinar grupos de dança que estejam realizando a pesquisa de uma nova linguagem,
onde a forma e o conteúdo sejam significativos para o homem de hoje. Este evento anual se distancia da filosofia 
dos principais festivais de arte do País: primeiro, por se tratar de uma amostragem do novo, logo pouco conhecido, 
através da participação de grupos que não pertencem ao círculo pequeno e elitista dos consagrados; segundo, por desenvolver 
uma série de cursos que visam a atualização dos profissionais, não só na área técnica, mas também no desenvolvimento do 
potencial criativo coreográfico; e, finalmente, por realizar seminários e debates onde a atuação crítico/teórica do 
profissional é estimulada.  Estes itens vêm ao encontro das necessidades de uma área pouco atendida pelos órgãos oficiais,
detectada através da falta de apoio à produção de grupos emergentes (…)”


Anos 2000: novos passos em direção ao pensamento em dança

Passado o período de redemocratização, a Escola de Dança entra num limbo. Em 1987 é criado o curso de pós-graduação latu senso em Coreografia numa parceria com a Escola de Teatro, mas ele não é suficiente para os objetivos da Escola. No entanto, no ano seguinte há uma espécie de intervenção e uma diretora não eleita por voto é nomeada. “O objetivo era dar um salto de qualidade e chegar ao doutorado, mas a Escola sofreu muito com essa atitude, que envolveu questões políticas”, admite Dulce.


Ainda firme no intuito de formar pensadores e pesquisadores de alto nível em dança, em 2003, a Escola apresenta ao Programa de Qualificação Institucional (PQI) da Capes proposta de um doutorado e de um programa de pós-graduação. O Programa de Pós-Graduação em Dança (PPGD) surge em 2006, no ano do cinquentenário da Escola, causando uma revolução no meio acadêmico. “Muita gente começa a vir para a Bahia para estudar. Somos um centro de referência, pois temos muitos grupos de pesquisa distintos. É uma escola que está bem na arquitetura universitária. Temos importância, voz”, diz Dulce, que agora se vê às voltas com a reforma e ampliação do prédio da escola como novo presente. Diante de toda essa carga de história que guarda a Escola de Dança da UFBA, não é exagero dizer que no mapa da dança brasileira, muitos dos caminhos passam por Salvador.


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